Gomas para beleza, cabelos e líbido. Nutricionistas pedem cautelas e deixam alertas

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[Fotografia: Pexels/ Pixabay]

Coloridas, doces, saborosas e, sobretudo, fáceis de ingerir e divertidas de incluir no dia-a-dia. As ‘gomas nutricionais’ conquistam, à semelhança das infantis, as simpatias de todos e vendem-se cada vez mais em toda a parte, com especial incidência no online e nas redes sociais.

Mas, afinal, o que são e cumprem mesmo o que dizem? Neste momento, é possível encontrar suplementos vitamínicos desta natureza e com estas texturas que dizem garantir ora uma pele mais saudável, ora um crescimento capilar mais rápido e robusto e até existem as que anunciam aumentar a líbido.

Confrontada com esta realidade pela Delas.pt, a Ordem dos Nutricionistas informa, por escrito que “o consumo de ‘gomas nutricionais’, cujos benefícios são propagados em publicações disponíveis online, pode acarretar riscos para a saúde”. Por isso, a mesma fonte oficial diz ser “essencial procurar fontes fidedignas de informação, não nos deixando influenciar por todas as partilhas que ocorrem numa determinada publicação”. De entre as recomendações, a Ordem pede para que “quem pretende fazer suplementação nutricional deve procurar ajuda de um profissional de saúde, em particular do nutricionista, que irá implementar estratégias de orientação nutricional e definir uma abordagem individualizada, com vista a reforço do bem-estar físico ou, se for o caso, promover uma perda de peso saudável”.

Ao detalhe, a nutricionista e Professora Auxiliar Convidada na NOVA Medical School, Gabriela Ribeiro, lembra a importância de “o consumo [das gomas nutricionais] deve ser realizado tal como qualquer outro suplemento alimentar, ou seja, mediante a necessidade individual, e preferencialmente supervisionada por um profissional de saúde, em oposição ao seu consumo indiscriminado”.

Segundo a especialista, trata-se de “suplementos alimentares constituídos por vitaminas, minerais, pré, pró-bióticos ou outros compostos, na forma mastigável” podendo, “alegadamente oferecer uma experiência mais agradável devido ao facto de serem mais fáceis de engolir e apresentar um aroma e sabor mais agradável”. Porém, não deve ser descartado o acompanhamento médico.

“Erosão dentária”, “obesidade e diabetes” e “perturbação digestiva”

Os benefícios destas gomas nutricionais dependem, como explica a nutricionista doutorada em Neurociências pela Faculdade de Medicina de Lisboa, “da sua composição, tal como se verifica para qualquer outro suplemento alimentar (assumindo que a biodisponibilidade dos compostos é equivalente à dos comprimidos tradicionais)”.

Mas há desvantagens. Entre elas, Gabriela Ribeiro alerta para o risco de “as ‘gomas nutricionais’ poderem apresentar açúcar ou adoçantes artificiais na sua constituição. Em alguns casos os adoçantes artificiais são substituídos por ácido cítrico que, por sua vez, pode causar erosão dentária”. E acrescenta: “O consumo excessivo de açúcares refinados, para além de levar à formação de cáries, está associado a maior risco de obesidade, diabetes Mellitus tipo 2, entre outras doenças crónicas. Adicionalmente, os polióis, que frequentemente são utilizados nas ‘gomas nutricionais’ como substitutos do açúcar, quando consumidos em excesso causam perturbações digestivas, tais como náusea, inchaço e diarreia.”

O que fazer quando comprar?

Para a especialista, “mais do que se focarem nas alegações sobre os potenciais benefícios para a saúde do produto, os consumidores devem consultar a composição nutricional do mesmo”.

Gabriela Ribeiro pede para que quem compra “tente perceber que compostos específicos estão presentes e em que quantidades (por exemplo, em que percentagem do valor diário de referência definido pela União Europeia, geralmente apresentado no rótulo). Isto é particularmente importante tendo em conta que muitos destes compostos estão naturalmente presentes nos alimentos e, adicionalmente são sobreponíveis a diferentes suplementos alimentares, incluindo as ‘gomas nutricionais’, o que pode contribuir para risco de toxicidade por excesso de determinados compostos”.

Gabriela Ribeiro é nutricionista e Professora Auxiliar Convidada na NOVA Medical School I Faculdade de Ciências Médicas da Universidade NOVA de Lisboa. Desenvolveu trabalho pós – doutoral na APC Microbiome Ireland (University College Cork) sobre o impacto de intervenções dietéticas na modulação do eixo intestino – cérebro e o seu impacto na função cognitiva e humor [Fotografia: DR]
Por fim, importante vincar que este tipo de produtos, classificado como suplementos alimentares, é regulado pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV). Esta entidade “assegura que as reações adversas são registadas e têm o devido seguimento”, explica a nutricionista e professora universitária. A DGAV disponibiliza um formulário para notificação de reações adversas que, depois de preenchido, deve ser remetido para o endereço de correio eletrónico da entidade.