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Gravidez: Limitações na pandemia “agravaram até a instabilidade de algumas famílias”

[Fotografia: iStock]

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30Com a pandemia provocada pela covid-19 a estar cada vez mais sob controlo, a vida vai regressando à normalidade. Quem esteve grávida ou fez parto em tempo de confinamento e de grandes restrições conheceu, muitas vezes, o distanciamento dos pais devido às restrições impostas, o que teve efeitos quer na saúde de quem gera, quer quem a acompanha.

Ao Delas.pt, a coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna, Inês Palma dos Reis, revela o que mudou e o que está a regressar lentamente à normalidade.

Inês Palma dos Reis, coordenadora adjunta do Núcleo de Estudos de Medicina Obstétrica da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna [Fotografia: DR]

Os receios, as angústias, a instabilidade, a crise económica, a saúde, o risco de infeção e como todos estes fatores mexeram com a chegada de um bebé.

Que implicações da pandemia COVID-19 identifica no que respeita à maternidade?

A pandemia COVID-19 trouxe enormes desafios a todos os níveis. As grávidas receiam, naturalmente, pela sua segurança e pela segurança dos seus bebés e muitas famílias terão mesmo decidido adiar os planos de crescimento, seja pelos eventuais riscos de vida, complicações da infeção, seja pela incerteza financeira e toda a instabilidade inerente à evolução pandémica. As taxas de fecundidade e natalidade diminuíram em Portugal e em outros países do sul da Europa. Logo no início da pandemia, as grávidas ficaram ansiosas, todos receamos as implicações do vírus, da medicação e dos isolamentos impostos na gravidez, nos bebés e nas mães. A pouco e pouco tem surgido evidência de que o vírus pode infetar as grávidas e até ser transmitido in-útero e peri-parto, mas não parece causar malformações. A infeção na grávida pode variar de assintomática a muito grave e está associada a maior risco de parto prematuro.

Que preocupações lhe têm apresentado recentemente as mães que recebe no seu consultório? As mulheres são hoje mães mais ansiosas por culpa da pandemia?

No início da pandemia as grávidas estavam muito ansiosas, presentemente já parecem novamente mais adaptadas à pandemia e com a ansiedade “habitual” da gravidez.

A pandemia obrigou as mães a serem mulheres mais…

… cuidadosas (para evitar o contágio) e proativas, para garantirem a sua vigilância atempada, nos cuidados de saúde sobrecarregados e menos acessíveis.

Muitas grávidas tiveram de fazer exames sem os companheiros por perto. O que notou?

Por questões logísticas e de segurança para todos, desde cedo na pandemia, foram implementadas restrições às visitas, acompanhantes nos hospitais e à testagem antes de muitos procedimentos e internamentos programados. Muitas mães COVID positivas à data do parto foram mesmo separadas dos seus recém-nascidos e algumas mulheres terão perdido vigilâncias cruciais na gravidez para evitarem risco de exposição ao vírus ou pelo receio destas imposições. Estas restrições, essenciais nos períodos de maior afluência aos cuidados de saúde para que as vigilâncias fossem asseguradas, privaram muitos pais, famílias de acompanhar os resultados dos exames, parto e primeiros dias dos bebés. Estas limitações agravaram a insegurança das mães e até instabilidade de algumas famílias.

Que feedback tem ouvido das grávidas no que concerne às regras de prevenção e segurança impostas nos hospitais em consequência da pandemia Covid-19?

Da minha experiência as grávidas aceitam bem a necessidade de testagem e a limitação das visitas nos internamentos, mesmo após o parto; não aceitam bem a separação do recém-nascido nem aceitam bem quando não lhes é permitido um acompanhante no parto ou em exames/decisões críticas, felizmente situações presentemente já raras. As mulheres parecem-me conformadas com as limitações impostas pela pandemia e expressam pouco o seu eventual descontentamento, revolta, incompreensão por não poderem nomeadamente contar com a presença do companheiro na realização de ecografias e outros exames relativos ao decorrer da gravidez.

E quanto à impossibilidade de o parceiro assistir ao parto, ouviu queixas por parte do pai?

Não recebi queixas diretamente dos pais, mas ouvi vários protestos das mães pela perda da oportunidade única de partilha do parto e nascimento com o parceiro.

Relativamente à vacinação e efeitos na grávida, quais as reações mais comuns à vacina?

Conforme vai surgindo evidência da segurança das vacinas contra o coronavírus vamos tendo mais grávidas vacinadas em todo o mundo. Os efeitos secundários reportados pelas grávidas, depois das vacinas, têm sido semelhantes aos da população geral (dor local, mal-estar ligeiro), não tendo sido associadas a maior risco de tromboembolismo ou outras complicações graves da mãe ou do bebé. Enquanto aguardamos pelos resultados dos estudos internacionais, a longo prazo, temos tido mostras de eficácia (protegendo pelo menos a mãe de infeção COVID grave). Todos precisamos de nos adaptar e viver melhor com a nova realidade e as infeções emergentes, a segurança e vigilância médica dos mais frágeis é imperiosa. Mesmo com todas as incertezas e adaptações necessárias, mesmo com o impacto prolongado que esta pandemia terá no mundo, os bebés são a esperança, os bebés são o futuro.