Livro de Hana Ali revela memórias da infância com o pai, Muhammad Ali

“Eu vinha da escola e encontrava famílias sem-abrigo a dormir no nosso quarto de hóspedes”. Esta é uma das memórias que Hana Ali, filha do lendário pugilista Mohammad Ali, falecido em 2016, partilha num livro de memórias sobre o pai, intitulado ‘At Home with Muhammad Ali: A Memoir of Love, Loss and Forgiveness’ (‘Em Casa com Muhammad Ali: Uma Memória de Amor, Perda e Perdão’, traduzindo para português).

Ainda sem edição em Portugal, o livro foi colocado à venda, na Amazon, no início deste mês e não é o primeiro que Hana Ali, filha de Veronica Porsche, a terceira mulher do pugilista, escreve sobre o pai. Mas esta obra, que inclui várias fotos de família, surge como o mais pessoal até à data. Um retrato íntimo e uma dedicatória de amor da filha ao pai, que explora desde as memórias de um infância feliz, ao afastamento com o divórcio dos pais, no final dos anos 80, embora sempre se tenha mantido próxima de Muhammad Ali.

O pugilista teve nove filhos ao todo, de diferentes mulheres. Com a mãe de Hana teve duas filhas – Hana, a mais velha, e Laila, que se tornou pugilista profissional e foi campeã na modalidade. “Apesar de as nossas histórias divergirem, partilhamos o facto de ao longo das nossas vidas o nosso pai nos ter envolvido em amor incondicional e afeto”, escreve no livro, cujos excertos partilhou com o jornal britânico Daily Mail, no início de setembro, em antecipação ao lançamento da obra.

Nessa pré-publicação das suas memórias, Hana Ali lembra o lado generoso do pai, que acolhia famílias carenciadas que viviam na rua, ao mesmo tempo que a sua casa era morada aberta para as estrelas da pop da época, como Michael Jackson, John Travolta, Sylvester Stallone, Clint Eastwood, Tom Jones, Cary Grant, Kris Kristofferson, Lionel Richie, que eram visitas frequentes.

Muhammad Ali, conta Hana, gostava de pessoas e não fazia distinções. “Ao contrário de outras celebridades, que sentem que as pessoas se estão a intrometer nas suas vidas, o meu pai gostava desse contacto. Ele dispensava regularmente os seguranças e interagia livremente com as multidões. O amor dele pelas pessoas era extraordinário”, descreve.

Por isso, Hana Ali recorda as ocasiões em que encontrava sem-abrigo a dormirem em sua casa. “Ele via-os na rua, encostados ao seu Rolls-Royce e trazia-os para casa. Comprava-lhes roupas, hospedava-os em hotéis e pagava a conta de vários meses de avanço. Costumava sentar-me ao seu colo, olhar nos meus olhos e dizer: Hana, se puderes evitar que o coração de alguém se quebre, não terás vivido em vão.”

Capa do livro de Hana Ali, que desfia memórias de infância com o pai, Muhammad Ali [DR]
Essas não são as únicas memórias que guarda da casa onde viveu com os pais ainda casados. A visão do pai sentado na cadeira do escritório, com a porta aberta, enquanto ela brincava no chão, a família reunida na mesa das refeições, as histórias de embalar e os beijos ao acordar são algumas das lembranças partilhadas – e comuns a tantos outros pais e filhas mundo fora. Já um pugilista de renome mundial a fazer tranças no cabelo da filha, talvez não seja uma imagem que se imagina com frequência. Mas era o que acontecia com Muhammad Ali quando estava em casa e ajudava a preparar Hana para a escola.

“Lembro-me de ele me tentar fazer totós no cabelo antes de eu ir para a escola e ir até lá comigo, levando os dois totós irregulares. Eu tinha orgulho nos meus totós tortos (…) Ele fazia sentir-me como se fosse a menina mais especial do mundo”.

Quando os pais se divorciaram, Hana mudou-se de Los Angeles para Fremont, com a mãe e as irmãs, mas o pai sempre juntou os filhos, e outras das memórias que Hana Ali partilha no seu novo livro é a de Muhammad Ali as levar a dar longos passeios no seu Rolls Royce descapotável, por Los Angeles, antes de se mudar para o estado do Michigan.

Os pais separaram-se quando Hana Ali tinha 10 anos e o “conto de fadas”, como a própria diz, “acabou”. “Durante anos não quis outra coisa senão desfazer os erros cometidos pelo meu pai e curar as feridas dos meus pais, especialmente do meu pai porque acreditava que ele era quem tinha sofrido mais. Numa tarde de 2014, quando o fui visitar, olhei para ele sentado tranquilamente no seu cadeirão de pele, sorrindo enquanto olhava para a sua imagem [num combate] em jovem, na televisão”.

Hana Ali, atualmente com 46 anos, seguiu os passos da mãe, que diz ter sido o grande amor de Muhammad Ali. A escritora e colaboradora da CNN é casada com o pugilista Kevin Casey.

Para o livro ‘At Home with Muhammad Ali: A Memoir of Love, Loss and Forgiveness’, Hana recorreu às suas memórias, mas também a gravações áudio do pai e a cartas de amor. Apesar de ainda não haver edição em português, a versão original, em inglês, está disponível no site da Amazon.

O adeus a Muhammad Ali