Mulheres jovens com trabalho mais temporário em tempo de covid-19

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[Fotografia: Helena Lopes/Pexels]

Os jovens são as principais vítimas no mercado de trabalho durante o período da pandemia do novo coronavírus, apurou um estudo do Observatório das Desigualdades, do Centro de Estudos e Investigação em Sociologia (CIES).

O estudo intitulado Desemprego e Precariedade Laboral na População Jovem: Tendências Recentes em Portugal e na Europa e assinado por Inês Tavares, Ana Filipa Cândido e Renato Miguel do Carmo, aponta também desigualdades entre géneros.

“No geral, verifica-se que nos países da União Europeia a 27, tendencialmente, as mulheres jovens têm proporcionalmente mais contratos temporários e trabalham mais em part-time do que os homens“, lê-se na nota inicial do estudo.

Olhando para a realidade portuguesa, a análise nota que “46% das jovens mulheres estão involuntariamente nesta situação face a 41% dos homens“.Os investigadores destacam que “a razão prestação de cuidados a adultos com incapacidades ou crianças aumentou entre 2019 e 2020 (mais 1.1 p.p.), igualmente no caso das mulheres. Os homens não apresentam dados referentes a este motivo. A razão doença ou incapacidade do próprio também registou um aumento de cerca de 2 p.p.”.

Inês Tavares, Ana Filipa Cândido e Renato Miguel do Carmo realçaram ainda que “os jovens que se encontram nestas situações (trabalho a tempo parcial) involuntariamente aumentaram”, em termos percentuais.

Salientaram ainda que “Portugal é o quinto país com os maiores níveis de trabalho temporário involuntário entre os jovens e o sétimo com mais jovens a trabalhar em ‘part-time’ por falta de alternativas”.

O duo desemprego e ensino e os efeitos sobre as mulheres

 

A equipa de análise que elaborou o estudo estabelece paralelos entre desemprego e níveis de ensino e de como estes fatores se fazem demonstrar no caso das mulheres. Os autores começam mesmo por vincar que “o fosso entre homens e mulheres está a acentuar-se, representando no 1º trimestre de 2021 uma diferença de 11,8 p.p.” Na análise lê-se que “os jovens mais afetados pelo desemprego são os que possuem o ensino básico (29,9% de taxa de desemprego), sendo que as mulheres com o ensino básico representam um segmento especialmente preocupante (42,3% de taxa de desemprego). Os homens com o ensino secundário parecem ser os que são menos afetados pelo desemprego (13,6% de desemprego)

“As mulheres com o ensino superior, independentemente do escalão etário, apresentam níveis de emprego superiores aos homens: nos 15-24 anos, respetivamente, 43,5% face a 34,5%; nos 25-29 anos, 84,5% face a 74,8%. Nos restantes níveis de qualificação, os homens continuam a revelar níveis de emprego superiores”, vinca o relatório, que pode ser lido original aqui.

Desemprego jovem a subir em Portugal e na Europa

Estes investigadores do CIES, estrutura do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, apontaram que “em 2020, na Europa e em Portugal, verificou-se um aumento do desemprego jovem, relativamente a 2019, mais 1,7 pontos percentuais (pp) e 4,3 pp, respetivamente”. Sobre Portugal, detalharam que a taxa de desemprego para os jovens com menos de 25 anos era de 22,6%, mais 5,8 pp que a média da União Europeia e 15,7 pp que a nacional.

Mas este aumento também se verificou em termos absolutos, algo que não se passava desde 2013 em relação ao grupo com menos de 25 anos e desde 2012 no grupo etário 25-34 anos.

Em suma, o desemprego jovem aumentou, e aumentou acima do que se verificou nos outros grupos etários, o que se traduziu no agravamento do seu peso relativo, tendência que, aliás, já se verificava desde 2018. Para mais, “em 2020 constata-se uma inversão da tendência de decréscimo do desemprego”, que se verificava nos últimos anos, apontaram.

Da mesma forma, a percentagem de jovens que não estuda nem trabalha, que estava em queda desde 2013, inverteu a tendência e aumentou em 2020.

Por outo lado, o grupo entre os 15 e os 24 anos foi o mais afetado no trabalho temporário, com a maior parte dos Estados membros da UE a registar uma diminuição da proporção de jovens nesta situação, em 2019 e 2020. Em Portugal, a baixa foi de 10 pp, para 56%. Só Espanha (69%) e Itália (59%) tinham números superiores.

Mas esta redução percentual de jovens com contratos a prazo relaciona-se com o aumento do desemprego, apontaram os investigadores. O grupo 15-24 anos é aquele que tem uma incidência do trabalho a tempo parcial mais elevada, quando comparado com os outros, com cerca de 20%.

Carla Bernardino com Lusa