Papa Francisco: “Na administração da Igreja faltavam mulheres”

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[Fotografia: Instagram oficial franciscus]

“Na administração normal da Igreja faltavam mulheres”, reconheceu o Papa, na segunda parte da entrevista à TVI e CNN Portugal concedida em agosto no Vaticano.

Segundo salientou o sumo pontífice, a entrada de mulheres na Cúria não é uma “moda feminista”, mas sim um “ato de justiça que, culturalmente, tinha sido posto de lado” na Igreja Católica.

O Papa adiantou ainda que o reforço da presença das mulheres na Igreja já “vem dos últimos 20, 30 anos e lentamente vai-se implementando”. Em janeiro do ano passado, o Papa Francisco mudou o Código de Direito Canónico autorizando as mulheres leigas a ler a palavra de Deus, a ajudar no altar durante as missas e a distribuir a comunhão, deixando de fora a possibilidade do sacerdócio. Porém, formalizou assim algo que já acontecia na prática, deixando de lado a ordenação de mulheres, o que causou polémica à data.

Dois anos anos, em julho de 2019, a especialista em assuntos femininos na Igreja, investigadora e professora em Religião, nos Estados Unidos da América, Phyllis Zagano, acusava, em entrevista ao Delas.pt, os “ignorantes” da Igreja por estarem a travar um direito que as mulheres tiveram até ao século XII: o de serem ordenadas diáconos. Sendo um dos 12 elementos que compuseram a Pontifícia Comissão para o Estudo do Diaconado das Mulheres, criada em maio em 2016 pelo Papa Francisco, Zagano ia mais longe e afirmava: “Acho que as mulheres diácono nas sacristias teriam travado uma grande parte da pedofilia, eles não teriam incomodado as crianças“.

Porém, o Papa Francisco deixou mesmo de fora a possibilidade de as mulheres vieram a exercer o sacerdócio. Neste “motu proprio” é revisto o documento de São Paulo VI “Ministeria quedam” (1972), que só permitia aos homens receber os ministérios do Leitorado e do Acólito. O leitor é responsável pela leitura da Palavra de Deus nas cerimónias, enquanto o acólito auxilia o diácono e o sacerdote no altar e também pode distribuir a comunhão, entre outras funções.

Em julho de 2022, o Papa nomeou três mulheres como membros do Dicastério (ministério) para os Bispos, uma decisão alinhada com a sua intenção de dar maior visibilidade e liderança às mulheres na estrutura dentro da Igreja, informou na altura o Vaticano.

Francisco apontou o exemplo das nomeações que fez, recentemente, para o Conselho para Economia do Vaticano, composto por seis cardeais e seis laicos e presidido por um cardeal.

Na nomeação de há três anos, nos seis cargos dos laicos nomeei cinco mulheres e um homem. Isso não se sabe e começou a funcionar melhor porque a mulher sabe administrar noutro tipo de coisas“, afirmou o Papa Francisco, ao salientar que a vice-governadora do Vaticano é também uma mulher.

Relatou também a sua “experiência pessoal” nessa matéria, sublinhando que os “relatórios mais maduros” que recebia para conferir a ordenação como sacerdotes aos seminaristas “eram elaborados por mulheres dos bairros onde eles iam trabalhar na paróquia”.

“Fátima deixou-me mudo”

Na mesma entrevista, o Papa abordou ainda a sua visita a Fátima, em 2017, ao sublinhar que foi educado pela família “na devoção de Maria”.

“Eu sou Mariano, gosto muito da Virgem, mas em Fátima senti outra coisa. Fátima deixou-me mudo. Fátima é a Virgem do silêncio para mim. E para mim, Portugal é Fátima. Que não se zanguem os portugueses, mas é a minha experiência”, referiu.

Sobre o seu quotidiano, o chefe da Igreja Católica adiantou que se levanta cedo e que às “dez da noite” já está a dormir.

“Levanto-me às quatro horas, faço as orações. Às vezes celebro a missa a essa hora ou, quando não tenho, mais tarde. Depois começa o trabalho. Durmo seis horas”, referiu.