Spice Girls: t-shirts pela igualdade feitas em fábrica onde mulheres recebem 40 cêntimos à hora

As Spice Girls regressam à estrada este ano. A par da nova tour, o grupo britânico começou a vender t-shirts que, à frente, têm a hashtag “#IWANNABEASPICEGIRL”(Quero ser uma Spice Girl, em tradução literal) e, atrás, dizem “justiça de género”.

O objetivo é defender a igualdade das mulheres e angariar fundos para a Comic Relief, uma instituição de solidariedade britânica que recorre ao humor para combater a miséria. Mas, ironicamente e segundo uma investigação do jornal britânico The Guardian, as camisolas são produzidas numa fábrica no Bangladesh onde as mulheres recebem 40 cêntimos à hora.

Salma, que tem cerca de 20 anos e aceitou prestar declarações para este trabalho jornalístico sob nome fictício, é uma das mulheres que trabalha em condições desumanas na fábrica que fica a três horas de carro de Dhaka. Começa a trabalhar às 8.00 horas e, na maioria dos dias, só termina à meia-noite. Nem sequer conhece a girls band mas sabe que, se não atingir o objetivo “impossível” de produzir duas mil peças por dia, será maltratada pelos chefes. Tudo isto para receber apenas cerca de 90 euros por mês.

“Se é dado um objetivo de produção a alguém e essa pessoa não cumpre, há grandes probabilidades de ser repreendida verbalmente. Ela até pode ser chamada ao escritório do gerente de produção. Às vezes usam linguagem mais obscena, como chamar-nos ‘khankir baccha’ (filha de uma prostituta) e muitos mais nomes que nem sequer posso dizer”, explicou Salma, através de um tradutor.

“Às vezes, muitas mulheres não suportam os insultos, a pressão da gerência e desistem.”

No Reino Unido, as t-shirts desta campanha das Spice Girls estão a ser vendidas por 19,40 libras (21,97 euros). Quase metade do que Salma paga pela casa modesta em que vive: 52,43 euros por um quarto minúsculo que partilha com o marido e o filho de 7 anos, um fogão e uma sanita, que é apenas um buraco no chão. O pouco que sobra do seu ordenado e do marido tem de dar para pagar a comida, eletricidade e despesas médicas.

“Às vezes, muitas mulheres não suportam os insultos, a pressão da gerência e desistem. No mês passado alguns dos meus colegas foram embora porque foram muito maltratados e ficaram destruídos”, revelou a mulher.

Mesmo que estejam grávidas, as mulheres são obrigadas a fazer horas extras. Nem que passem as 16 horas de trabalho diário a chorar. Os patrões não querem saber (percorra a galeria de imagens acima para ver as celebridades, e alguns anónimos, que estão a apoiar a campanha das Spice Girls e que já vestiram a polémica t-shirt).

“Conheci uma trabalhadora que estava grávida e foi obrigada a fazer o turno da noite, além das suas horas regulares. Esteve a chorar o tempo todo. Uma vez ela estava a vomitar e disse que não se estava a sentir bem. Ainda assim foi forçada a trabalhar até tarde. Deixou o trabalho no dia seguinte por causa do incidente”, recordou Salma.

“A enorme carga de trabalho coloca muita pressão sobre os trabalhadores. Às vezes caem das cadeiras.”

O ritmo de trabalho intenso tem-se refletido na saúde dos trabalhadores. É comum verem-se pessoas a desmaiar na fábrica, especialmente durante o verão, quando está mais calor.

“A enorme carga de trabalho coloca muita pressão sobre os trabalhadores. Às vezes caem das cadeiras. Acontece todos os meses. É por causa da carga de trabalho e por não dormirem corretamente”, afirmou a trabalhadora.

Em reação à investigação do jornal britânico, um porta-voz das Spice Girls disse que todos os membros da banda estão “profundamente chocados e horrorizados” e vão financiar, pessoalmente, uma investigação sobre as condições de trabalho da fábrica.

Tal como a banda, os responsáveis pela Comic Relief também se mostraram “chocados e preocupados”. No entanto, a Interstoff Apparels, empresa responsável pela fábrica, limitou-se a dizer que as denúncias “simplesmente não são verdade”.

Já são conhecidas as datas da tour das Spice Girls