Deixem lá, somos melhores alunas na mesma

Os livros de fichas de atividades da Porto Editora são discriminatórios? São. A comparação que o jornal Público faz na edição de hoje demonstra que “existem seis [exercícios] cuja resolução é mais difícil no livro dos rapazes e três que apresentam um grau de dificuldade superior no das meninas”. Há também o preconceito do rosa para menina e do azul para menino e todas as representações de género estereotipadas: as eternas princesas e os senhores engenheiros.

Carla Macedo, editora executiva do Delas.pt

Apesar destas representações machistas, que até põem a causa a igualdade de capacidade intelectual, em Portugal os dados do Programme for International Student Assessment (PISA) de 2012, mostravam que eram 14% os rapazes que se mostravam incapazes de resolver problemas de matemática, leitura e ciência, contra 9% das raparigas. E um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) de 2015 demonstra que os rapazes são mais propensos ao insucesso escolar.

Em 2015, é também publicado um estudo da Faculdade de Psicologia Universidade do Missouri, nos EUA, em que através da análise estatística de resultados do PISA a nível internacional, se descobre que as raparigas têm melhores resultados em todas as áreas do saber, matemática e ciências incluídas. Neste Sex differences in academic achievement are not related to politica, economic, or social equality (“As diferenças de género nos resultados académicos não estão relacionados com igualdade política, económica ou social”) pode ler-se que as raparigas superam os rapazes em 70% dos países que participam no PISA, incluindo aqueles que têm grandes desigualdades, e que só ficaram atrás deles em 4% dos países.

Vamos falar das Universidades portuguesas? 59,3% dos licenciados em Portugal são mulheres, há mais de 20 anos que elas são a maioria dos alunos, elas acabam em maior número o Ensino Superior. Apesar do rosa e dos vestidos compridos, no batente que são os exames, as mulheres saem-se melhor.

O que é que está mesmo a limitar a igualdade entre géneros? Os salários. Apesar do investimento de cada família, de cada mulher e do Estado português, continuamos a ter os profissionais mais preparados a ganhar menos (ao fim de dois anos no mercado de trabalho as alunas da Católica ganham menos 25% do que os rapazes, de acordo com declarações de Isabel Viegas) e por isso mesmo a chegar mais tarde à liderança ou até nunca liderar. Considero eu como consequência direta da diferença salarial ao longo de toda a carreira.

Voltando aos livros de exercícios: quando o pai for buscar a filha à escola, levá-la ao médico, porque a mãe tem tanto direito a ganhar bem como ele, chegar a casa tarde no seu carrão da empresa, aí provavelmente as representações de género mudam mesmo. Mas isso não depende só das mulheres ou da organização doméstica. Depende também das empresas, que devem dar as mesmas oportunidades a homens e mulheres, e depende do Estado, que de uma vez por todas tem de ilegalizar que uma prática comum: o trabalho igual remunerado com salário diferente.