Cabeleireira dos famosos: “Abusámos do Estado, mas foi em prol dos que trabalham comigo”

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[Fotografia: Ricardo Castelo/Arquivo Global Imagens]

Mais de duas semanas depois do início do julgamento de Inês Pereira, conhecida cabeleireira dos famosos, por evasão fiscal e por ter lesado o estado em 1,8 milhões de euros, a empresária revelou ao coletivo de juízes do Tribunal do Porto que só o fez para “ajudar” os funcionários.

“Abusámos do Estado, mas foi em prol dos que trabalham comigo”, justificou a cabeleireira, alegando que os trabalhadores pediam para receber dinheiro por fora. Ao fazê-lo a empresária garantiu, em audiência nesta quarta-feira, 18 de outubro, que o objetivo era “ajudá-los”.

Inês Pereira está acusada de crimes de fraude fiscal qualificada e branqueamento de capitais com os quais terá lesado o Estado, num esquema que estaria montando com o agora ex-marido, Fernando Pereira, a filha, Inês Catarina Pereira e o filho, Ricardo Pereira, que também estão a ser julgados.

Com José Castelo Branco, Betty Grafstein e Maria Manuel Cyrne [Fotografia: Ricardo Castelo/Arquivo Global Imagens]

De acordo com o Ministério Público, a empresária e a família são suspeitos de terem organizado “ao longo de anos de atividade de forma a concretizarem esquemas para a não declaração de rendimentos, que visaram unicamente a omissão contabilística e fiscal de parte substancial dos rendimentos obtidos nas diferentes lojas do grupo”.

Ao todo, o processo tem 16 arguidos, entre funcionários do grupo, ex-funcionários, sociedades empresariais e pessoas ligadas à família da cabeleireira.

Ao Tribunal, uma das arguidas e ex-rececionista numa das lojas de Inês Pereira, explicou como funcionava o registo a e apuramento do trabalho diário dos cabeleireiros: “Em 2014 quando regressei à loja da Boavista foi-me explicado que tinha que colocar num envelope uma ficha de caixa com tudo o que fosse pago por multibanco e com tudo pelo qual pedissem faturas, e num outro envelope uma ficha com tudo o que fosse pago em dinheiro e não tivesse sido pedida fatura“, explicou Vera Lúcia, ex-funcionaria do grupo entre 2001 e 2019.

Esta quarta-feira, o ex-marido admitiu no tribunal ter “orquestrado este esquema dos envelopes”, corroborando o que também foi dito por Inês Pereira, alegando que servia para ajudar os trabalhadores que “não queriam descontar dos 1500 euros que recebiam, pedindo para darmos por fora”.

Ao esquema dos envelopes juntava-se o do Multibanco que, segundo a acusação, era desligado para levar os clientes a pagarem em dinheiro. Segundo o Jornal de Notícias, tanto a cabeleireira como o agora ex-marido afirmaram ao tribunal que tal resulta de um “sistema de mercado é assim”, tendo apenas feito o que “muitas empresas fazem”.