Depressão de verão: porque ficamos deprimidas em agosto

iStock-1135544729(1)

Agosto é o mês de excelência das férias dos portugueses, mas é também um dos meses onde mais surge a famosa depressão de verão. Se já veio de férias e está com um feitio que ninguém a atura, o mais provável é padecer deste mal tão comum – que é a tristeza de o bom tempo e as férias se terem ido embora.

O Delas.pt já tinha reunido pelo menos sete dicas de como voltar ao trabalho sem stress, depois da pausa de verão. De entre os vários conselhos, dar tempo ao corpo para se readaptar à nova rotina ou planear e definir prioridades eram apenas dois deles.

Isto porque sabemos que os primeiros dias de setembro, principalmente, significam, para muitos, o regresso ao trabalho, às obrigações e à rotina. E ainda que o novo coronavírus tenha alterado um pouco as nossas prioridades e os nossos dias, isso não quer dizer que esta depressão não possa existir.

Dificuldades de concentração e ao acordar, bem como alguma desmotivação, ansiedade e saudosismo são alguns dos sentimentos comuns de quem tenta “arrancar” depois de uns dias ou semanas de lazer. Mesmo que ainda esteja em teletrabalho.

Este síndrome tão vulgar é uma espécie de stress acumulado após uma pessoa vir de férias e ter que, novamente, voltar à rotina de trabalho. E pode ser intensificado consoante o tempo de férias da pessoa em questão – duas semanas de férias custaram muito mais, por exemplo.

Segundo os especialistas abordados pela revista feminina S Moda, a tristeza que nos invade no verão deve-se ao facto de “procuramos felicidade em falsos mecanismos de recompensa”. Se, por um lado, a falta de sol no inverno deixa alguns deprimidos, por outro, a fugacidade do verão e das férias deixa outros depressivos.

Segundo Celia Martínez, psicóloga com especialização em perspetiva de género, entrevistada pelo meio de comunicação citado, “sentir-se deprimida durante o mês de agosto é mais frequente do que parece e, entre outras coisas, costuma estar relacionado a fatores fisiológicos, psicológicos e ambientais como calor, mudança de rotina ou dificuldade em adormecer”, explica.

Além do mais, a pressão que colocamos e nós mesmas sobre a forma como devemos aproveitar este momento de ócio e lazer acaba também por afetar o nosso ânimo. A necessidade de aproveitar ao máximo ou mesmo de nos compararmos aos outros é outro dos fatores que aumenta a depressão no mês de agosto – ou outros meses de calor e férias.

Seguindo essa ideia, Marta Sanmi, citada pelo mesmo meio, também admite sentir uma certa tristeza e nostalgia em agosto: “Os dias mais curtos lembram-nos de que o ciclo das aulas e do trabalho já está a chegar e é como que se de alguma forma a liberdade estivesse também a terminar”.

O verão, por norma, é sinónimo de cervejas na esplanada, dias que acabam de madrugada e um sem número de regras e limites que acabam por ficar desvanecidos. E ainda que a Covid-19 tenha alterado um pouco as voltas, a verdade é que as férias continuam sempre a ser significado de dias sem rotinas nem preocupações.

Esta realidade traz-nos uma infelicidade por não querermos voltar às nossas rotinas habituais, achando que não estamos preparadas para esse passo. Cada vez mais existe facilidade nas férias, desde hotel com tudo incluído passando por refeições sempre fora de casa, e esses pequenos prazeres, vistos como recompensas, acabam por interferir com a nossa realidade, fazendo com que fiquemos demasiado agarradas a isso.

“Se todos nos perguntássemos o porquê de trabalharmos, provavelmente a maioria diria que para viver bem. O problema é que perdemos o objetivo no meio do caminho, porque nos dizem que para viver bem temos que ter dois carros ou uma casa com piscina. E aqui está o engano. Trabalhamos mil horas para gastos absurdos que não são necessários e que nada têm a ver com felicidade. Se trabalho é vender tempo em troca de dinheiro, teríamos que parar para refletir e perguntar-nos quanto do nosso tempo estamos dispostos a vender? ”, Questiona Teresa Rendueles à S Moda.

Assim como durante o confinamento houve várias pessoas a sentir necessidade de comprar várias coisas para se sentirem mais felizes ou confortáveis, tentando quase que apagar a realidade à volta, o mesmo acontece no mês de agosto – valorizamos demais o que conseguimos comprar, focando-nos na ideia de que isso nos trará mais felicidade, em vez de simplesmente respirar e aproveitar o momento.

Setembro acaba, assim sendo, por ser um mês de recomeços. Mudanças de visual são, por exemplo e não raras as vezes, realizadas nesta altura quase como que num ritual oficial de uma nova rotina.

Mudanças de cidade, mudanças de emprego ou outras alterações drásticas na rotina são também, segundo vários estudos, tidas mais em consideração após as férias de verão.