Publicidade Continue a leitura a seguir

Dilma Rousseff: como a ‘presidenta’ do Brasil chegou aqui

Dilma Rousseff fotografada aos 23 anos, quando integrava a resistência armada contra a ditadura. Ela foi líder da guerrilha. Foi submetida a tortura e esteve três anos presa. Em 1980, ajudou a fundar o Partido Democrático dos Trabalhadores, mas em 2001 passou a integrar o Partido dos Trabalhadores (PT). (Reuters/Handout)
Dilma ganhou destaque na equipa do presidente Lula da Silva ao formular o plano do governo na área energética, tendo, em 2003, ocupado a pasta de Minas e Energia. Em 2005 substituiu José Dirceu na Casa Civil, na sequência de ter sido atingido pelo escândalo 'Mensalão'. Na imagem, de 2007, Dilma visita uma estação eólica em Osório, no sul do Brasil. (Foto: Jamil Bittar/Reuters)
Em Brasília e em fevereiro de 2009, a chefe da Casa Civil participa num encontro com os ministros das áreas sociais. Ainda nesse ano, Dilma Rousseff revelava que se submetera a tratamento contra um linfoma descoberto em exame de rotina. Fez sessões de radioterapia e quimioterapia e anunciou depois que estava curada do cancro. (Foto: Roberto Jayme/Reuters)
Em dezembro de 2009, Dilma Rousseff fala durante a cerimónia de abertura do Programa Nacional para os Direiros Humanos.(Foto: Roberto Jayme/Reuters)
Michel Temer, vice-presidente da República e responsável por ter unido e PMDB, é atualmente o sucessor mais importante no Palácio do Planalto. Em 2010, o presidente da câmara baixa em clima de boa disposição com Dilma Rousseff, então elemento da estrutura presidida por Lula da Silva. (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)
A então chefe do gabinete do presidente Lula da Silva divertia-se no Carnaval do Rio de Janeiro, em fevereiro de 2010. (Foto: Carlos Magno/Rio State Government/Handout/Reuters)
A 20 de fevereiro de 2010, Dilma Rousseff sorria enquanto se apresentava como candidata presidencial pelo PT, podendo vir a ser, então, a primeira mulher brasileira a desempenhar o cargo. (Foto: Roberto Jayme/Brasil)
Dilma Rousseff tornava-se, em novembro de 2010, na primeira mulher presidente do Brasil, com larga maioria com uma maioria. Tomou posse a 1 de janeiro de 2011. (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Em visita a Nova Iorque em setembro de 2011, Rousseff foi recebida pela então Secretária de Estado norte-americana e atual candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton. Na foto, a presidente do Brasil cumprimentava Michelle Bachelet, das Nações Unidas, aquando da participação na conferência 'Participação Política das Mulheres - Fazer da Questão de Género na Política uma Realidade'. (Foto: Jessica Rinaldi/Reuters)
Sem receio de brincar com uma bola de futebol, a Presidente do Brasil surgia, em abril de 2013, ao lado do governador da Baía Jacques Wagner na inauguração do novo estádio de Salvador, o Arena Fonte Nova. Este foi o terceiro estádio a ficar pronto para receber o Mundial de 2014.(Foto: Manu Dias/Bahia Government/Handout/Reuters)
Em Zurique, na Suíça, Dilma Rousseff posava ao lado do então presidente da FIFA Sepp Blatter (atualmente nas malhas da justiça por corrupção)numa cerimónia de antecipação do Mundial de 2014.(Foto: Thomas Hodel/Reuters)
Dilma Rousseff consegue, por uma magra diferença, ser reeleita para novo mandato como Presidente do Brasil, em outubro de 2014. A campanha foi muito alicerçada na redução recorde da pobreza que o PT tinha conseguido ao longo dos últimos 12 anos, e não tanto na crise económica em que o país estava a mergulhar. Na foto, Rousseff celebra com Lula da Silva. (Foto: Ueslei Marcelino/Reuters)
Com a sociedade completamente divida entre os que apoiavam e os que contestavam Dilma Rousseff e Lula da Silva, foram muitas as formas de manifestação encontradas pelo povo. Na imagem, cartazes de um protesto que pedia a destituição ('impeachment') da Presidente do Brasil. (Foto: Nacho Doce /Reuters)

Publicidade Continue a leitura a seguir

A noite deste domingo, 17 de abril, foi longa e terminou quando faltava ainda escutar alguns deputados. O pedido de abertura do processo de destituição de Dilma Rousseff, presidente do Brasil, foi aprovado na Câmara de Deputados por uma maioria de 2/3, ou seja, 342 votos. Passavam poucos minutos das três da manhã em Lisboa.

Enquanto isso, os brasileiros que contestavam ou que defendiam Dilma saíam à rua e faziam-se ouvir nas principais cidades do país.

Com o sim ao ‘impeachment’ aprovado (e sempre claramente à frente ao longo da votação), o processo segue agora para o Senado, onde precisa de maioria simples dos 80 deputados para passar. Com Dilma destituída, ela torna-se, nas suas próprias palavras, “carta fora do baralho” e sucede-lhe o vice-presidente, Michel Temer.

Esta madrugada, os cerca de 500 deputados (são 513 no total) declararam, um a um, o seu sentido de voto face à abertura do processo de afastamento de Rousseff do cargo de presidente do Brasil. E as razões alegadas para justificar duas posições tão distintas não foram, afinal, assim tão diferentes: Em Brasília, na Câmara dos Deputados, votou-se em nome da família, do futuro dos filhos, do passado, das várias regiões do Brasil, do povo e também em nome de Deus.

“Golpe”, mas também “corrupção” e “democracia” foram algumas das palavras mais repetidas nas alegações, muitas delas inflamadas, dos deputados federais, ao longo de cinco horas. Recorde-se que para travar o ‘impeachment’ bastavam 172 votos contra.

Neste pedido de destituição, a presidente do Brasil era acusada de promover o que foi apelidado de “pedaladas fiscais”, ou seja, a prática de atrasos nas transferências de dinheiro a bancos com o objetivo de melhorar as contas públicas. A chefe de Estado estava também acusada de ter assinado seis decretos que autorizaram despesas suplementares que não tinham recebido aprovação do Congresso.

Dilma Vana Rousseff nasceu a 14 de dezembro de 1947, em Belo Horizonte, e numa família abastada. Em 2010, era eleita a primeira mulher presidente do Brasil, apresentando-se como “a presidenta”. Foi reeleita em 2014, mas com uma magra vantagem (Foto: Ricardo Moraes/Reuters)

Em resposta em vídeo e por escrito, num artigo de opinião no jornal Folha de São Paulo, a chefe de Estado considerou tratar-se de “um pedido de ‘impeachment’ aberto sem que tenha cometido crime de responsabilidade”.

“Aliás, não cometi crime algum, de nenhum tipo”, escreveu Dilma Rousseff num artigo de opinião

Recorde-se também que a contestação nas ruas começou a subir de tom no início de março, quando Dilma Rousseff nomeou Lula da Silva, antigo presidente, para o cargo de Ministro de Estado da Casa Civil quando este estava a ser investigado na Operação Lava Jato.

A consequência mais imediata e prática daquela nomeação – que foi alvo de múltiplas providências cautelares e que ainda espera decisão de Supremo – faria, então, com que Lula ganhasse imunidade face à pelo juiz Sérgio Moro, responsável por liderar a investigação na primeira instância.