Doenças mais contagiosas e alterações climáticas? Sim, tudo a ver!

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[Fotografia: Pexels/Chokniti Khongchu]

Uma equipa de especialistas alertou esta quarta-feira, 20 de março, para o aparecimento de agentes patogénicos nocivos, apelando a uma maior sensibilização e preparação da medicina para lidar com o impacto das alterações climáticas na propagação de doenças.

Os autores do estudo, publicado no JAMA: TheJournaloftheAmerican Medical Association, pedem também à comunidade médica para atualizar a sua formação e tomar medidas para combater o aquecimento global. “Os médicos precisam de estar preparados para lidar com as mudanças no panorama das doenças infecciosas”, afirmou o autor principal do texto, George R. Thompson, realçando que “aprender sobre a ligação entre as alterações climáticas e o comportamento das doenças pode ajudar a orientar o diagnóstico, o tratamento e a prevenção de doenças infecciosas”.

De acordo com o também professor de medicina na Universidade da Califórnia, os médicos devem manter “um elevado índice de suspeita de doenças em movimento”.

“Penso que, com a melhoria da nossa compreensão da doença, haverá mais testes e, dessa forma, teremos menos casos”, referiu o especialista em doenças infecciosas, microbiologia e imunologia médica.

As doenças infecciosas podem ser provocadas por vírus, bactérias, fungos ou parasitas, sendo muitas delas transmitidas de animais para humanos ou entre humanos. Entre as doenças infecciosas, salientam, estão as doenças transmitidas por vetores (mosquitos, pulgas e carraças), como a dengue, a malária e o vírus Zika.

A alteração dos padrões de precipitação está a aumentar o alcance dos vetores e os seus períodos de atividade, segundo o estudo.

Invernos mais curtos e quentes e verões mais longos estão também associados a um maior número doenças transmitidas por vetores. “Estamos a assistir a casos de doenças transmitidas por carraças em janeiro e fevereiro”, observou o autor do estudo Matthew Phillips.

O investigador de doenças infecciosas no Massachusetts General Hospital e na Harvard Medical School referiu que “a época das carraças começa mais cedo e com mais carraças ativas numa área mais vasta”.

“O número de picadas de carraças está a aumentar e, com ele, as doenças transmitidas por carraças”, indicou. Também os mosquitos que transmitem a malária estão a expandir-se para norte devido às alterações climáticas. A alteração dos padrões de precipitação conduziu a um maior número de mosquitos e a uma maior taxa de transmissão da doença.

“Uma das coisas mais assustadoras que aconteceu no verão passado foram os casos de malária adquiridos localmente [nos Estados Unidos]. Vimos casos no Texas e na Florida e depois a norte, em Maryland, o que foi realmente surpreendente. Aconteceu com pessoas que não viajaram para fora dos Estados Unidos”, lembrou.

As alterações nos padrões de precipitação e na temperatura da água costeira também podem afetar a propagação de doenças transmitidas pela água, como a E. coli e o vibrião colérico.

O estudo apontou também para o aparecimento de novas infeções fúngicas, como a Candida auris (C. auris), e para alterações na localização de alguns agentes patogénicos fúngicos.

Os especialistas recordaram que, nos últimos anos, as doenças infecciosas, como a covid-19, tiveram um enorme impacto no mundo.

“Podem surgir e causar o caos absoluto em todo o mundo e depois esquecemo-las durante algum tempo. No entanto, o potencial epidémico e pandémico das infeções exige que nos mantenhamos envolvidos com as agências federais de financiamento e os grupos consultivos, para garantir que as doenças infecciosas não voltem a passar despercebidas ao público”, explicou George R. Thompson.

A equipa acrescentou que devem ser implementadas medidas mais robustas para vigiar as doenças infecciosas e instou os educadores médicos a formarem os clínicos para anteciparem as alterações nos padrões.

LUSA