Publicidade Continue a leitura a seguir

E se não trabalhasse até ao fim de 2022? Há progressos, mas os próximos 48 dias ‘não’ são pagos

[Fotografia: Pexels/Cotonbro]

Publicidade Continue a leitura a seguir

Em 2020, as mulheres apenas viram o seu trabalho pago até domingo, 13 de novembro. Tal significa que, a partir de segunda-feira, 14, os homens continuam a auferir pelo seu trabalho, mas elas não porque há uma desigualdade salarial de 13,3% segundo as contas da Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens (CIMH) da CGTP. Contas feitas, elas trabalham, por comparação, 48 dias “à borla”.

E se o valor é ainda muito díspar, a verdade é que ele também indica que o período de diferença encurtou face ao ano anterior (14%), e em dois dias. Recorde-se que, em 2012, a diferença salarial entre mulheres e homens em termos de rendimentos brutos era de 18,5%.

Quanto à distância reportada em dia Nacional da Igualdade Salarial, que se assinala este domingo, 13 (mas que reporta valores a 2020), há alguma surpresa. “Estava preocupada com os valores porque, em 2020, muitas mulheres ficaram em casa a cuidar dos filhos e privadas de parte do seu vencimento, mas aparentemente avançamos dois dias”, afirma a presidente da Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE). Carla Tavares vinca, por isso, que “se não tivéssemos tido esta contingência [a pandemia], teria havido mais progressos”.

Um tema que vai ser debatido esta segunda-feira, 14 de novembro, num seminário intitulado Igualdade Salarial: Como lá chegar?, organizado pela Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE). Neste encontro, que decorre no IEFP, em Xabregas, Lisboa e que vai contar com o secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, pretende-se analisar causas, mas também apontar caminhos para vencer a diferença de rendimentos entre géneros.

De acordo com a Comissão para a Igualdade entre Mulheres e Homens (CIMH) da CGTP, “a diferença salarial entre mulheres e homens é de 13,3%, o que corresponde a mais de 48 dias, em que as mulheres deixariam de ser remuneradas pelo seu trabalho, até ao final do ano“. E esta diferença “ainda é maior (19%), se comparadas as remunerações totais entre mulheres e homens”, acrescenta.

Segundo a comissão, o facto de as mulheres constituírem a maioria dos trabalhadores que recebem o salário mínimo nacional e a subvalorização do seu trabalho bem como das suas qualificações, traduz-se “em retribuições, prestações sociais e pensões de reforma mais baixas, com o consequente empobrecimento ao longo da vida”.

Por outro lado, “comparativamente a 2021, a ligeira redução percentual da desigualdade salarial advém, fundamentalmente, da harmonização por baixo dos salários de todos os trabalhadores”, conclui.

“É preciso romper com a legislação do trabalho que fomenta e incentiva o modelo de baixos salários e trabalho precário”, considera a CGTP, defendendo também que “é preciso revogar a legislação de trabalho que desregula os horários, obstaculiza a conciliação com a vida pessoal e familiar, bloqueia a contratação coletiva e a atualização anual dos salários com a norma da caducidade e torna os despedimentos mais fáceis e baratos”.

A central sindical reclama ainda mais sete medidas, a primeira das quais é “o aumento dos salários e o combate ao custo de vida como elementos fundamentais para assegurar a igualdade salarial, incrementar o poder de compra das mulheres, o rendimento disponível e o bem-estar das famílias”.

A revogação da caducidade das convenções coletivas, bem como “a reintrodução do princípio do tratamento mais favorável” que na opinião da CGTP “são essenciais para assegurar uma mais justa distribuição da riqueza, valorizar direitos, categorias profissionais e conteúdos funcionais” é a segunda.

“A erradicação da discriminação direta e indireta, transversal e horizontal, e de estereótipos ainda prevalecentes entre homens e mulheres”, é terceira medida que a confederação de sindicatos defende.

O combate a todas as discriminações salariais, incluindo as que afetam particularmente as mulheres “que enfrentam desvantagens acrescidas: com vínculos precários, com deficiência, pertencentes a minorias, imigrantes, com baixas qualificações”, é outro dos pontos sublinhados no comunicado.

A central sindical defende também “o cumprimento efetivo das garantias e direitos contratuais e legais, a regulamentação dos prémios [assiduidade, produtividade ou outros], de modo a que sejam efetivados os direitos de maternidade e paternidade, de assistência à família e de conciliação, sem penalização patronal”. E a redução do horário de trabalho para as 35 horas semanais bem como a semana de quatro dias “sem redução da retribuição e sem aumento das horas diárias de trabalho”.

Por último a CGTP considera necessário a implementação de políticas públicas para a igualdade ao nível das escolas (educação para a igualdade) e a garantia de que as estatísticas oficiais, “nomeadamente da Segurança Social, disponibilizem informação desagregada por sexo, para aferir e monitorizar os efeitos das discriminações salariais entre mulheres e homens ao longo da vida”.