Imigração, terrorismo e crescimento levam mulheres a votar nas Europeias. Mas não só. Há quem sublinhe a austeridade, a conciliação familiar, os impostos e a pobreza. Sem estas respostas, o mais provável é o sexo feminino vir a desinteressar-se das eleições europeias, que se realizam de 23 a 26 de maio.
Joanna Maycock, presidente do grupo de Mulheres Europeias de Lobby, não duvida: “A austeridade desastrosa para as mulheres que teve lugar na União Europeia e os cortes das despesas públicas significaram cortes duros para elas nos cuidados de saúde e muito mais”. Para esta responsável, que fala no seminário em torno do Poder das Mulheres na Europa, que decorre em Bruxelas, esta quarta-feira, 6 de março, os partidos políticos têm de falar destes “assuntos importantes”, olhar para “o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, para os impostos, para a pobreza porque há, de há, de facto, cada vez mais mulheres pobres”, vinca.
Segundo o responsável da Unidade de Opinião Pública da Europa, Philip Schulmeister, e que tem por base os dados recolhidos no âmbito do Eurobarómetro, estima-se que “29% mulheres e 33% de homens irão muito possivelmente votar nas próximas eleições europeias”. Contas feitas, ficam mais de 2/3 dos eleitores de fora e que deverão ter atitudes distintas face ao sufrágio, inclusivamente não ir às urnas. Porém, estes dados não foram especificados.
Europa: Da ‘macho culture’ e do assédio às exigências das mulheres na política
Se as portuguesas parecem ser ‘levadas’ às urnas por temas como a economia e o crescimento, tal como Espanha ou Áustria, outros motivos ganham relevância para mulheres de outros territórios, segundo o estudo de opinião pública divulgado.
A imigração é um dos temas que mais preocupa o sexo feminino de países como Estónia, Itália, Alemanha, República Checa. Já a França, a Bélgica e a Polónia parecem estar especialmente atentos a matérias como o terrorismo, sendo esse um dos fatores quem mais pode levar as mulheres às urnas dentro de dois meses e meio.
Mas olhando por géneros, as europeias parecem, de acordo com os dados recolhidos no Eurobarómetro e com especial enfoque nas eleições, preocupadas com a “imigração (50%) combate ao terrorismo (47%), desemprego jovem (46%), economia e crescimento (44%), alterações climáticas (41%), direitos humanos e democracia (37%) e proteção social (32%).
“Os homens são mais virados para a direita do que as mulheres. Há cinco décadas a situação é diferente. A situação inverteu-se e isto dá-nos pistas importantes”, refere o professor de Sociologia da Universidade holandesa de Radboud. O mesmo especialista lembra que “as mulheres parecem preocupadas com ambiente e cuidados e saúde, são mais ativas nestas áreas e viradas para questões que se prendem com cuidados de saúde. Estes dois temas influenciam também a decisão de voto”, refere.
Olhando para o último sufrágio – e auscultados 27 a 28 mil cidadãos pós eleições – houve 4% menos de mulheres a votar do que os homens e 20% delas abstiveram-se no dia de preencher o boletim. E se para Schulmeister a diferença de género na ida às urnas não é muito reveladora, Joanna Maycook não podia discordar mais. A secretária-geral do Lobby Europeu de Mulheres lembra: “Deixámos de evoluir. Estamos a assistir às ameaças dos direitos das mulheres em muitas parte da Europa, quer sejam os ataques aos direitos sexuais e reprodutivos, quer seja empurrar as mulheres para papéis mais conservadores. Tudo isto enquanto assistimos a um aumento sem precedentes das mulheres e nunca vimos movimentos tão dinâmicos”, considera.
A especialista lembra a campanha que a entidade que lidera tem em marcha. “Na iniciativa 50/50 queremos ter metade de mulheres no Parlamento Europeu. Apenas 1/3 das comissárias são mulheres. Nunca houve uma presidente da Comissão Europeia”, elenca. Por isso, pede: “Queremos que as mulheres votem em mulheres que se preocupem com direitos das mulheres e que querem fazer avançar a agenda da igualdade de direitos”, vinca.
Imagem de destaque: DR
“O Parlamento Europeu tem ligeiramente menos regras contra o assédio”