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Japonismo: a luz chega sempre do Oriente

Lanternas de teto Chou, por Yonoh Creative Studio, folha de madeira tinta e base e pega em metal lacados, da LZF, entre €707,25 e €990,15 na Traços Interiores.
Foto do livro Chen Fei, inclui 45 imagens da obra, 118 páginas, edição da Distanz, €29,90 na Gestalten.
Banco alto Radice, da Matiazzi, representada por Joana Marcelino.
Estação Tenri na Praça CoFuFun, em Nara, Japão, inaugurada este ano, por Nendo. (crédito foto Takumi Ota)
Quimono franjado, €39,95, na Zara.
Candeeiro de mesa JC15 por Barber Osgerby, manufatura da Saikai Toki, porcelana, do projeto Japan Creative.
Jarras Jellyfish, por Nendo, apresentadas este ano na Feira de Milão, silicone transparente ultrafina, desenhadas para estarem imersas em aquários, mais em informação em nendo.jp.
Malgas em cerâmica vidrada, a partir de €9,95 na Muji.
Candeeiros Daikanyama, da Zero, a partir de €498,30 cada na LuzArq.
Church of Light, do arquiteto Tadao Ando.
Candeeiros de teto Juuyo, por Lorenza Bozzoli, a partir de €806 cada, na Moooi.
Vestido “18th Century Punk”, por Rei Kawakubo para a Comme des Garçons, coleção Outono Inverno 2016/17, parte da exposição que o Metropolitan Museum of Art dedicou à estilista este verão. (crédito foto: Paolo Roversi)
Sofá Corques por Lucie Koldova, base em cortiça, 190x88x94cm, aproximadamente €11.500 na Per/Use.
Papel de parede Kyoto, aproximadamente €82 cada rolo Fired Earth.
Banco Hiba, por Peter Marigold, do projeto Japan Creative, na Sarah Myerscough Gallery.
Instalação Sensing Nature - Snow, por Tokujin Yoshioka.
Sapatilhas Y-3 Kyura, por Yohji Yamamoto, aproximadamente €190 em store.y-3.com.
Edifício do arquiteto Ryeu Nishizawa. (crédito foto Iwan Baan)
Banco Waterfall, vidro nervurado, por Tokujin Yoshioka.
Bule em ferro por Jasper Morrison, do projeto Japan Creative.
Cavaletes Soba, bambu e corda, por Stephan Diez, do projeto Japan Creative.
Sofá-cama de dois lugares, 195x86x71cm, abre para cama de casal, €990 pelo sofá e €75 cada almofadão na Muji.

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Fascina-nos a todos, e desde sempre, o exótico distante. Deve ser reminiscência de olharmos para lá da costa e não haver mais nada. Ou depois, de quando as naus demoravam um ano a ir e a voltar com coisas nunca vistas e que toda a gente queria ter.

Tirando o facto de existir hoje em dia a Amazon, e de que podemos todos apanhar um low-cost até quase meio caminho e ir lá, as coisas não mudaram muito, porque, bem ou mal, as pessoas são ainda feitas da mesma massa.

Hoje em dia o Japão, de qualquer forma ainda exótico e distante, fascina o mundo, mas as razões contemporâneas do fascínio são agora diferentes: o quotidiano do Sol Nascente vai de encontro ao estilo de vida que toda a gente (toda a gente que quer ser informada, esclarecida e da moda) quer ter: ser tradicional, mas contemporâneo, e seguidor do natural.

É uma equação difícil, e não há assim tantas soluções pret-a-porter disponíveis: há os nórdicos, de que o IKEA tratou de democratizar, e há o Japão, que de democrático acessível ainda tem pouco no que ao design para interiores diz respeito. Para já, o gosto japonês ainda é um desejo de nicho, que como mandam as boas, firmes e sempre presentes leis de mercado passará em pouco tempo para as bases da pirâmide social de gostos.

Nos nossos dias sempre houve a MUJI, é verdade, mas a sigla significando “produtos de qualidade sem marca” nunca cumpriu completamente o seu desígnio, a qualidade nunca era assim tão garantida e os preços estavam longe de ser populares.

No século XIX, o gosto pelo exótico era orientado na Europa pela diretiva inglesa, imperando a chinoiserie, virada para o excêntrico chinês, mais preenchido, confuso e barroco de forma, que caía como ginjas no lay-out vitoriano da altura; na decoração foi uma espécie de ‘juntou-se a fome com a vontade de comer’. O gosto vitoriano amava esta espécie de Gabinete de Curiosidades, para despertar conversas, sentar na bergère e servir mais um brandy, enquanto se conversava ou brincava com o charuto.

O gosto contemporâneo, de uma forma geral, está agora nos antípodas da moda vitoriana e da chinoiserie: os designers, hoje, para irem de encontro ao desejo dos modanti, buscam no mobiliário, nos acessórios e na disposição espacial japoneses, secos de forma e limpos de excessos, as bases dos seus desenhos de agora; mais, procuram um certo estado de espírito tradicionalista que aliado ao enorme respeito nipónico pelo mundo natural é a coluna vertebral de uma das mais fortes tendências a médio prazo do mercado.

O mundo natural e este respeito por ele são o núcleo do desenho japonês: as casas tradicionais, de madeira, com portas de correr de papel – shoji – eram construídas, aos contrário da alvenaria do resto mundo, para que frente à adversidade natural fossem facilmente desmontadas e remontadas novamente: a Natureza não era vista como uma inimiga que trazia tufões, mas sim como uma parte de um todo cósmico, de que a humanidade também fazia parte.

Esta cumplicidade com o acaso e o com destino é bem espelhada no Kintsugi, a arte de reconstruir com massa dourada os objetos de vidro ou cerâmica que partimos sem querer, fazendo do remendo uma adenda decorativa. É mesmo já uma moda e muitas lojas online disponibilizam kits faça-você-mesmo para praticar esta arte que relaxa e pacifica a mente.

Num mundo que parece cada vez mais inseguro, hostil e partido, o Kintsugi é apenas a ponta de uma meada que pode trazer soluções a médio prazo; porque se a raiz do problema for termo-nos afastado demasiado do planeta e da nossa matriz conjunta, a raiz do pensamento japonês, e respetivo desenho das coisas, pode ser um kit de que todos precisamos, enquanto ainda há tempo e as fendas ainda se podem reparar.


Veja também as peças de decoração que são verdadeiras obras de arte.


João Galvão