Quem é Mélanie Berger-Volle, a mulher de 102 anos que vai segurar tocha olímpica

HARRINGTON  ROCK SCULPTURE
[Fotografia: AP Photo/Greg Garay, SOCOG]

Saint-Etienne, cidade do centro de França, já escolheu quem irá segurar na tocha olímpica a 22 de junho, quando esta passar pela sua região, e caberá a uma mulher centenária fazê-lo. Mélanie Berger-Volle tem 102 anos, nasceu na Áustria e vive em França desde os anos 30 do século passado.

A escolha sobre esta mulher reside no facto de ela ter sido uma resistente ao nazismo durante a Segunda Guerra Mundial.

Em declarações aos órgãos de comunicação franceses, Berger-Volle afirmou que aceitou fazê-lo para dar corpo ao que sempre acreditou: “O meu ideal sempre foi unir o mundo”, declarou, considerando os Jogos Olímpicos um “momento formidável para conhecer outros seres humanos”.

Porém, a sua ligação a este evento desportivo mundial não acaba aqui. Mélanie Berger-Volle é também avó da ginasta Emilie Volle que, em 1996, integrou a comitiva olímpica francesa em Atlanta, nos Estados Unidos da América. Por isso, para lá da mensagem política, esta centenária quer carregar também um símbolo de igualdade em nome das mulheres que “lutaram para praticarem desportos como os homens”.

Aos 17 anos, em 1938, Mélanie Berguer-Volle, originária de uma família judia, deixou a sua terra natal, Viena, Áustria, para fugir ao nazismo e, após longa caminhada para o Norte da Europa, entrou em França disfarçada de rapaz. Quando a território gaulês estou na Segunda Guerra Mundial, quem veio fugido foi encarado como inimigo, o que sucedeu a esta mulher. Chegou a ser capturada e enviada para um campo de concentração, mas conseguiu escapar, saltando do comboio.

Mélanie Berger-Volle [Fotografia: DR/Department de la Loire]

Passou a ser militante contra o nazismo, tendo sido capturada em 1942 e torturada. Hoje, diz carregar ainda as marcas desse ataque do qual escapou, um ano após a detenção e durante uma hospitalização. Nunca parou de combater até ao fim da Segunda Guerra Mundial, recorrendo, para o efeito, a várias identidades falsas.

A luta contra os extremismos e a intolerância prosseguiu já depois de 1945. Ao lado do marido, Lucien Volle, Mélanie tem vindo a desenvolver um trabalho de memória e de sensibilização para esse perigo e junto das camadas mais jovens. Quer, por isso, usar a sua influência nestes Jogos Olímpicos de Paris 2024 e apelar à necessidade de cuidado e vigilância sociais para que não se volte a estes tempos.