Jornalista russa Marina Ovsyannikova que protestou contra a invasão à Ucrânia fugiu do país com a filha

Marina AFP
Marina Ovsyannikova [Fotografia: Alexander NEMENOV / AFP]

A jornalista russa Marina Ovsyannikova, colocada em prisão domiciliária por ter condenado a guerra russa na Ucrânia em direto na televisão, fugiu do país com a filha, indicou o seu advogado esta segunda-feira, 17 de outubro.

“Ovsyannikova saiu da Rússia com a sua filha algumas horas depois de ter abandonado o apartamento onde se encontrava em prisão domiciliária”, disse Dmitri Zakhvatov à agência de notícias francesa AFP, precisando que mãe e filha se encontram na Europa.

“Elas estão bem, esperam poder falar publicamente, mas, por enquanto, isso ainda não é certo”, acrescentou. Este anúncio ocorreu duas semanas depois de ter sido emitido pelas autoridades russas um mandado de busca da jornalista de 44 anos, dando a entender estaria em fuga.

Indiciada em agosto por “divulgação de informações falsas” sobre o exército russo – um crime punível com dez anos de prisão -, foi colocada em prisão domiciliária por um tribunal de Moscovo, com a proibição de utilizar qualquer meio de comunicação.

Em meados de março deste ano, alguns dias após o início da ofensiva russa na Ucrânia, Marina Ovsyannikova tinha interrompido o telejornal da noite da grande estação russa Pervy Canal, onde trabalhava como jornalista havia quase 20 anos, empunhando em direto um cartaz em que apelava para o fim dos combates e instava os cidadãos russos a “não acreditarem na propaganda” da imprensa oficial russa.

Por esse ato, foi detida por um breve período e condenada ao pagamento de uma multa. Em seguida, abandonou o país para trabalhar para o jornal alemão Die Welt.

Em julho, regressou à Rússia para tentar manter a guarda dos seus dois filhos menores, que o ex-marido, ainda residente na Rússia, estava a tentar retirar-lhe.

Apesar dos riscos, continuou a criticar a partir de Moscovo o poder e a guerra russos, antes de ser novamente detida e formalmente acusada de “divulgação de informações falsas” sobre o exército.

A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,6 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A invasão russa – justificada pelo presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.

A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que esta segunda-feira entrou no seu 236.º dia, 6.306 civis mortos e 9.602 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.