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Mariza Seita, a tatuadora de mamilos que “devolve autoestima” a quem teve cancro de mama

[Fotografia: DR]

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Há cerca de um mês, Mariza Seita recebia no seu espaço, no Campo Pequeno, em Lisboa, uma senhora de 80 anos, amiga da avó, que queria cumprir um sonho: o de voltar a ter mamilo depois de, há anos, o ter perdido na sequência de um cancro de mama e da remoção dos tecidos. “Há um mês, tatuei a amiga da minha avó, que fez uma reconstrução da mama e nunca tinha tatuado o mamilo”, conta a tatuadora, de 29 anos, ao Delas.pt

Conta agora que aquele momento lhe ficará marcado na memória. “Ela estava tão feliz. Ela contou-me que há 40 anos que queria voltar a ter mamilo, disse-me: ‘isto é para mim, nem sequer tenho marido e é tão importante’.”

Um relato impressionante de duas mulheres: aquela que teve a autoestima de volta aos 80 anos e a de uma outra, de 29, tatuadora há 11, e que há cinco anos que, à margem do trabalho, faz serviços pro bono às mulheres que, fruto de cancro de mama, sonhavam voltar a ter uma parte do corpo de volta. “É incrível, sinto que consigo devolver auoestima a todas estas mulheres”, suspira a especialista ao Delas.pr1111

Pela loja de Mariza Seita têm passado “mulheres de 25 e 26 anos e de todas as idades”. “Outro dia, tatuei a aréola uma mulher de 40 anos. Ela estava feliz porque sempre fez topless e, de novo, podia voltar a fazê-lo”.

Agora, a tatuadora irá falar sobre estas mesmas histórias a 22 de outubro, às 21 horas, a importância deste tipo de serviços na autoestima das mulheres que lutaram contra a doença e sobre como descobriu esta vocação. Um relato que vai ter lugar no âmbito das conferências Pink Robbon Talks, com a parceria da fundação IMM-Laço e segundo o qual cada presença reveretrá um euro para a causa, no mês em que se evoca a doença que atinge na absoluta maioria as mulheres.

Uma ideia que surgiu em 2015

Há 11 anos que a vida de Mariza era pegar em agulhas e tatuar. Mas, na ocasião em que abriu a loja, a Ink & Wheels, foi procurar outro tipo de serviços, até que se cruzou a tatuagem de aréolas na Austrália e decidiu trazer isso mesmo para o seu espaço.

Desde aí, conta que tem feito cerca “de três reconstruções por ano, que aumentaram desde o ano passado”. “Neste momento, tenho marcações até fevereiro, devem ser umas 20 e faço-as depois de o espaço estar fechado para estarmos mais à vontade”, revela Mariza, que assegura fazer este tipo de serviços de forma gratuita.

Gostaria, acrescenta, de dar formação a quem quisesse fazer o mesmo, mas com uma contrapartida: teriam de ser serviços igualmente sem custos para o cliente. “Sei que há quem cobre 300 euros. Falo de centros de estética e de maquilhagens permanentes, é uma barbaridade de preço”, critica Mariza Seita. Lembra que, em matéria de custos, existe apenas “o que decorre da abertura do material, que ronda os 50 euros”. E especifica: “Uma tatuagem normal, com aquela área, aquele detalhe e com o material que é usado não custa 300 euros, nem pensar”.

Mariza, que não chegou a concluir licenciatura em Escultura na Faculdade de Belas Artes, em Lisboa, diz fazer este tipo de trabalho sem formação adicional porque, afinal, ela não existe. “Decorre apenas da sensibilidade e da vontade”, justifica.

Ao delas.pt, a tatuadora diz não haver impossíveis. “Conseguimos sempre reconstruir, desde quando a pessoa não tem nada e está tudo branco até casos em que há um pouco de mamilo”, revela. “No primeiro caso, o da tela em branco digamos assim, trabalho com jogos de sombras, tridimensionalidade; No segundo, ilustram-se as zonas mais esbatidas”, explica. Há, porém, casos mais complexos. “Sabemos que se existe uma cicatriz profunda, a tatuagem não fica tão bem, mas tal nunca aconteceu”.

Mitos e cuidados

Para poder fazer este trabalho, Mariza recomenda sempre que “se espere um ano após a mastectomia até que a pele esteja totalmente rejuvenescida, cicatrizada”.

E se o receio passa pelo medo da dor associado a este tipo de opções, a tatuadora deita tal mito por terra. “A dor é a única diferença face às tatuagens normais, a dos mamilos não dói porque se trata de pele que não tem terminações nervosas, que foi retirado de outras partes do corpo, como por exemplo, as costas,”, explica a especialista. “O que acontece é que, muitas vezes, depois de tatuarem o mamilo, muitas mulheres regressam para fazer uma outra noutro ponto do corpo, normalmente com mensagens de superação”, revela. Essas sim, já têm alguma dor associada.

Mas, e depois da tatoo, que cuidados especiais a ter? “Nada de especial”, atira Mariza Seita. “O cuidado necessário é o mesmo que se pede para uma tatuagem normal: usar um creme cicatrizante, película, mudar a cada três dias, lavagem a água e glicerina e creme hidratante assim que cicatriza”, prescreve.

No que diz respeito a exposição solar, também aqui os cuidados são os mesmos: “Apanhar sol só depois de 15 dias de a tatuagem ter sido feita e após aplicação de protetor solar. E o mesmo se aplica a banhos de mar e de piscina”.

Veja abaixo um vídeo da tatuagem de uma aréola e que está disponível no Instagram de Mariza Seita