Morreu a feminista que libertou as mulheres dos títulos de ‘senhora’ e ‘menina”lpok9

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Há cerca de meio século, Sheila Michaels dava voz e corpo à luta que pretendia libertar as mulheres de terem de se apresentar, como comportamento do trato social, como casadas ou solteiras.

Ou seja, esta americana – que morreu esta semana aos 78 anos – quis pôr termo às designações que habitualmente antecedem os nomes e que podem ser ‘Miss’ (menina, solteira) e a ‘Mrs’ (senhora, casada).

Por isso, criou a campanha, em 1961, para popularizar o título honorífico de cariz neutro ‘Ms’, que rapidamente ganhou um lugar na linguagem e nos dicionários anglo-saxónicos, passando a definir, assim, uma mulher que deitava por terra qualquer indicação sobre o seu estatuto marital, tornando essa mesma designação irrelevante.

Cerca de dez anos depois, em 1972, o título era transformado em revista feminina pela mão da também ativista Gloria Steinem (recorde a entrevista ao Delas.pt)

Nessa época, os movimentos feministas pediam emprestada e encorajavam o uso desta designação desta nova ordem social e, na década de 80 (1986) do século passado, o ‘Ms’ fazia a primeira página do New York Times.

Filha de pais solteiros, a feminista e ativista pelos direitos civis e de género procurou encontrar uma designação para mulher que não subentendesse a pertença a um homem. Foi esta busca, contada aos jornais New York Times e ao The Guardian, que levou Sheila por este caminho.

“Não havia lugar para mim. Ninguém me queria reclamar e eu não queria ser pertença de ninguém. Eu não pertencia ao meu pai e não queria pertencer ao meu marido – alguém que me poderia dizer o que fazer. E toda esta ideia surgiu num par de horas”, contou ao diário britânico.


Por cá, Código Civil ainda mantém diferenças entre homens e mulheres no acesso a um casamento após o divórcio. A matéria está em debate na Assembleia da República


Porém, ‘Ms’ não foi algo criado de raiz por Michaels. Na verdade, as primeiras notas surgem de 1901, quando se tornou um diminutivo de mistress (a dona da casa, em tradução livre).

E a primeira vez que a feminista abordou esta matéria, num programa de rádio, Sheila apresentou-se como ‘miz’.

Nascida e criada no Missouri, Sheila Michaels viveu e trabalhou em Nova Iorque como jornalista, tendo sido também taxista e contadora de histórias. Casou-se com o chef Hikaru Shiki, dono de um restaurante japonês, e divorciou-se anos depois. Segundo o que foi relatado ao New York Times, Sheila Michaels – que terá vivido os últimos anos arredada dos holofotes mediáticos – não terá resistido a uma leucemia.

Imagem de destaque: DR