Por três vezes óbvias a morte bateu-lhe à porta: na Polónia, em Auschwitz-Birkenau, para onde foi deportado juntamente com os seus familiares logo depois da invasão da Hungria pelos alemães; na Alemanha, em Buchenwald, para onde foi transferido com o pai e as irmãs mais velhas após a morte da mãe e da irmã mais nova; e nos EUA, em Nova Iorque. À terceira não resistiu. Eliezer “Elie” Wiesel, escritor judeu, sobrevivente dos campos de concentração nazis da II Guerra Mundial, morreu ontem, aos 87 anos.
Wiesel nasceu a 30 de setembro de 1928, na localidade húngara de Sighet, atual Roménia. Dedicou a sua vida às palavras, tendo trabalhado como jornalista em várias publicações francesas e israelitas e escrito mais de 40 ensaios e romances. Noite, publicada pela primeira vez em 1955, é a sua obra mais conhecida e integra uma trilogia de livros baseada nas suas memórias do Holocausto, do qual fazem também parte os títulos Amanhecer (1960) e Dia (1961).
Com a sua mulher, Marion Rose, criou a Fundação Elie Wiesel para a Humanidade e conseguiu prestar auxílio a refugiados de guerra e fugitivos do apartheid. Acérrimo defensor dos direitos humanos, tornou-se um influente ativista e usou o seu estatuto de sobrevivente do Holocausto para denunciar situações de racismo e violência, o que lhe valeu o Nobel da Paz, em 1986.
Além deste prémio, foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade, concedida pelo Presidente dos EUA, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional da Legião de Honra de França e com o título de Cavaleiro da Ordem do Império Britânico.
Nas redes sociais, algumas figuras públicas já reagiram à morte de Wiesel. No Twitter, a empresária Melinda Gates, mulher do fundador da Microsoft, recorda-o como sendo um “otimista mesmo nos dias negros” que nos “obrigava a ver a beleza na humanidade”. Também a jornalista norte-americana Elizabeth Wurtzel citou uma frase célebre de Wiesel: “Devemos sempre tomar partido. A neutralidade ajuda o opressor, nunca a vítima. O silencia encoraja quem atormenta, nunca o atormentado”.