Pais e diretores de escolas defendem que o ideal seria a aposta nos livros digitais para aliviar o peso nas mochilas dos alunos, mas até lá dizem que o aumento do número de cacifos nas escolas já ajudava.
“Era importante avançar para o digital. Estamos numa época tão à frente (…) que era importante dar o passo para o livro em formato digital”, defende Filinto Lima, da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas (ANDAEP), que reconhece que as escolas já têm algumas estratégias para aliviar o peso que os alunos carregam todos os dias.
“Os cacifos – embora não haja na maior parte das escolas -, para que o aluno não ande todo o tempo a carregar a mochila, o facto de nós, os diretores, sempre que possível darmos uma sala à turma para que o aluno quando sai para o intervalo não traga a mochila e também [o facto de] o professor pedir aos alunos o material estritamente necessário para a sua aula” são alguns exemplos, disse.
“Eu todos os dias recebo os meus alunos à entrada da aula e por vezes pego nas mochilas e são pesos descomunais, sobretudo ao nível dos mais pequenos, que têm medo de ter falta de material. Acho que devemos ter cuidado com a saúde dos nossos alunos”, sublinhou Filinto Lima, para quem o problema maior se coloca no 5.º e 6.º ano.
Dotar as escolas de mais cacifos e fazer pedagogia para tentar que os alunos usem mais vezes as mochilas com rodinhas, para não carregarem o peso, são outras das sugestões do responsável da ANDAEP, para quem o ideal era o avançar com o livro digital.
A Confederação das Associações de Pais (CONFAP) concorda que o livro digital era a solução ideal, mas quanto às mochilas com rodinhas diz que não são o mais aconselhável pois a criança transporte o ‘troley’ a caminhar torcida.
Estas mochilas com rodas “não têm exatamente as medidas das crianças. Também não estou a ver crianças com 12, 13 e 14 anos a andarem de ‘troley’, tal qual andam os juristas para os tribunais, até porque esses ‘troleys’ não têm um preço assim tão acessível para todas as famílias”, disse à Lusa Jorge Ascensão, da CONFAP.
“O suporte digital, a criação de cacifos para que os alunos possam deixar um conjunto de materiais que não é necessário transportarem diariamente para casa, a par de um modelo de trabalho que também pode ser mais eficaz. São nestas três dimensões trabalharmos de forma eficiente ajudaremos a minimizar muito este problema”, acrescentou.
Para o responsável, “era preciso uma escola diferente da que tínhamos há 20 anos, não só em termos pedagógicos, mas organizativos (…)”.
“Chegamos agora a ter os miúdos com 13 disciplinas, o paradigma mudou, e bem, mas o modelo é o mesmo. Temos de mudar o modelo de funcionamento das escolas, percebemos as condicionantes, mas é possível fazer diferente”, frisou.
Tanto a CONFAP como os diretores das escolas apoiam a petição contra o peso das mochilas, uma iniciativa que arrancou a meio do mês de janeiro e que já tem mais de 27.000 assinaturas.
Numa nota enviada hoje às redações, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros manifesta-se solidária com esta preocupação e diz que os editores escolares “têm investido bastante na procura das melhores soluções no que diz respeito aos manuais”.
A petição é subscrita por especialistas em ortopedia, médicos fisiatras, a Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia, a Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação e pela Confederação Nacional das Associações de País, entre outras organizações.
Os autores pedem urgência na resolução do problema e propõem, entre outras medidas, que se legisle no sentido de definir que o peso das mochilas escolares não deve ultrapassar os 10% do peso corporal das crianças, tal como sugerido por associações europeias e americanas.
Saibam o que pensam os especialistas sobre o peso das mochilas na Notícias Magazine
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