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Portugueses revoltados com reality show “SuperNanny”

Percorra a galeria de imagens para ver alguns dos comentários deixados pelos portugueses ao programa "SuperNanny" nas redes sociais
"Este programa tem problemas. Muitos, diria. A exposição de crianças em situações frágeis. Custa-me imaginar as repercussões que este episódio poderá ter na vida desta criança. 'Ah! Mas ajudou-a.' Tenho as minhas dúvidas. O programa é um reality show, não é um documentário, um estudo científico, uma reportagem", escreveu Joana Paixão Brás em 'A Mãe é que sabe', um dos blogues de maternidade mais lidos do país sobre o qual pode ler mais aqui
"Mais do que chocada, estou triste com o 'SuperNanny'. No mesmo mês em que um youtuber filma, rindo, alguém que se tinha suicidado numa floresta, aqui mata-se a dignidade de uma criança (ou milhares), de uma mãe (ou milhares), de uma psicóloga (ou milhares)", escreveu Joana Gama, autora do mesmo blogue e locutora na rádio Mega Hits
"Como educadora e mãe, este programa assusta-me e muito. É completamente anti-pedagógico! Nenhuma psicóloga ou pedagogo - mas daqueles a sério! - concordaria em fazer uma aberração destas. Este programa deveria ser imediatamente suspenso", Bruna Esteves
"Eu recusei-me logo a ver tal programa", Lília Lopes
"Péssimo!", Elisabete Lopes
"Não vi e não estou a pensar ver", Karina Ferreira
"Eu vi cinco minutos e fiquei com náuseas", Andreia Ribeiro
"Programa detestável!", Célia Barros
"Detestei... Um programa infeliz e tenho pena que algumas mães venham a utilizar o que se faz ali. Enfim, cada cabeça sua sentença", Ana
"Só vi os anúncios, não verei o programa porque não concordo com a exposição que se faz da criança", Nância Matias
"Como me pareceu tratar-se de um copie/paste do encantador de cães mas com crianças recuso-me a ver esse tipo de programas", Eva Barros
"Detestei! Não achei que a pessoa em questão soubesse o que estava a fazer!", Andreia Bastos
"Nem sequer vi. Recuso-me! Acho um absurdo a exposição absolutamente desnecessária da criança", Vanda Macedo
"E pelos vistos a Margarida [criança do programa] em casa do pai não se comporta assim. Sinceramente acho que foi muito forçado para o programa", Anabela Sá
"Detestei! Fiquei doente! As crianças precisam de carinho e não de ser tratadas como animais", Cláudia Silva
"Na minha opinião, com um filtro bem apurado consegue-se tirar algum ensinamento/ferramenta. Mas a exposição é muito grande. Cabe aos pais ponderar se compensa ou não", Raquel Pinho
"Assusta-me a forma como se expõe a criança a tudo isto e depois como se expõem rotinas e afins de uma casa. Parece-me tudo muito surreal", Inês Lopes
"Fiquei mal disposta ao ver isto. Que desgaste fizeram a esta criança. E agora preocupa-me que aquelas mentes pequeninas possam vir a tirar ideias para colocar em prática nas suas casas. Onde está o amor incondicional que lhes juramos quando nascem?", Cláudia Lima
"Também não gostei", Sandra Ferreira
"Odiei. Nunca faria isto ao meu filho", Bruna Leite

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A SIC estreou este domingo, 14 de janeiro, “SuperNanny”, um novo reality show que leva uma psicóloga a casa de vários pais com crianças problemáticas, com o objetivo de impor disciplina. A ideia nasceu em 2004, no Reino Unido, mas depressa se estendeu a outros 20 países. Cá é conduzido pela psicóloga Teresa Paula Marques e o primeiro episódio, segundo dados provisórios, foi visto por um milhão e 50 mil pessoas.

Assim que o programa terminou foram milhares os comentários reprovadores que se espalharam pelos redes sociais (pode ver alguns na galeria de imagens acima). A própria Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) emitiu, esta segunda-feira, um comunicado em que afirma que o programa viola vários direitos das crianças.

“Numa primeira análise efetuada ao conteúdo do programa, [a CNPDCJ] considera existir elevado risco de o programa violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade. Trata-se de um conteúdo manifestamente contrário ao superior interesse da criança, podendo produzir efeitos nefastos na sua personalidade, imediatos ou a prazo”, pode ler-se no comunicado emitido pela instituição.

A CNPDPCJ refere também que, antes de o “SuperNanny” ser exibido já tinham recebido várias queixas relacionadas com as imagens promocionais que levaram a instituição a manifestar “junto da estação de televisão SIC a sua preocupação face a este tipo de formato e conteúdos, solicitando uma intervenção com vista à salvaguarda do superior interesse da criança.”

A polémica do “SuperNanny” noutros países

O formato deste reality show foi adaptado a vários países, mas os casos do Reino Unido, onde teve origem, e dos EUA são os mais polémicos. Alfie Kohn, um norte-americano autor de vários livros sobre educação – entre eles O Mito da Criança Mimada, O Mito dos Trabalhos de Casa e Parentalidade Incondicional – publicou no seu site, em 2005, um artigo onde analisa o “SuperNanny” nestes dois países.

“Esse tipo de programa eleva a arte de manipular os espetadores para um nível nunca antes imaginado. Para começar, a escolha de crianças incrivelmente ‘mal comportadas’ dá-nos um certo sentimento de sucesso: ‘Pelo menos os meus filhos – e a minha capacidade enquanto pai ou mãe – não são tão más!’. Indo direto ao ponto, essas famílias problemáticas fazem-nos torcer por soluções totalitárias. Qualquer coisa para acabar com o tumulto”, escreveu, na altura, Alfie Kohn.

Numa entrevista à revista Sábado antes de o programa estrear, Teresa Paula Marques referiu que esperava que o programa gerasse polémica. “Haverá pessoas que gostam e outras que não, por exemplo os mais permissivos vão discordar“, disse a psicóloga.

No texto que é recuperado sempre que uma versão deste reality show dá que falar, Alfie Kohn também critica a atitude das psicólogas que o conduzem.

“O programa usa uma fórmula: Jo Frost, a ama oficial e agora escritora que tem os seus livros nas listas dos mais vendidos, chega, observa, faz caretas, diz o óbvio, determina uma rotina com uma série de regras e punições. Os pais tropeçam no início, mas eventualmente começam a aplicar o sistema proposto. Tudo isso resulta em contentamento e paz. As limitações do formato do programa não têm tanta importância quanto as da estrela principal. A abordagem da senhora Frost para as crises familiares é incrivelmente simplista. (…) Em nenhum momento ela para e reflete sobre o grande dilema colocado por grande parte dos pais, entre a necessidade de trabalhar e cuidar de crianças ao mesmo tempo”, pode ler-se no site do autor especialista norte-americano.

O meu filho tem muita personalidade!