Suicídio entre jovens está a aumentar

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Em 2017, 46 jovens, dos quais 11 raparigas com idades entre os 5 e os 24 anos puseram termo à vida, totalizando números que não se registavam desde 2009. Os dados, apresentados esta quinta-feira, 10 de outubro, no Jornal de Notícias, explicam que se trata de 4,1 óbitos por cada 100 mil habitantes, olhando para a faixa etária dos 14 aos 25 anos.

Recorde-se que, em 2016, tinham sido registadas 31 mortes.

Em dia Mundial da Saúde Mental, os especialistas citados pelo jornal pedem cautelas na leitura dos números, mas vincam que as respostas em matéria de serviços para a saúde mental têm mesmo de ser incrementadas, com especial urgência nas áreas infantil e juvenil.

Petição pela comparticipação de antipsicóticos

Diversas associações que apoiam doentes com doença mental grave alertaram esta quinta-feira para a necessidade de repor a comparticipação a 100% dos antipsicóticos, medicamentos essenciais para os mais de 48.000 doentes – dos quais sete mil sem qualquer acompanhamento – que em Portugal sofrem de esquizofrenia.

O documento já tinha recolhido, escreve a agência Lusa, mais de 2.000 assinaturas. “A esquizofrenia é uma doença crónica mental grave e que tem um impacto significativo em diferentes domínios da vida humana e da sociedade”, lembra o texto da petição, frisando os impactos da doença no trabalho, educação, relações interpessoais e na capacidade para o doente viver de forma independente.

Recordam que até 2010 existiu um regime especial de comparticipação de psicofármacos, onde se incluem os antipsicóticos, “que potenciava uma maior adesão à terapêutica com impacto considerável na prevenção de recaídas, estabilização de sintomas e menor recurso a internamentos”.

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Com a eliminação deste regime, estes medicamentos passaram a ter uma comparticipação a 95% no regime especial e 90% no regime geral, recorda o texto da petição, sublinhando que de 2011 em diante se observou “uma redução dos encargos do Serviço Nacional de Saúde e dos utentes com estes medicamentos, sugerindo uma menor adesão à terapêutica”.

Impacto social e financeiro da esquizofrenia

As associações lembram que “o impacto direto desta doença, decorrente do absentismo, não participação no mercado de trabalho, produtividade reduzida destas pessoas se cifra, se forma conservadora, em 340 milhões de euros” e que os custos diretos (internamento, reabilitação, hospital de dia, medicamentos, entre outros) estão avaliados em 96,1 milhões de euros/ano.

Em declarações à agência Lusa, Joaquina Castelão, da associação Familiarmente, frisa que “a comparticipação total acabou há cerca de dez anos por razões alheias aos doentes e às famílias, mas estes foram os mais penalizados”.

Recorda que estas doenças são normalmente diagnosticadas quando a pessoa está a começar a vida profissional e que, por isso, a maior parte dos doentes vivem de pensões mínimas.

“Há antipsicóticos de segunda geração, com menos efeitos secundários, cujo custo é muito elevado e os doentes podem gastar até 200 ou 300 euros”, lembra a responsável, sublinhando que “a maior parte destes doentes crónicos não tem condições de ter atividade profissional” e que “é a família que tem de ser o apoio, não só afetivo e emocional, mas de cuidador, suportando a carga e custo da doença”.

“E não se trata de um comprimido ou uma injeção. Há uma conjugação de fármacos que se toma, mais os outros das doenças que o doente depois acumula ao longo da vida e que implicam outros medicamentos para o resto da vida”, acrescenta.

Joaquina Castelão lembra ainda que, além da comparticipação total destes antipsicóticos, há casos de doentes que têm também de fazer tratamentos com eletrochoques e que, se forem seguidos no setor social convencionado, têm de pagar a totalidade.

“Este tratamento só é disponibilizado de forma gratuita aos doentes que são seguidos nos serviços de psiquiatria dos hospitais. Se for seguido no setor social convencionado o subsistema de saúde não comparticipa e o utente tem de pagar a 100%”, disse. A responsável diz ainda que a saúde mental tem estado no orçamento, mas escasseiam as respostas, dando o exemplo das equipas comunitárias de saúde mental.

Imagem de destaque: Shutterstock

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