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Testemunho: “O trabalho que faço hoje com a insónia é a ajuda que eu gostaria de ter tido”

Coach do sono Alexandra Parrado [Fotografia: Tiago Miranda]

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Desde os 12 anos que se confrontou com a dificuldade em dormir. Um problema de insónia que se apresentou quase permanente, com avanços ligeiros e recuos desesperantes, confrontou Alexandra Parrado, hoje com 43 anos, com mezinhas, depois com rituais de sono, com medicamentos e com terapia. O que funcionava por um tempo perdia depois eficácia.

Décadas de luta contra este problema que a fez viver “permanentemente em esforço, sempre abaixo do potencial”, Alexandra procurou respostas nas práticas de yoga e meditação e mudou para sempre o seu ritmo. Atualmente, é a única coach a trabalhar as insónias em adultos em Portugal e, na véspera de se assinalar o Dia Mundial do Sono, a 17 de março, testemunha o seu percurso e como transformou a sua experiência e conhecimento certificado na ajuda a quem sofre do mesmo problema.

Leia o testemunho abaixo:

Coach do sono Alexandra Parrado [Fotografia: Tiago Miranda]

“Comecei a sofrer de insónias pelos meus 12 anos. Noites em claro às voltas na cama passaram a ser o meu normal. À hora de deitar já sabia que teria umas horas pela frente até adormecer e durante o dia sentia-me cansada e em esforço. Não percebi, na altura, que estava perante um problema que devia ser resolvido. Achei que tinha de viver assim, que era diferente dos outros e que não dormir era algo que fazia parte da minha identidade.

Saturada do martírio constante de não dormir, procurei ajuda, pelos meus 20 anos, junto da minha médica de família da altura. Aconselhou-me a fazer práticas relaxantes, como tomar banho de imersão, beber leite quente e praticar yoga. Soluções insuficientes para um padrão de insónia já com uma década.

Com o passar do tempo, o meu sono deteriorou-se. Já não tinha apenas dificuldade em adormecer, mas em manter-me a dormir ou acordava demasiado cedo, muitas vezes numa mesma noite. Como não sabia o que fazer para lidar com a insónia, fazia muitas coisas que hoje sei estarem erradas. Ficava acordada na cama e estendia o sono pela manhã, quando podia.

Pelos meus 30 anos, voltei a pedir ajuda e fui encaminhada para psiquiatria, onde me apresentaram como solução tomar comprimidos para dormir. Durante uns tempos funcionou e fiquei satisfeita. Embora não sentisse uma qualidade de sono extraordinária, poder adormecer rapidamente e não me sentir de rastos no dia seguinte era uma bênção. Em certo momento, porém, o efeito dos comprimidos desvaneceu-se e o meu sono piorou visivelmente. Chegava a misturar comprimidos e nada funcionava. Sentia-me exausta e desesperada. Os momentos de crise eram cada vez mais intensos. Vivia permanentemente em esforço, sempre abaixo do meu potencial.

Fui bater a outras portas e cheguei a ouvir de um médico especialista do sono que teria de viver assim, cuidando da higiene do sono e tomando comprimidos em alturas de crise. Com mais de 20 anos de insónia, nada disso estava, claramente, a resultar. Comecei a ver a luz ao fundo do túnel quando, finalmente, me encaminharam para a terapia cognitivo-comportamental para a insónia. O meu padrão de sono foi melhorando, gradualmente, e a minha vida começou, finalmente, a mudar. Porém, três anos depois tive uma grande recaída. Voltei a sentir-me desesperada, sem conseguir descansar meses a fio. Nessa altura, disseram-me que o meu problema era crónico e receitaram-me, novamente, comprimidos. Foi então que tomei a decisão que foi fundamental para me libertar da insónia. Se eu não estava a dormir, algo em mim estava em desequilíbrio. Percebi que era fundamental ensinar o meu corpo a dormir, a encontrar, em si, esse lugar de equilíbrio. Comprimidos para dormir não seriam, por isso, solução. Já não os tomava e não voltei a tomá-los.

Coach do sono Alexandra Parrado [Fotografia: Tiago Miranda]

Foi um processo muito gradual para chegar onde estou hoje, em que noites mal dormidas são a excepção à regra. Adentrei nas minhas práticas de yoga e meditação e fiz mudanças, umas mais radicais que outras, nas minhas rotinas e no meu estilo de vida. Fui estudar ayurveda, um conhecimento milenar extraordinário com uma aplicação imensamente relevante nos tempos modernos, que me ajudou a compreender melhor a causa da minha insónia e como evitá-la. Eliminei o que estava a prejudicar o sono, optimizei o que o favorecia, e, acima de tudo, «mudei o chip» e deixei de me preocupar. Passei a confiar na minha capacidade de dormir.

Ao mesmo tempo, eu estava a preparar-me para uma mudança de carreira. Sabia que queria ajudar os outros a ter um estilo de vida mais saudável e consciente. Há muito que vinha a fazer mudanças na minha vida e a atravessar um processo de transformação profundo. Queria partilhar o que me apaixonava e ajudar os outros a melhorar as suas vidas. Até que decidi que a minha missão passaria pelo sono. Por ajudar os outros a, também, vencer a insónia.

O trabalho que faço hoje é a ajuda que eu própria gostaria de ter tido. Utilizo, como base, as estratégias da terapia cognitivo-comportamental para a insónia, considerada a primeira linha de tratamento para a insónia, juntamente com mudanças positivas nas rotinas e estilo de vida, de forma personalizada e holística. O meu serviço é o resultado da minha experiência vivida, em conjunto com os conhecimentos que adquiri enquanto autodidata e nas várias certificações que fiz no âmbito do sono, insónia e saúde holística.”

Alexandra Parrado