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Duas mulheres e um livro ganham o Man Booker International Prize

Nominated translator Deborah Smith (L) and author Han Kang pose with their novel "The Vegetarian", during a media event for the Man Booker International Prize 2016, in London, Britain May 15, 2016. REUTERS/Neil Hall

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Hang Kan, sul-coreana, 45 anos. Eis o retrato breve da vencedora de 2016 do Man Booker International Prize. Sabe-se pouco ainda desta professora de escrita criativa do Instituto de Artes de Seul (na fotografia à direita). A outra vencedora (à esquerda) é Deborah Smith a tradutora de 28 anos de idade que até aos 21 não sabia outra língua que não inglês. O prémio que agraceia um livro de literatura estrangeira traduzida no Reino Unido, no valor de quase 32 mil euros, será dividido em partes iguais pela autora e por quem tornou acessível a obra aos anglofalantes. O livro é ‘The vegetarian’.

Hang Kan não tem por enquanto obra vertida para português. Estão em curso os trabalhos de preparação do primeiro de dois livros que a Dom Quixote irá lançar em breve. É justamente este livro premiado que sairá em outubro, com o título ‘A vegetariana’. Maria do Rosário Pedreira, editora no grupo Leya, é a responsável pela chegada desta obra a Portugal e conta ao Delas.pt:

“Quando comprei este livro [para publicar em Portugal] não fazia ideia de que ia ser nomeado. Vinte dias depois recebia a notícia da agente que Hang Kan estava nomeada para a long list. A partir daqui começamos a acompanhar com muito interesse, ainda mais quando entrou para a short list. E, claro, ficámos muito contentes com esta notícia”.

A editora, que desde há cinco anos se tem dedicado sobretudo à edição de autores portugueses, tem também o encargo de descobrir bons livros de literaturas marginais, periféricas, sem grande expressão no mercado livreiro nacional. A atribuição do Man Booker International Prize 2016 significa, para já, uma estimativa de vendas aumentada:

“Vamos aumentar a tiragem. O ManBookerPrize tem sempre grande popularidade entre o público português, normalmente significa mais vendas.”

Mas afinal o que tem este livro para, em primeiro lugar, ter chamado a atenção de Maria do Rosário Pedreira? A editora refere que o achou deslumbrante, de uma delicadeza rara, lírico e com um estilo muito elegante apesar da crueza do assunto e chama-lhe “uma coisa nova” para a literatura europeia. A editora está claramente entusiasmada com a qualidade interna do livro e explica a narrativa:

“É uma recusa da carne. Há três narradores que correspondem a três partes do livro. O marido da protagonista – a mulher que se torna vegetariana; o cunhado e a irmã da protagonista. Logo a voz inicial faz perceber o desprezo que o marido tem pela mulher, pelas mulheres na verdade. Ele vê a mulher como um utensílio e percebemos que a posição da protagonista é de submissão.”

A protagonista não deixa apenas de comer carne, deixa de a cozinhar também e esta decisão é mal aceite pela família, criando inclusivamente problemas de sociabilização. Os jantares para convidados que o marido costuma organizar tornam-se um problema.

“Percebemos ao longo da história que a mulher é vítima de violência carnal e sexual. Tornar-se vegetariana, naquela cultura, é uma tentativa de alguém que foi agredida e que se quer rodear de um mundo vegetal menos violento. Deixar de comer carne e de a cozinhar é um ato de rebeldia”, afirma Maria do Rosário Pedreira.

 

 

‘A vegetariana’ vai ser publicado em Portugal com a chancela D. Quixote, em outubro.