Vanessa Barragão, a artista que chega à ONU e conta com a ajuda da mãe e da irmã

Claudia Gori for DHG III
[Fotografia: DR/Vanessa Barragão]

“A minha irmã, Telma, e a minha mãe, Zélia, estão mesmo a trabalhar comigo. E os meus avós também vêm ao ateliê quando lhes apetece, à tarde e quando estão em casa dos meus pais”, conta a designer Vanessa Barragão, cuja tapeçaria ‘Coral Vivo’ foi doada pelo governo português às Nações Unidas, na terça-feira, 19 de março.

É em família que Vanessa Barragão, designer de 31 anos, natural de Albufeira, Algarve, faz a sua arte, a partir do sul e que tem vindo a enviar um pouco para todo o mundo.

[Fotografia: DR/Vanessa Barragão]

O que começou por ser formação superior em moda, rapidamente se transformou numa paixão pelo têxtil, e a portuguesa já é nome e obra que se pode ver no aeroporto de Heathrow, em Londres, no Reino Unido, na China, em hóteis pelo mundo, em casas de muitos clientes privados e já antes, mas também agora, em Nova Iorque, na sede das Nações Unidas.

“Este convite surgiu por parte do primeiro ministro [António Costa] para fazer essa peça para Portugal doar às Nações Unidas e ficar na sede principal em Nova Iorque”, detalha a autora em declarações à Delas.pt.

A obra levou “quatro meses a ser produzida por seis pessoas do ateliê”, tem quatro metros por dois e tem 30 quilos, 27 deles em desperdícios. “Vai ficar em exposição permanente”, revela Vanessa Barragão. A tapeçaria procura falar “sobre a esperança, um futuro melhor, com mais consciência e com mais união entre as pessoas” e é feita com técnicas artesanais e com desperdícios do têxtil. “Quando trabalhei no Porto, percebi que havia imensos desperdícios. Por isso, compro-os, vêm camiões cheios de toneladas de material que separamos, limpamos e reutilizamos depois”, conta Vanessa Barragão, explicando que ‘Coral Vivo’ usou perto de 27 quilos de material têxtil reciclado.

Peça ‘Coral Vivo’ concebida para as Nações Unidas e encomendada pelo governo português [Fotografia: DR/Vanessa Barragão]

Hoje, estar na ONU, “é um marco superimportante para mim, o meu trabalho vai ficar ali para sempre, é chegar a um ponto muito bom da carreira, e que já está a ter visibilidade”, refere a designer que quatro anos antes foi uma das artistas e marcas portuguesas escolhidas a expor ‘Design em São Bento’, residência oficial do então chefe de Governo António Costa, a convite da curadora Bárbara Coutinho.

De hobbie a reconhecimento internacional

A algarvia Vanessa Barragão formou-se em Design de Moda, mas findo o curso percebeu que o futuro não passaria pela conceção de roupa, mas pelo têxtil. “Acabei por nunca trabalhar na área da moda, quando conclui o curso achei que tinha esgotado todas as minhas ideias nesse campo. Fiz mestrado na Faculdade de Arquitetura e foi aí que comecei a desenvolver estas peças para a parede”, detalha a artista.

Seguiu a sua formação laboral numa fábrica de tapetes nos arredores do Porto, a Beiriz, aprendendo as técnicas tradicionais de tapeçaria, mas sempre a fazer as suas experiências em casa.

[Fotografia: DR/Vanessa Barragão]

As peças começaram a dar nas vistas, as encomendas a crescerem e o tempo a ficar rarefeito e a obrigar a uma escolha: “Aquilo que era um hobbie passou a ser uma profissão, fui cortando o trabalho na fábrica para me ir dedicando cada vez mais às minitapeçarias até que abri o meu primeiro atliê, no Bonfim, ao pé da Faculdade de Belas-Artes”, recorda.

Para dar seguimento às encomendas, Vanessa Barragão contava – e conta – com as mãos da mãe, Zélia, e da irmã, Telma. As viagens constantes de Sul para Norte, a necessidade de um espaço maior e mais luz para trabalhar foram fatores que levaram a designer de volta à terra natal, ao Algarve, em 2020, para dar seguimento à sua arte. Hoje, conta com dez pessoas a trabalhar com ela.