Varíola dos macacos. Casos podem ser “ponta do icebergue”, mas “população não deve estar preocupada”, diz OMS

DRC-WHO-HEALTH-VIRUS-MONKEYPOX
[Fotografia: Cynthia S. Goldsmith / Centers for Disease Control and Prevention / AFP ]

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou na sexta-feira, 27 de maio, que cerca de 200 casos de varíola dos macacos encontrados nas últimas semanas fora dos países onde o vírus geralmente circula podem ser apenas o começo. Não sabemos se estamos apenas a ver a ponta do icebergue”, reconhece Sylvie Briand, diretora do departamento de Preparação para Emergências da OMS, num briefing aos países e sobre a propagação “invulgar” do vírus.

A mesma responsável vinca que “esta não é uma doença com a qual a população em geral deva estar preocupada, não é como a covid-19 ou outras doenças que se espalham rapidamente”.

Briand reafirma, perante os países membros da organização reunidos na Assembleia Mundial da Saúde, em Genebra, que “o número pode aumentar nos próximos dias, porque se está mesmo no princípio deste evento”. Para já, não há certezas sobre o que poderá estar a causar o surto: as hipóteses em estudo são uma mudança no vírus, o que parece improvável pelas análises de pessoas infetadas já feitas, ou uma mudança nos comportamentos humanos, que é mais provável mas ainda está por estabelecer, referiu Sylvie Briand.

Assumindo “a incerteza sobre o futuro da doença”, afirmou esperar que o surto seja “auto-contido”, como acontece nos países onde o vírus é endémico, indicando que se desconhece a extensão real do contágio, uma vez que os métodos de vigilância são diferentes.

“Geralmente, não temos casos ou há casos muito esporádicos exportados para países não-endémicos, mas estão a aparecer cada vez mais casos”, salientou.

O diretor de Emergências Sanitárias da OMS, Mike Ryan, afirmou que a progressão do surto “ainda pode ser evitada nos países não endémicos” através de testagem, rastreio de contactos e isolamento de pessoas infetadas.

Rejeitou a necessidade de “campanhas de imunização em massa” nos países africanos onde o vírus é endémico, por causa das circunstâncias em que o contágio pode ocorrer, e defendeu que o que é necessário são “campanhas de vacinação dirigidas e aplicações dirigidas de terapias”.

“Cada país poderá precisar de uma pequena quantidade de vacinas”, salientou, afirmando que a OMS promoverá o intercâmbio de vacinas para que todos os países que delas necessitem tenham acesso.

A OMS já tem protocolos de tratamento para o vírus Monkeypox, quer de vacinas quer de medicamentos antivirais. A vacina da varíola tem uma taxa de eficácia de 85 por cento na prevenção deste vírus da mesma família.

O contágio implica “contacto próximo” com uma pessoa afetada, nomeadamente contacto face a face ou pele com pele, e o vírus também se consegue transmitir através de contacto com objetos em que esteja presente.

Os sintomas duram entre duas e quatro semanas, começam com febre, dores de cabeça, dores nas costas, fadiga e progridem para inchaço nos nódulos linfáticos e irritação cutânea.

As manifestações da doença podem ser mais graves em crianças, grávidas ou pessoas com deficiências imunitárias, com uma taxa de mortalidade entre os 03% e os 06%.

O número de infeções confirmadas pelo vírus Monkeypox em Portugal era de 58 na quinta-feira, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), que está a estudar a eventual necessidade de vacinar contactos de casos e profissionais de saúde.

A doença, que tem o nome do vírus, foi identificada pela primeira vez em humanos em 1970 na República Democrática do Congo, depois de o vírus ter sido detetado em 1958 no seguimento de dois surtos de uma doença semelhante à varíola que ocorreram em colónias de macacos mantidos em cativeiro para investigação – daí o nome “Monkeypox” (“monkey” significa macaco e “pox” varíola).

Com agências