Daniela Ruah: “Hollywood está a dar poder às mulheres”

A atriz começou esta semana a filmar a nona temporada de NCIS: Los Angeles, onde interpreta a agente especial Kensi Blye. A data de estreia está marcada para 1 de outubro, e já tem várias surpresas alinhavadas.

Daniela Ruah, 33 anos, esteve na festa de verão da CBS, em Los Angeles, e falou ao Delas.pt sobre o movimento feminista em Hollywood, as mudanças do NCIS no sentido de promover uma maior presença de mulheres no elenco e até a situação política nos Estados Unidos da América. Uma análise atenta à atualidade norte-americana e europeia, sem esquecer a luta das mulheres no grande e no pequeno ecrã.

Como encara a discussão sobre igualdade salarial para as mulheres que está a acontecer em Hollywood?
Não há dúvida de que há uma discrepância entre o que as mulheres ganham e o que os homens ganham, essa é uma luta que vamos ter que ter. Mas tenho confiança que os movimentos políticos e sociais em geral conseguem resolver esse assunto, tal como outras questões na História. Há sempre uma falta de equilíbrio, quer seja culturas, etnias, homens e mulheres, e a voz das minorias acaba por falar mais alto e fazer com que a mudança aconteça.

Há também uma tendência para mais protagonistas feministas.
Não é só em relação à quantidade de protagonistas que temos agora no pequeno e no grande ecrã, acho que também tem a ver com o tipo de personagens que são escritas neste momento. Temos mulheres com muita força, não é só a mulher sensual ou sofrida ou mãe. Tudo isto engloba o que é uma mulher, mas não é tudo. Temos agora a Mulher Maravilha, até na Disney os desenhos animados têm muito mais força feminina – por exemplo o Frozen com a Elsa e com a Anna, é um heroísmo entre irmãs, um amor entre irmãs e não homem e mulher. A Moana é uma heroína que sonha alto e vai atrás daquilo que quer e acaba por salvar o seu povo. Temos cada vez mais papéis, pequenos e grandes, a dar poder às mulheres. Isso é super-importante, porque nós queremos dar essa imagem às mentalidades mais jovens e suscetíveis, para que vejam o que podem ser no futuro. As personagens que nós interpretamos acabam por ser uma influência.

“Temos mulheres com muita força, não é só a mulher sensual ou sofrida ou mãe. Tudo isto engloba o que é uma mulher, mas não é tudo.”

Séries como a NCIS: Los Angeles, que a Daniela protagoniza, costumam ser maioritariamente desempenhadas por homens com uma ou duas mulheres nas equipas. Como é que se muda esta realidade sem parecer forçado?
A nossa série este ano vai ser um exemplo perfeito disso. Para já, temos a Hetty (Linda Hunt) que é a nossa chefe desde o princípio da série. Não é uma questão de forçar, é o que é. A minha personagem é fortíssima, quem vê a série sabe. A mais inteligente na sala é a Renée, que faz de Nell. E agora, desde que morreu o Miguel Ferrer, a personagem do Granger vai ser substituída por uma mulher. Chama-se Nia Long e começa a trabalhar terça-feira, ainda não a conheci mas é uma mulher, portanto na nossa série já temos um equilíbrio entre mulheres e homens. Durante muito tempo era eu e a Linda, depois juntou-se a Renée e agora a Nia Long. Possivelmente haverá mais uma segunda personagem mulher.

Nia Long [Fotografia: Facebook]

Como estão a correr as gravações da nova temporada?
Começámos hoje [terça-feira, 1 de agosto], foi o primeiro dia de “escola” e esteve imenso calor. Correu bem, é como andar de bicicleta. Já são oito anos, tenho muita prática nesta personagem.

Esta temporada vai ter mais alguma coisa diferente?
Não faço a menor ideia. Não nos contam nada. A única coisa que sei neste momento que é diferente e vai mexer na energia é a personagem nova da Nia Long, que se chama Shay Mosley. Só temos o primeiro episódio. No ano passado, a mulher do Sam (a personagem do LL Cool J) morreu e ele vai tentar arranjar maneira de voltar à equipa, ainda está em casa de luto. Vamos tentar trazê-lo de volta.

Será possível que tentem incorporar a nova realidade política que se vive no país?
Não temos muito o hábito de envolver política na série. Podemos utilizar casos políticos no sentido, por exemplo, em que aparece a Coreia do Norte, mas em relação a opiniões sobre a presidência ou política nacional não temos tendência a mexer com isso. Temos seguidores de crenças diferentes. Somos uma agência neutra e fazemos o que temos de fazer, que é resolver os crimes.

Mas tem-se sentido em Hollywood algum incómodo com o que está a acontecer?
Estando na Califórnia, sendo um estado Democrata, sente-se muito mais o negativismo em relação ao presidente [Donald Trump]. Eu, pessoalmente, não o apoio de forma alguma, nem aquilo que ele diz nem como o diz, as opiniões que ele tem acho que são profundamente destrutivas e retrógradas. Mas foi o presidente que foi eleito e temos que tentar resolver as coisas. Há agora uma investigação, acho que é tudo muito esquisito, e eventualmente vai-se descobrir a verdade, seja ela qual for. De qualquer maneira, daqui a três anos haverá outras eleições e vamos ver o que acontece.

“Estando na Califórnia, sendo um estado Democrata, sente-se muito mais o negativismo em relação ao presidente [Donald Trump]. Eu, pessoalmente, não o apoio de forma alguma”
As pessoas em Portugal e de fora dos Estados Unidos perguntam sobre o que se está a passar?
Isto não é só nos Estados Unidos. Nós vemos o que aconteceu na Europa, em França [Emmanuel] Macron contra [Marine] Le Pen, que de repente tinha muito mais apoio que antes. Ele ganhou com uma percentagem grande, mas na altura não sabíamos o que ia acontecer. Agora na Polónia, onde queriam mudar as regras do parlamento e a população foi para as ruas. É tudo cíclico. É um pêndulo: vai para o lado esquerdo e depois para o outro extremo. O Obama era liberal, e eu pessoalmente apoiei-o muito, votei nele duas vezes. Agora as pessoas cansaram-se do liberalismo e o pêndulo vai para o outro lado. A vida é cíclica, sempre foi assim na história. Nunca se fica só com uma mentalidade. Eventualmente, todos ganham: uma vez uns, outra vez outros.

O problema é esse, o sistema bipartidário?
Não sei se é o sistema bipartidário ou se é o colégio eleitoral. Porque em vez de ser uma pessoa, um voto, é um grupo de pessoas, representativo, que vota pelo estado inteiro. Isso é que eu não concordo. Por isso é que é tão frustrante saber que a Hillary teve mais três milhões de pessoas a votar nela e não no Trump e mesmo assim ele ganhou. Nesse caso não estamos a representar um país, estamos a representar os representantes. Por outro lado, o Kennedy também foi eleito desta forma, pelo colégio eleitoral. Às vezes funciona para aqui que nós queremos. Mas as coisas faziam sentido numa altura, hoje em dia o colégio eleitoral é capaz de não fazer tanto sentido.

“É frustrante saber que a Hillary teve mais três milhões de pessoas a votar nela e não no Trump e mesmo assim ele ganhou”

Está em contacto com a nova geração de atrizes portuguesas em LA?
Não, eu tenho contacto com a minha geração, as atrizes e atores com quem fiz novelas em Portugal, com quem estive quando me mudei para cá também. Sei que o Diogo Morgado, um amigo talentoso, tem tido imenso sucesso nos EUA, não tem parado de trabalhar e está a realizar os próprios projetos.

Que conselhos deixa às atrizes portuguesas que queiram tentar a sua sorte em Hollywood?
Cada pessoa tem qualidades diferentes, há sempre a questão do visto que se tem de tratar – não é por isso que uma pessoa fica ou não fica, porque quando querem contratar uma atriz, independentemente de onde ela seja, ajudam com a papelada e as coisas acabam por correr bem. Depois, também é muito tentador quando uma atriz trabalha em Portugal – e eu sei disto porque o senti na pele – e vem para os EUA e continuam a oferecer-lhe trabalho. Eu sabia que se saísse, ia perder oportunidades por não estar cá. Mas por outro lado, também é preciso voltar [a Portugal] durante um tempo e ganhar dinheiro para sustentar-me enquanto não tenho trabalho aqui. É uma faca de dois gumes.

Imagem de destaque: Facebook/Daniela Ruah