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Manifestação feminista fez história em 1975

Manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres, no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975. Ao centro, uma das mulheres vestida de noiva põe em causa um dos papéis sociais reservados ao sexo feminino [Fotografia: Arquivo DN]
O Movimento de Libertação das Mulheres contou com cerca de 40 a 50 elementos [Fotografia: Arquivo DN]
Democracia, Sim; Falocracia, Não! Esta foi uma das frases que se fez ouvir no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975 [Fotografia: Arquivo DN]
A manifestação, que nunca passou por queimar soutiens - ao contrário do que foi antecipado pela imprensa -, atraiu curiosos ao Parque Eduardo VII [Fotografia: Arquivo DN]
Ao centra da imagem, a escritora e poetisa Maria Teresa Horta, uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres. Também ela esteve presente no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975 [Fotografia: Arquivo DN]
Mulheres e homens reunidos no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975. Esta não foi uma das primeiras iniciativas da MLM, mas foi uma das que deu mais nas vistas [Fotografia: Arquivo DN]
A imprensa cobriu o protesto que decorreu no Parque Eduardo VII, a 13 de janeiro de 1975 [Fotografia: Arquivo DN]
Manifestação do Movimento de Libertação das Mulheres em frente da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, reivindicando uma sede. Maria Isabel Barreno passa junto a Maria Teresa Horta que tem um cartaz com a frase "Mulheres uma força política". Cartazes "A junta é machista"; "Queremos: Sede". [Fotografia: Arquivo DN]
Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, autoras das 'Novas Cartas Portuguesas', deixam o Tribunal da Boa Hora, a 7 de maio de 1974, após leitura da sentença que os absolveu do caso que ficou conhecido como 'As Três Marias' [Fotografia: Arquivo DN]
Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa escreveram as "Novas Cartas Portuguesas", obra que ficaria para sempre associada ao movimento feminista em Portugal [Fotografia: Arquivo DN]

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Todos os olhares estavam virados para o Parque Eduardo VII, em Lisboa. Afinal, para aquele dia de 13 de janeiro de 1975 estavam prometidas, segundo antecipava a imprensa à data, queimadas de soutiens e até anunciados momentos de strip-tease. O Movimento de Libertação das Mulheres tinha marcado um encontro com o propósito de fazer valer as suas posições contra uma sociedade que oprimia as mulheres.

“Mas nós nunca quisemos queimar soutiens, sempre considerámos que essa não era, nunca seria a forma escolhida para demonstrar o que defendíamos. Não era assim que devíamos defender as nossas causas”, recorda Maria Teresa Horta.

A escritora e poetisa, uma das fundadoras do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM), conta que os propósitos eram outros. “Tínhamos decidido que iríamos queimar os símbolos” dessa opressão.

Para tal, ficou decido que uma das mulheres iria vestida de noiva, uma outra de dona de casa e uma terceira iria mascarada de vamp (um símbolo sexualà época). No fim, o objetivo era queimar o véu e o bouquet de flor de laranjeira, a esfregona e o pano do pó e deitar por terra a ideia da mulher como objeto sexual.

“Acabámos por não queimar nada, nem pudemos fazer uma fogueira”, conta Maria Teresa Horta, no dia em que se assinalam 42 anos sobre aquela manifestação.

O protesto reuniu dezenas de mulheres que se fizeram acompanhar dos seus filhos, mas também de homens, atraídos pela curiosidade em torno do que tinha sido antecipado, mas, afinal, nunca pensado como tal. Mais: “Havia também um pequeníssimo grupo de mulheres que foi também para o Parque Eduardo VII dizer que eram contra o aborto. Coitadas, essas foram logo expulsas por nós”, diz a escritora.

O MLM foi criado a 7 de maio de 1974, no mesmo dia em que Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa foram absolvidas do caso conhecido como As Três Marias e que decorreu da publicação do livro Novas Cartas Portuguesas.


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“No dia da leitura da sentença ena qual fomos absolvidas, eu e a Maria Isabel Barreno decidimos criar um movimento pela libertação das mulheres e foi assim que nasceu o MLM”, recorda Teresa Horta.

Desde essa noite de 7 de maio de 1974 que a iniciativa nunca mais parou. Porém, o nível de adesão nunca foi “além das 40 e tal, 50 e tal membros”, conta a escritora, poetisa e jornalista. Afinal, a sociedade estava ainda longe de estar desperta para as questões do feminismo. “Muitas das mulheres nem sabia na altura o que isso significava”, desabafa a autora.