A chegada de um novo elemento familiar ao agregado gera sempre algumas dúvidas quer nos miúdos, quer nos graúdos. O tempo é de alegria, mas também de muitos anseios sobretudo em torno dos novos papéis que cada um vai passar a ter assim que o bebé nascer.
A pensar nesta confrontação, a formação ‘Maternidade do Irmão Mais Velho’ faz uma visita guiada a crianças e pais, preparando-os para os tempos que se seguem após os nascimentos
Ao Delas.pt, a enfermeira Mónica Pinho, responsável pela implementação do projeto no Hospital dos Lusíadas, revela como funciona este módulo que, para os mais pequenos, está vocacionado para idades compreendidas entre os três e os dez anos. “A Visita à Maternidade do Irmão mais Velho não é uma formação. É um momento informal em que se reúnem famílias que esperam outro bebé, em que o foco são os irmãos, logo é explicada e apresentada toda a dinâmica de admissão ao hospital, o Bloco de Partos e a Maternidade, com um discurso adaptado a crianças”, começa por explicar a responsável.
Nesta visita, prossegue Mónica Pinho, “é proposto à criança que escolha um boneco para que, com a ajuda dos pais, treine a mudança de fralda, trocar roupinhas e dar colinho”.
Entre o “orgulho” e a “responsabilidade” de ser irmão mais velho
“Por norma, as crianças estão contentes com a chegada do bebé e orgulhosas por assumir o papel de irmão mais velho”, refere a enfermeira, que não distingue géneros na hora da receção da notícia. “Poderíamos supor que as meninas seriam mais protetoras e os meninos mais desligados, mas tal não se verifica”, nota.
É claro que há exceções e que os mais pequenos nem sempre assimilam logo o seu novo papel familiar, mas, acrescenta Mónica Pinho, “a maioria das crianças encara com grande responsabilidade e orgulho o facto de se tornarem no mano mais velho, o mais crescido, o mais responsável”.
Quanto aos pais, estes vão tentado, “durante a gravidez, encontrar estratégias para tentar tornar a chegada mais fácil, pois já sabem que não é fácil o período de puerpério, tentando encontrar estratégias para tornar a passagem para família maior”, afirma a especialista ao Delas.pt.
Filhos de pais separados
E quando a chegada do irmão mais novo decorre da construção de uma nova família. Afinal, há cuidados especiais a ter em conta?
Mónica Pinho reconhece que, nestas circunstâncias, “os irmãos mais velhos poderão sempre ter sentimentos ambivalentes relativamente ao aumento do núcleo familiar”. No entanto, a enfermeira sublinha que “nada que, com muito carinho, calma, atenção e acima de tudo, muito diálogo, não seja facilmente transponível”.
Agora, há atitudes proibitivas por parte dos pais e que se aplicam a qualquer tipo de família. “A criança deve ouvir que terá sempre um lugar único e insubstituível, independentemente de quantos irmãos venham, sejam de sangue ou não”, reitera a especialista. E sublinha, para todos os casos: “Os pais não devem incutir responsabilidade de “tomar conta” ao filho mais velho, porque uma criança não pode tomar conta de outra. Uma criança mais crescida pode ajudar, mas nunca substituir o adulto.”.
Contudo, nem só os pais têm um papel relevante neste processo. A restante família pode também tentar colaborar, se possível não usando frases feitas comuns quando aborda o tema. “Ouve-se muito que ‘vais ter um mano para brincar’ e depois o bebé nasce pequeno, frágil, come, dorme e chora. Portanto o bebé só vai brincar quando ficar um pouco menos bebé”, exemplifica a especialista.
Como preparar a chegada do irmão em cinco passos
A enfermeira responsável pelo projeto ‘Maternidade do Irmão Mais Velho’ enumera, ao Delas.pt, cinco conselhos simples que podem ser aplicados pelos pais e no âmbito da preparação para a chegada de um bebé ao seio familiar.
“De facto, e mesmo com as melhores das intenções, vai naturalmente haver menos tempo para se focar na criança mais crescida nas primeiras semanas e meses a seguir ao nascimento”, lembra a enfermeira, que pede também “tempo e espaço” para a mãe “poder recuperar do parto”.
Salvaguardadas estas premissas, veja abaixo as cinco dicas deixadas por Mónica Pinho.
Este projeto, disponível para quem recorre àquela unidade hospitalar, surgiu da “partilha de experiências com casais, especialmente com alguns pais que fizeram o Curso de Preparação para o Parto e Parentalidade e que compartilharam algumas dúvidas e frustrações relacionadas com a chegada de um novo irmão e que nos pedem conselhos sobre estratégias para preparar a chegada do novo bebé”, justifica Mónica Pinho.