Abusos sexuais na Igreja. Grupo Vita vai apresentar proposta para indemnizações às vítimas

Rute Agulhas
Psicóloga forense Rute Agulhas [Fotografia: Paulo Spranger/ Global Imagens]

O Grupo VITA vai apresentar este mês uma proposta de compensação financeira às vítimas de abusos sexuais na Igreja Católica portuguesa, anunciou a estrutura criada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).

“A CEP solicitou também ao Grupo VITA uma proposta concreta sobre como poderão vir a ser definidos e operacionalizados os processos de reparação financeira, que será apresentada durante o presente mês”, adiantou o grupo coordenado pela psicóloga Rute Agulhas para o apoio e acompanhamento das vítimas de crimes sexuais em ambiente eclesiástico.

Em comunicado, o Grupo VITA sublinhou também já ter recebido 71 pedidos de ajuda e realizado 45 atendimentos, assumindo a expectativa de atender este mês – em que se assinala um ano da divulgação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica – mais pessoas que terão sofrido abusos sexuais no contexto da Igreja.

“Na sua maioria, as situações reportadas dizem respeito a pessoas adultas vítimas de violência sexual na infância ou adolescência, existindo também situações de adultos especialmente vulneráveis”, lê-se ainda na nota divulgada.

O Grupo VITA realçou que existem 13 pessoas sujeitas a acompanhamento psicológico ou psiquiátrico regular e que outras oito pessoas foram direcionadas para este apoio e estão numa fase inicial do processo.

Sublinhou o “balanço positivo” dos primeiros oito meses de trabalho e o “processo gradual de confiança” entre as vítimas e o Grupo, que tem procurado trabalhar em rede com outras estruturas da Igreja e destacou ainda a formação já realizada junto das comissões diocesanas, bem como o agendamento de outras ações para catequistas, professores de educação moral e religiosa católica, docentes de escolas católicas e de escolas públicas.

O relatório da Comissão Independente foi um ponto de viragem determinante para a Igreja Católica em Portugal que, desde então, não mais pode alegar o desconhecimento de situações sexualmente abusivas ocorridas no seu seio. As situações de violência sexual existem em todos os quadrantes da sociedade, e a Igreja não é exceção”, lembrou o Grupo VITA, que prevê apresentar o segundo relatório de atividades em Fátima no dia 18 de junho.

O Grupo VITA pode ser contactado através da linha de atendimento telefónico (91 509 0000) ou do formulário para sinalizações, já disponível no ‘site‘.

Criado em abril de 2023, no âmbito da Conferência Episcopal Portuguesa, assume-se como uma estrutura isenta, autónoma e independente e visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica.

O Grupo VITA surgiu na sequência do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht, que ao longo de quase um ano validou 512 testemunhos de casos ocorridos entre 1950 e 2022, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de 4.815 vítimas.