“Ajuda humanitária vai ter de ser mais sustentável e inteligente”, diz voluntária na Polónia

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[Fotografia: ReFOCUS Media Labs]

Esta é uma crise humanitária “dramática”, composta essencialmente de mulheres e crianças, de “separações dos maridos e dos filhos”, diz a voluntária ao Delas.pt. Sonia Nandzick-Herman está na fronteira da Polónia com a Ucrânia no presente e teme pelo futuro.

“As mulheres terão de trabalhar, mas pergunto-me se o poderão fazer nestes gaps europeus como os conhecemos. Por exemplo, a Hungria abriu oito mil vagas no país para quem está a fugir da Ucrânia, mas a maioria são na construção. Como são elas que estão a sair massivamente, como é que as mulheres vão poder trabalhar nisso?”, pergunta a voluntária cofundadora da ReFOCUS Media Labs e que já esteve noutras zonas de crise humanitária como na Grécia ou no Bangladesh.

“A ajuda humanitária tem de ser mais sustentável e inteligente, é o maior desafio no momento”, pede, reiterando que esta está a funcionar, até com bens de qualidade maior face a outras situações que acompanhou, mas que precisa de ser repensada rapidamente e para o longo prazo.

“As pessoas estão a chegar à fronteira e seguir para novos postos de ajuda, em sequência, mas este apoio não pode ser feito sucessivamente de alimentos, de bebidas, agasalhos, produtos de higiene. É preciso encontrar mais soluções, casas próprias para que os refugiados não acabem em situações como existe no sul em Grécia”, acrescenta a voluntária. E alerta: “se vai existir evacuação pelas fronteiras, são mesmo precisos sítios para ficar, os números estão a crescer a uma enorme velocidade”.

Essa é, aliás, uma das grandes diferenças que Patrick Munz nota neste êxodo massivo que já supera o milhão e 700 mil pessoas. O voluntário refere ao Delas.pt que “o mais impressionante é a quantidade gigante de pessoas que está a chegar em tão poucos dias, essa velocidade é uma das maiores diferenças”, nota Munz, que já esteve noutras zonas de conflito do globo.

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[Fotografia: Daniel MIHAILESCU / AFP]

A par desta distinção, Patrick sublinha que “é uma ajuda que está a ser concedida em zona de guerra, mesmo nas fronteiras, o que é novo”. E acarreta riscos. “Temos de lidar com a situação de guerra, está muito próxima, por isso não é comparável a outras crises de refugiados em que estive”.

Prioridades: crianças na escola, alunos evacuados

Ajuda que deve ser alargada, de forma urgente, às crianças. Mais:Sonia Nandzick-Herman fala mesmo em prioridade absoluta: “As crianças têm de ir para escola imediatamente, não sabemos quanto tempo vai durar esta crise humanitária e elas não podem perder anos de educação.”

Um olhar e um clamor que têm por base a experiência que já recolheu com a crise migratória nas ilhas gregas. “A falta de escola é devastador para os cérebros das crianças, elas não têm conhecimento organizado, têm problemas de concentração, em lidar com as emoções e agressividade. Elas têm mesmo de ir para a escola urgentemente”, afirma a voluntária, que revela que a Polónia já começou a admitir crianças no seu ensino.

Patrick Munz fala das crianças que é preciso retirar do território ucraniano e da solidariedade em receber os alunos que ainda estão retidos no país, pondo em evidência uma não solidariedade. “Há muitos alunos de África que não podem sair. Temos de ser solidários com toda a gente porque toda a gente está em perigo. Há estudantes tunisinos e nigerianos que não podem sair, isto é de loucos, não é um sinal positivo”, vinca. “Há 1500 em Sumy que estão sob ataque, é impossível tirá-los de lá e colocá-los em locais seguros”.

Este voluntário que está na fronteira olha também para dentro da Ucrânia. “É preciso levar ajuda para dentro do país”, pede. “Eles estão sem nada nos supermercados, não há combustível, há cidades sem pão e sem água. Conseguimos já mandar quatro camiões para dentro da Ucrânia, é preciso muito, muito mais”.