“Amigos na saúde e na demência”: a iniciativa que quer mudar consciências

MRI Brain Scan of head and skull with hand pointing

A Associação de Alzheimer Portugal prepara uma campanha que pretende aumentar a compreensão sobre as demências e convidar os cidadãos a comprometerem-se ativamente na melhoria do dia-a-dia das pessoas com estas doenças. “Amigos na saúde e na demência” é o projeto que quer criar uma mudança social no mês de alerta para a doença.

Catarina Alvarez, psicóloga e coordenadora do Projeto “Cuidar Melhor”, da Associação Alzheimer Portugal, explicou melhor quais os fatores de alerta da doença, o que é necessário fazer quando se é diagnosticado com algum tipo de demência ou qual a razão pela qual se perspetiva que até 2050 o número de casos de pessoas com demência triplique. O mais importante é “reduzir o estigma social” e perceber que, tal como qualquer outra pessoas, os doentes precisam mesmo de “apoio e compreensão”.

A partir de dia 5 de setembro, esta quinta-feira, a Campanha “Amigos na Saúde e na Demência” vai ter início e será composta por ações de sensibilização em todos os centros comerciais Sonae Sierra e também no site www.amigosnademencia.org. Pode registar-se, aprender um pouco mais sobre a demência através da visualização de um filme e comprometer-se com uma ação.

Veja abaixo a entrevista à especialista, neste mês de alerta para a doença.

Prevê-se que até 2050 o número de pacientes com demência triplique. Porquê?

A razão pela qual é expectável que aumente o número de pessoas com este tipo de doenças, com várias formas de demência, tem que ver com vários fatores, mas destacaria o principal, que é o envelhecimento da população. Por isso, com as nossas sociedades a envelhecerem a este ritmo, é expectável que o número venha a aumentar substancialmente.

Quais os cuidados que não podem faltar a uma pessoa com demência?

A partir do diagnóstico há várias coisas que têm de ser feitas em prol da pessoas com demência. Por um lado, há uma abordagem farmacológica, portanto, ainda que não exista um tratamento curativo para a doença, há fármacos que podem ajudar a controlar a evolução dos sintomas, que é algo fundamental. Há também uma abordagem não farmacológica, com diferentes estratégias e terapias para que a pessoa mantenha as suas capacidades cognitivas e sociais durante o maior tempo possível. Importa a estimulação cognitiva e outras medidas com vista a ajudar a pessoa com demência. Por outro lado, é muito importante que a própria pessoa com demência e a própria família obtenham informação sobre o que é, para estarem melhor preparados para lidar com todas as alterações que vão surgindo com o tempo. E, finalmente, diria que para apoiar uma pessoa com demência são precisas mais duas coisas: primeiro, permitir-lhe que, no início do decurso da doença, planeie a sua vida e receba informação para o poder fazer e, depois, como aquilo que esta campanha quer suscitar, é preciso apoio e compreensão. Todos precisamos de apoio e compreensão e as pessoas com demência também, naturalmente.

Quais são os fatores de alerta para identificar este tipo de doenças?

Há vários sinais de alerta. Designadamente a perda de memória, especialmente de factos recentes, a dificuldade em planear e resolver problemas, dificuldade em executar tarefas familiares, desorientação no tempo ou no espaço, problemas de linguagem oral ou escrita, perder o discernimento. Mas há também outros aspetos não tão ligados às nossas funções cognitivas, como por exemplo, afastarmo-nos do nosso trabalho ou vida social e também alterações de humor ou personalidade. Agora, estes sinais de alerta têm de ser enquadrados e têm de ser devidamente pesquisados, digamos assim. Porque estes sinais de alerta podem querer significar outras doenças que não a demência e importa que as pessoas, perante estes sinais de alerta, procurem um médico.

Porque é que é importante estar alerta para este tipo de doença?

A demência instala-se normalmente de uma forma insidiosa e progressiva, portanto, não é uma doença de instalação aguda. Por isso é que nós falamos de sinais de alerta, porque muitas vezes os familiares só se dão conta quando já estamos numa fase relativamente evoluída da demência. E importa atuar o mais precocemente possível, temos de estar alerta, para que o diagnostico se faça atempadamente. E aliás, esta é uma das nossas principais mensagens que queremos difundir junto do grande público: que é fundamental fazermos um diagnóstico atempado para podermos intervir o mais rapidamente possível, e por isso a necessidade de estamos alerta para estes sinais e procurarmos um médico para o diagnóstico.

Uma nova pesquisa da Universidade John Hopkings afirma que o Alzheimer afeta mais as mulheres do que os homens? É verdade? Se sim, porquê?

Essa investigação é um dos estudos que têm vindo a ser feitos em relação a este tema, do fator género no que respeita à demência. E a verdade é que corrobora com outros estudos e outros resultados. E com a própria realidade, ou seja, aquilo que nós sabemos é que há uma maior prevalência de demência nas mulheres do que nos homens. O principal argumento é o de que elas vivem mais tempo e, portanto, sabemos que o diagnóstico de demência também vai aparecendo com o aumento da idade e que, por isso, como as mulheres vivem mais tempo, estão mais vulneráveis a desenvolver a doença. Esta é uma das explicações. Mas a verdade é que ainda não existe, de forma consolidada, uma explicação mais consensual e completa sobre este fenómeno. Podem também haver outras razões, e estão a ser estudadas.

Já falou do fator idade, mas há mais causas e razões para a demência surgir? Há como prevenir o seu aparecimento?

Apesar de o principal fator para desenvolver demência seja a idade, o envelhecimento normal não pressupõe demência. Não é expectável que todas as pessoas que vivam muito tempo venham a desenvolver a doença. Agora, pelo que sabemos, a prevalência vai aumentando com a idade. Há várias coisas que nós podemos fazer para prevenir, de forma geral, qualquer forma de demência. E isso passa, especialmente, pela adoção de um estilo de vida saudável, e quando falamos disto falamos de alimentação, exercício físico e bons padrões de sono. É importante mantermos o nosso cérebro ativo, mantermos o contacto e a interação social, participarmos na comunidade, mantermos as nossas relações sociais. Isto é fundamental para prevenir a demência.

Ainda que exista uma maior prevalência da doença em pessoas mais velhas, há também casos de pessoas mais novas a desenvolvê-la?

A maior parte das demências desenvolvem-se a partir dos 65 anos, a verdade é que existem pessoas com menos idade que vêm a desenvolver a doença. Nestas situações, costumamos de falar em demência precoce. Não é o número mais representativo de pessoas, mas de facto é possível.

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