Isabel Vaz, a presidente da Comissão Executiva da Luz Saúde, recebeu na terça-feira o prémio Maria de Lurdes Pintassilgo, que distingue as engenheiras que se destacam na sociedade. Com 51 anos – 17 deles passados à frente de um império da saúde privada portuguesa, que ela própria ajudou a fundar e construir -, o percurso desta engenheira tem sido, de facto, bastante distinto.
Dois anos após ter terminado a licenciatura, aos 26 anos, já casada e com um filho, decidiu mudar. Candidatou-se à McKinsey, uma empresa de consultoria estratégica que lhe permitiu trabalhar em vários setores da economia portuguesa: banca, seguros e telecomunicações.
“Foi um ponto de viragem na minha carreira, efetivamente. E foi aqui que descobri a minha verdadeira vocação profissional. A McKinsey é uma empresa de consultoria estratégica de alta direção e, por isso, tipicamente envolvida em projetos estruturantes para a economia portuguesa”, explicou Isabel Vaz numa entrevista dada ao site Info RH, especializado em recursos humanos, em 2014.
Quando, em 1999, trabalhou na privatização do Banco Espírito Santo (BES), na Tranquilidade, foi convidada por Ricardo Salgado para ajudar o grupo a preparar-se para apostar na saúde. Aceitou o convite e ajudou a fundar, em 2000, o grupo Espírito Santo Saúde.
“Criar um projeto de raiz é um desafio magnífico na vida de qualquer gestor e numa área que gosto particularmente porque o meu pai era médico e, desde muito pequenina, tive contacto com hospitais, médicos e com todo o mundo da saúde. Portanto é um sítio onde me sinto bem“, afirmou a engenheira, na altura, numa entrevista ao Sapo.
“A Isabel conseguiu afirmar-se com persistência, num mundo em que os homens e os médicos dominavam.”
Com o passar dos anos, Isabel Vaz construiu um verdadeiro império. O Hospital da Luz, em Lisboa, é o projeto mais especial. Quando o Grupo Espírito Santo se começou a desmoronar foi ela quem conseguiu garantir que o projeto do grupo na área da saúde – que acabou comprado pelos chineses do Grupo Fosun – ia permanecer intacto. Ainda foi convidada por Pedro Passos Coelho para liderar o Ministério da Saúde, mas não aceitou. Sempre foi muito clara sobre o que pensa sobre o trabalho dos ministros responsáveis por este pelouro.
“Mais do que criticar Paulo Macedo por aquilo que tem ou não feito na área da prestação, no financiamento é que o trabalho foi zero. Não foi só Paulo Macedo, mas todos os ex-ministros que se recusam a ver este problema. Há falta de estratégia no financiamento global do sistema de saúde”, disse Isabel Vaz numa entrevista à Antena 1, há três anos.
Pelos amigos é descrita como uma mulher apaixonada, dura e lutadora que gosta de controlar tudo o que se passa dentro da sua empresa. “A Isabel conseguiu afirmar-se com persistência, num mundo em que os homens e os médicos dominavam. Foram poucos os que acreditaram no seu sonho e isso acabou por reforçar a sua determinação”, afirmou Rui Pedro Batista, ex-jornalista e atual chefe de gabinete da comissão executiva da Portucel Soporcel, ao Expresso em 2014.
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