Ativistas ambientais pintam de vermelho quadro de Picasso no CCB sem o danificar

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[Fotografia: Instagram/Climáxico]

Cerca das 12:00 horas desta sexta-feira, 13 de outubro, dois jovens do grupo ambientalista cobriram de tinta a obra Femme dans un fauteuil (métamorphose) (1929), de Pablo Picasso, em exibição no museu do CCB, em Belém, peça da Coleção Berardo na exposição permanente, e colaram-se à parede, segundo um comunicado do grupo.

A obra não sofreu danos porque estava totalmente protegida com um acrílico”, assegurou Delfim Sardo, vogal do conselho de administração do CCB, contactado pela agência Lusa sobre a ação, que também não deixou estragos no museu, a não ser a tinta derramada.

No comunicado, os ativistas escreveram: “Quando soldados alemães entraram no estúdio de Picasso em Paris, onde vivia durante a II Guerra Mundial, e viram o ‘Guernica’ (a famosa obra-prima que retrata os horrores da guerra), perguntaram-lhe “fizeste isto?”. Ele respondeu ‘não, tu fizeste isto’. As instituições culpadas pelo colapso climático declararam guerra às pessoas e planeta. Temos de parar de aceitar esta normalidade”.

De acordo com Delfim Sardo, os jovens, que aproveitaram um momento em que a sala se encontrava sem visitantes, foram detidos pela PSP.

“Além da tinta no acrílico [que cobre a pintura] e alguns pingos na moldura e no chão, não houve qualquer estrago. Tudo isso vai ser limpo. A nossa principal preocupação eram os danos na obra de Picasso”, disse Sardo, sobre a obra do autor nascido em Málaga, Espanha, em 1881 e um dos mais importantes artistas do século passado.

Os jovens mantiveram-se calmos na sala até chegar a polícia, que os deteve, segundo o administrador do CCB, que irá apresentar queixa às autoridades sobre esta ação ativista ambiental, a primeira, em Portugal, dirigida ao património artístico.

Questionado sobre se o CCB vai reforçar a segurança no museu, na sequência do incidente, Delfim Sardo disse que irá realizar uma reunião para apurar a necessidade de implementar novas medidas: “Estou convicto que as medidas existentes são suficientes, mas vamos reavaliar”.

Quanto ao quadro alvo da tinta vermelha, “vai ser limpo e voltará ao seu lugar no percurso expositivo” do museu, acrescentou.

No comunicado, o grupo ambientalista Climáximo disse que se está a viver uma “falsa sensação de paz” e culpa sobretudo os governos e as empresas petrolíferas pela inação: “Vivemos uma normalidade em que os governos e empresas emissoras já nos estão a matar às centenas de milhar todos os anos com a crise climática, de acordo com a ONU. Temos de, conjuntamente enquanto sociedade, parar esta guerra”, escreve Leonor Canadas, porta-voz do coletivo.

“Em termos práticos, há que colocar um fim aos planos de novos aeroportos e expansão do gás em Portugal, parar os projetos da GALP no sul global, e fazer quem criou esta guerra pagar uma transição energética justa”, defendem.

Desde o ano passado que vários grupos ativistas pelo clima têm realizado, em museus e monumentos europeus, ações semelhantes à de hoje no MAC/CCB – inédita em Portugal com obras de arte como alvo – nomeadamente com cola atirada ao quadro “O Grito”, de Edvard Munch, no Museu Nacional de Oslo, ou a pintura “Morte e Vida” de Gustav Klimt (1862-1918), no Museu Leopold, em Viena, na Áustria.

Nos últimos meses, o grupo de protesto Última Geração realizou diversos ataques a obras de arte e edifícios históricos em toda a Itália, nomeadamente com o derrame de tinta preta na histórica fonte de Barcaccia do século XVII, na Escadaria Espanhola de Roma, e atiraram tinta branca para a fachada do Teatro La Scala de Milão.

Dois ativistas do grupo estão a ser julgados no Tribunal do Vaticano por terem danificado com cola, durante um protesto, a base da escultura “Laocoonte e os seus Filhos”, descoberta numa escavação em Roma em 1506.

Após as primeiras ações contra obras de arte em museus, no ano passado, vários museus nacionais públicos e privados contactados pela agência Lusa disseram estar a reforçar as medidas de segurança para proteger os acervos expostos ao público.