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Barro negro de Bisalhães versão design

1. Daniel Pera, 31 anos e Renato Rio Costa, 26, que depois de uma passagem pela SPAL formam agora a dupla do Bisarro.
2. Imagem do barro preto tradicional de Bisalhães que acompanhava a notícia veiculada pela C.M. de Vila Real sobre a integração daquele no Património Cultural Imaterial da UNESCO.
3. Foto da DGPC mostrando o processo de cozedura, parte relevante e determinante para a integração da louça preta de Bisalhães no Património Cultural Imaterial da UNESCO.
4. Conjunto de Café, contemporâneo, por Bisarro, em louça preta de Bisalhães.
5. Conjunto de Chá, contemporâneo, por Bisarro, em louça preta de Bisalhães.
6. Jarro de Água, contemporâneo, por Bisarro, em louça preta de Bisalhães.
7. Jarro de Vinho, contemporâneo, por Bisarro, em louça preta de Bisalhães.

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Artesanal, histórico e relevante, são as premissas que Daniel Pera, 31 anos e Renato Rio Costa, 26, encontraram no barro preto de Bisalhães – cujo processo de fabrico faz parte desde 29 de novembro de 2016 do Património Cultural Imaterial da UNESCO – e com ele partem em fevereiro para a Ambiente, em Frankfurt, no restrito grupo Talents, jovens talentos do design escolhidos a dedo pelo mundo.

Juntos formam o Bisarro, “um projeto sociocultural, ligado às raízes artesanais e criativas de Vila Real, num período em que as artes menores são cada vez mais valorizadas e ganham algum terreno no mercado. O Bisarro é um projeto sobre o barro preto de Bisalhães, sobre esta arte em particular e sobre os artesãos que a trabalham com as próprias mãos “, como nos conta a dupla.

Para saber mais falámos com eles, numa semana em que já embalavam as cerâmicas para rumar à Alemanha.

Como receberam a recente notícia do processo do barro preto inscrito no património da UNESCO?

Há bastante tempo que estávamos ansiosos à aguardar o dia da convenção da UNESCO na Etiópia. No dia do anúncio estávamos a acompanhar de perto o evento através da equipa da Câmara Municipal de Vila Real que estava presente. Recebemos a notícia através de um dos elementos da equipa e foi de facto a confirmação de que esta olaria tem algo de especial e que vale a pena salvaguardar esta tradição.

Como pensam que pesará esta decisão na existência da Bisarro?

A classificação da UNESCO foi sem dúvida muito importante para a região e principalmente para esta tradição. Para nós, foi a confirmação que estamos no caminho certo. Acreditamos que novas oportunidades e novos horizontes surgirão não só para a olaria como também para os oleiros. O Bisarro continuará a trabalhar para impulsionar esta arte e esta tradição, agora reconhecida mundialmente.

O facto de existirem hoje apenas meia dúzia de artesãos do barro preto não compromete a sua existência? O que pode fazer a Bisarro para não deixar morrer a arte?

O facto de existirem poucos oleiros a trabalhar esta tradição é um grande risco, por esta razão a olaria de barro preto de Bisalhães está em vias de extinção. Além de serem poucos oleiros estes não têm a quem passar a herança desta tradição.

Ao longo deste processo, desta aventura, tivemos a oportunidade de trabalhar com vários oleiros. Neste momento estamos a trabalhar com um oleiro mais novo, o Manuel Tapada, da nova geração de oleiros desta tradição. Atualmente, trabalhar com gerações mais novas tem sido uma excelente oportunidade para inovar e experimentar novas formas e técnicas de trabalhar esta tradição.

Paralelamente à nossa produção temos alguns planos para salvaguardar esta olaria. Desde a formação de novos oleiros à aproximação das Universidades e de jovens Designers a esta arte. Atualmente temos um protocolo com a UBI – Universidade da Beira Interior e estamos a trabalhar juntamente com alunos de mestrado. Tem sido uma excelente experiência e estamos a conseguir captar o interesse das camadas mais jovens para vertentes mais artesanais.

Quais as vossas expectativas para o Talents?

Sendo a Ambiente uma das maiores e principais feiras de bens de consumo as nossas expectativas são bastante elevadas. Conhecemos esta feira bastante bem, dado o nosso background ligado à cerâmica, e temos a noção do impacto e da visibilidade que a Ambiente pode dar ao Bisarro. Nesta edição de 2017 temos a oportunidade de expor o nosso projeto, os nossos produtos e, principalmente levar um pouco do nosso país e da nossa cultura além fronteiras, por esta razão não poderíamos estar mais orgulhosos e expectantes.

Como conseguiram resistir à vaga migratória de jovens talentos que assolou o nosso país?

Não negamos que o apelo à migração não foi uma possibilidade para qualquer um dos dois. O facto de estarmos empregados nos últimos anos foi um fator importante para esta vaga nos ter passado ao lado. Tivemos a sorte de estar a fazer o realmente gostamos, a cerâmica.

Já têm produção própria disponível para venda? Onde?

Estamos neste momento a terminar o nosso site onde poderão fazer pré-encomendas das nossas peças. Vamos iniciar a produção em escala no início do próximo ano, neste período começaremos a expedir as pré-encomendas registadas e daremos início a novas. Depois do lançamento online iremos ter as nossas peças à venda em vários pontos, não só em Portugal como também em alguns países a anunciar brevemente.

Para além do Bisalhães, têm alguma projeto futuro abarcando outro produto tradicional local?

Neste momento o nosso foco é o Bisarro, não temos outro projeto especificamente para outro produto tradicional. No entanto, estamos a trabalhar outros materiais nacionais na nossa coleção, como por exemplo a cortiça e a madeira. Nas próximas coleções vamos conciliar o barro preto de Bisalhães com outras artes tradicionais, igualmente Portuguesas.

À QUEIMA ROUPA

O que pediram ao Pai Natal?

Pedimos ao Pai Natal um excelente futuro para o Bisarro!

Porque gostam de trabalhar um com o outro?

As nossas competências são bastante complementares. Conhecemo-nos bastante bem, o que facilita o workflow.

Como é o vosso espaço de trabalho ideal?

O nosso espaço ideal neste momento é onde possamos estar os dois a trabalhar, a discutir ideias e especialmente onde nos sintamos bem.

Se abrissem uma vaga, quem gostariam que enviasse um currículo?

Considerando qualquer pessoa como elegível para esta questão, sem dúvida a Stephanie Hering ou a Mikaela Dorfel, dois grandes ídolos e referências do mundo na cerâmica.

Para cozinhar, louça de barro ou de silicone? Porquê?

Sem dúvida de louça. Não entrando em questões técnicas, que não dominamos. A cerâmica será sempre indissociável da cozinha e do ato de cozinhar, faz parte da nossa cultura e das nossas tradições.