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Chico Buarque, o “machista”, volta a entender as mulheres como ninguém

Percorra a galeria de imagens e conheça algumas das mulheres da música de Chico Buarque [Fotografia: DR]
'Tua cantiga' - Primeira canção e single de avanço do novo disco, 'Caravanas'. Foi objeto de polémica assim que foi apresentada, ainda antes do álbum ser lançado, alegadamente por ter versos machistas. Ouvimos e comprovámos que a única coisa que tem de moralmente questionável, se quiser, é falar sobre um homem casado disposto a deixar a mulher pela amante, em vez de optar por ficar e enganar as duas. [Fotografia: Shutterstock]
'Blues p'ra Bia' – Admitir uma paixão não correspondida por uma mulher que não se interessa sexualmente por homens é machista? Pois é disso mesmo que fala o segundo tema do novo disco. “Que no coração de Bia/Meninos não têm lugar/Porém nada me amofina/Até posso virar menina/Pra ela me namorar", diz parte da letra. Se isto não é poder de encaixe e emancipação... [Fotografia: Shutterstock]
'A Moça do Sonho' – Parceria com Edu Lobo é um dos dois temas não inéditos deste 'Caravanas'. Nele, Chico volta à mulher inacessível, recorrente na sua obra. [Fotografia: Shutterstock]
'Desaforos' – Penúltimo tema do disco, volta a falar de uma mulher amada à distância. [Fotografia: Shutterstock]
'Geni e o Zepelim' – Canção composta para a "Ópera do Malandro" (lançada em disco em 1978) fala da hipocrisia da sociedade, através da forma como uma mulher, Geni, é tratada. [Fotografia: Shutterstock]
'Essa Moça está Diferente' – No disco 'Chico Buarque de Hollanda nº.4', Chico mostra-se atento à emancipação feminina, 'Essa moça tá diferente/ Já não me conhece mais/ Está pra lá de pra frente/ Está me passando pra trás”. [Fotografia: Shutterstock]
'Dura na Queda' – Do álbum 'Carioca' (2006) é uma ode à mulher que "samba" sobre os problemas. “Perdida/ Na avenida/ Canta seu enredo/ Fora do carnaval/ Perdeu a saia/ Perdeu o emprego/Desfila natural” [Fotografia: REUTERS/Paulo Whitaker]
'As Atrizes' – Do mesmo disco, a canção retrata o fascínio, desde a infância, pelas atrizes. Chico Buarque foi, de resto, casado com a atriz Marieta Severo, com quem teve três filhas. [Fotografia: Shutterstock]
'Mulheres de Atenas' – Do álbum 'Meu Caro Amigo', (1976), fala das mulheres submissas aos maridos, que “Quando fustigadas não choram/ Se ajoelham, pedem, imploram/ Mais duras penas/ Cadenas”. [Fotografia: Shutterstock]
'A Rita' – Do disco 'Chico Buarque de Hollanda' (1966), é um tema que fala de desamor. Aqui é o homem que é abandonado pela sua amada. [Fotografia: Shutterstock]
'A Mais Bonita' – Mais uma ode à musa, mulher eleita das paixões dos vários 'eus' de Buarque e mais um tema cantado por uma voz feminina. Maria Bethânia interpretou esta canção, editada no álbum 'Chico Buarque' (1989) e interpretada originalmente com Bebel Gilberto. [Fotografia: Shuttertsock]

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Em 2017, Chico Buarque, 73 anos, cantor, ícone da cultura do Brasil, volta a lançar um disco, seis anos depois do último álbum de originais. Em 2017, e com 50 anos de carreira, Chico Buarque, que tem cantado várias vezes as mulheres, e para as mulheres, é acusado de machismo devido a parte da letra de ‘Tua Cantiga’, tema de abertura do seu novíssimo disco, ‘Caravanas’, lançado esta sexta-feira, 25 de agosto.

Em causa estão os versos “Quando teu coração suplicar/ Ou quando teu capricho exigir/ Largo mulher e filhos/ E de joelhos vou te seguir”. Ora, como publicou o próprio Chico, na sua página de Facebook, dias antes de lançar o novo disco, respondendo à “polémica”: “Será que é machismo um homem largar a família para ficar com a amante?”

O mesmo post, alegadamente uma réplica escrita de uma conversa ouvida pelo cantor no supermercado, dá uma resposta simples, mas desarmante: P”elo contrário. Machismo é ficar com a família e a amante”.

O disco está disponível para escuta no Spotify e dele constam outros temas onde Chico Buarque fala de mulheres, das suas paixões, nem sempre correspondidas, por elas, de amores vividos ou platónicos, encontros e desencontros e questões sociais e políticas. No fundo, fala de si, da vida, do quotidiano, do que o rodeia e inquieta. Como sempre fez.

Neste ‘Caravanas’, as referências às mulheres, de uma forma ou de outra inalcançáveis para o narrador, aparecem também de forma explícita nos temas ‘Blues Pra Bia’, ‘A Moça do Sonho’ e ‘Desaforos’ . A presença feminina aparece materializada ainda na canção ‘Dueto’. Gravado originalmente, em 1980, por Nara Leão, o tema foi agora incluído, pela primeira vez, num disco de seu e conta com a participação da sua neta, Clara Buarque.

O álbum fecha com a faixa-título, ‘Caravanas’, uma canção sobre as desigualdades sociais e raciais que afetam o Brasil.

As mulheres na obra de Chico

As mulheres estão de tal forma presentes na obra do cantor e compositor brasileiro, desde as canções aos livros, que já foram mesmo objeto de estudo. ‘Sem Fantasia – Masculino-Feminino em Chico Buarque’, livro de Maria Helena Sansão Fontes, aborda essa dimensão, explorando as letras em que o músico escreve sobre mulheres e se coloca, ele próprio, no lugar delas, fornecendo o ponto de vista feminino.

São recorrentes os temas que lhes votou ao longo dos seus discos, como pode ver na fotogaleria em cima, e dezenas as páginas que dedicou às musas que inspiram os seus protagonistas, como Castana Beatriz/Ariela Masé, no livro ‘Benjamim’.

As suas perspetivas sobre as mulheres parecem ser de tal forma aceites pelo sexo feminino e longe de possíveis associações ao machismo, que há playlists no Spotify com o nome “Chico para Mulheres”. Foram criadas, diz a frase de apresentação, “para aqueles momentos em que você, mulher, sente como se Chico Buarque fosse o único homem capaz de te compreender”.

Na lista de músicas escolhidas aparecem canções cujos títulos têm nomes de mulheres, mas igualmente temas com a sua assinatura que foram popularizados em interpretações femininas, como ‘Olhos nos Olhos’, por Maria Bethânia, ou ‘Meu Amor’, por Elba Ramalho, provando que, se Chico canta tão bem as mulheres, estas podem retribuir o favor, fazendo suas as composições dele.