Há brinquedos sexuais que podem ter um uso mais individual ou mais em casal. É bem possível que todos eles entrem, em tempo de festa a dois, a jogo numa relação que decida integrar sex toys – vibradores, plugs, sugadores de clitóris, anéis, strapons ou mesmo equipamento mais comum, como a lingerie, ou mais vasto, como um baloiço.
Mas, e numa separação, como é que habitualmente se faz esta divisão da intimidade que se criou a dois. Depois das alegrias, quem fica com o quê? Porquê? O que fazer a todos estes objetos carregados de, muito provavelmente, boas memórias?
“Já me falaram disso não em relação a brinquedos, mas relativamente a lingerie”, conta Tânia Graça. A sexóloga vinca ao Delas.pt que os relatos chegam de mulheres que não sabem como lidar com roupa íntima que usou naquela relação e diante de uma rutura. “Muitas falam da noite especial em que foi usada e que não conseguem voltar a usar noutro momento, com outra pessoa”, descreve, e lembra: “À medida que vamos fazendo o luto da relação, as memórias que estão associadas vão ganhando um novo lugar. Claro que há memória, consciência e associamos a determinados objetos a momentos e pessoas, acredito que haja aqui algum impacto de quem os traz, da nova pessoa.”
A verdade é que, muitas vezes, “os casais têm uma caixa dos brinquedos, estão lá todos”. “Havendo uma divisão dos bens: podes ficar com a casa, carro, mas não fiques com eles…”, graceja a sexóloga.
É também pelo humor que Megwyn White, sexóloga americana, responde. “Creio que quem primeiro chega, primeiro se serve”. A trabalhar com a marca Satisfyer – recentemente popularizada por via do sugador de clitóris -, recomenda vivamente que a célebre ‘caixa’ seja logo levada ainda antes de “fazer parte do acordo de divórcio”. Acrescenta, porém: “Se os puder dividir tanto melhor, por um divórcio e uma vida saudável”.
“Essa divisão deve ser justa. Num casal heterossexual, é natural que os brinquedos de estimulação do pénis fiquem mais para ele e os do clitóris para ela”, sentencia Tânia Graça. Uma coisa é certa: “Há brinquedos que são muito caros. Se não os usarem, doem-nos. É uma perda”, sublinha.
Sex Toys? A partir de que momento na relação
Há de tudo. Ao Delas.pt, a sexóloga Megwyn White, da empresa satisfyier, revela que a experiência da marca aponta “um aumento na pesquisa de casais após 7 anos de relacionamento”.
Curiosa coincidência com as ideias sociais construídas sobre as crises na relação. “Os brinquedos são uma ótima maneira de provocar surpresa e novidade num relacionamento. Não temos dados sobre o momento específico em que os casais se sentirão mais confortáveis para introduzir brinquedos sexuais na sua relação. Vimos que as gerações mais jovens estão mais propensas a adotar e integrar esses tipos de produtos, talvez porque tenham sido capazes de expressar mais facilmente seus desejos por meio das redes sociais e encontrar meios para experimentar”, acrescenta a especialista, em resposta por escrito.
Tânia Graça descarta a ideia da “crise dos sete anos” até porque a experiência clínica que tem aponta para outros caminhos. “O tabu está quebrar-se cada vez mais e, do que vejo das mulheres que acompanho, a chegada de brinquedos sexuais dá-se cada vez mais cedo na relação”, refere, e acrescenta: “No casal mais comum, aquele que costumo chamar mais sexo-baunilha, acredito que há um interesse que chega cada vez mais cedo”.
“Agora, em vez de se esperar dez anos para estas mudanças na relação, passámos a um ano ou dois, chegam outras formas de curtir. Claro que continuam a existir condicionamentos, sobretudo em relações heterossexuais, de natureza machista e patriarcal e que se sentem ameaçados com os brinquedos, mas isso está a mudar”.
“Estes tipos de produtos podem ser intimidantes para os casais explorarem inicialmente porque são essencialmente um novo suporte de prazer. Esta é realmente uma das razões pelas quais é útil encorajar a autoexploração, experimentação e prática”, recomenda Megwyn White.
Para a especialista norte-americana há ainda uma segunda razão que se explica o adiamento da partilha a dois. “Por vezes, um dos parceiros pode-se sentir um pouco intimidado por um produto que estimula a excitação. Mas é importante lembrar que eles são realmente produtos destinados a aumentar o prazer, e não pretende substituir um parceiro”, ressalva. Nada, claro, que a comunicação não resolva. “Quando os casais são capazes de comunicar os seus desejos com clareza e tranquilizar os parceiros, esse tipo de obstáculo pode ser facilmente superado”, aconselha.
Quem mais procura e porquê?
White explica ao Delas.pt que a procura parece ser mais evidente junto dos mais novos. “Geração Z (nascidos a partir de 1990) e Millenials (a partir de 1980) tendem a ter atitudes mais positivas em relação ao sexo e adotar esses produtos mais prontamente. No entanto, vimos um aumento nas gerações mais velhas usando os produtos, especialmente a tecnologia Air Pulse”.
Quanto ao uso por parte dos mais novos, a sexóloga estabelece algumas barreiras. “Os brinquedos sexuais podem ser usados por qualquer pessoa em qualquer idade que seja sexualmente ativa. Não é necessariamente algo que recomendasse aos adolescentes, porque os corpos começam, nessa idade, a ficar sintonizados com o prazer e sensíveis ao toque”, ressalva. Mas daí em diante, a recomendação é outra: “Conforme as pessoas envelhecem, os corpos às vezes ficam mais lentos, respondem e podem precisar de ativadores para a excitação. Este tipo de produtos ajuda a manter o fluxo sanguíneo e, quando combinados com uma dieta saudável e exercícios, são complementos maravilhosos para um estilo de vida sexual saudável”, refere.
Certo é que, nota Megwyn White, “nos Estados Unidos da América, nota-se um aumento no número de casais que usa este tipo de produtos, mas também no número de indivíduos que os exploram para uso individual”, com a característica de alguns dos dispositivos da marca permitir “uma abordagem ‘mãos livres”, “com programas personalizados ou com possibilidade de sincronizar os produtos com a música preferida ou um áudio erótico.”