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Dia Mundial da Saúde: Como está a ser melhorado o nosso acesso?

O que têm as USF? O presidente das USF salienta que estas unidades proporcionam, a muitos níveis, uma “acessibilidade diária”, evidenciando, nas áreas onde são maisrepresentativas, taxas de cobertura exemplares [Fotografias: Shutterstock]
Prevenção na gravidez.
Acompanhamento dos recém-nascidos.
Plano de Vacinação.
Rastreios oncológicos.
Saúde infantil e juvenil.
Saúde do adulto.
Acompanhamento e controlo de diabéticos.
Acompanhamento e controlo de hipertensos.
O que falta?
Alargar a cobertura das USF ao país.
Médicos de Família: Esta é, segundo João Rodrigues, a maior carência das USF.
Saúde da mulher: na gravidez, verificam-se “dificuldades das maternidades darem resposta ao seguimento da gravidez normal, fazendo os exames devidos. Neste momento estamos a ter, em várias regiões do país, dificuldades de fazer, dentro do serviço nacional de saúde, as ecografias no primeiro, segundo e terceiro trimestre, devidamente controladas com o apoio dos obstetras.”
Complementarmente, faltam também outros profissionais de saúde. “Faltam-nos outras valências que vão para além da medicina geral e familiar, mas que devem estar incluídas nos cuidados de proximidade e onde temos uma enorme carência. “As USF já têm a capacidade de trabalhar em equipa, o que necessitam é de outros recursos profissionais para que possamos alargar o leque de cuidados”, diz o presidente da Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar.
Psicólogos Clínicos: “Devíamos ter um psicólogo para 15 000 utentes. Neste momento, temos um para 300 000 utentes".
Nutricionistas: “Devíamos ter, no mínimo o dobro, ou seja, um nutricionista para 20 000 utentes. Neste momento, temos um para 50 000."
Médicos dentistas: Aqui, diz o presidente da Associação de Unidades de Saúde Familiar, sem apontar números, “o cenário é bem pior”.
Fisioterapeutas: O mesmo acontece na fisioterapia, residual.
Terapeutas da Fala: Segundo o responsável, esta é também das área menos onde existem menos recursos profissionais, ao nível das USF.
Demências: Cerca de 92% das unidades não têm, nas equipas, elementos dedicados especialmente às demência, segundo o documento ‘Bases para a Definição de Políticas Públicas na Área das Demências’, em consulta pública em 2017.
Cancro de Pele: A Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo (APCC) apela à criação, em cada Unidade de Saúde Familiar, de equipas especializadas e preparadas para despistar através da teledermatologia suspeitas de cancro de pele.

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Centros de Saúde, Unidades de Cuidados de Saúde Personalizados, Unidades de Cuidados na Comunidade ou Unidades de Saúde Familiares. As designações, funções e enquadramentos destas entidades podem variar, mas no âmbito da Reforma dos Cuidados de Saúde Primários – que focam a sua importância na ligação ao utente – são as Unidades de Saúde Familiar (USF) aquelas que parecem revelar-se mais eficientes no garante do um verdadeiro acesso à saúde.

O acesso universal a cuidados de saúde é o tema escolhido este ano, pela OMS, para assinalar Dia Mundial da Saúde, que se celebra a 7 de abril, e 2018 é também o ano em que a Associação Nacional de Unidades de Saúde Familiar, em parceria com a DECO, pretende envolver os utentes no cumprimento desse objetivo, tendo lançado, para o efeito uma campanha para criação de Comissões de Utentes nas USF. Através do projeto A minha saúde, a minha comunidade, 28 grupos submeteram candidaturas para receberem a formação necessária para poderem constituir comissões formais.

A constituição oficial das Comissões de Utentes será feita no encontro nacional das USF, que este ano decorre a 26 de maio, em Gondomar, revelou ao Delas.pt, o presidente da Associação, João Rodrigues.

De acordo com o responsável, há 6 milhões de cidadãos inscritos nas USF e 4 milhões no modelo tradicional (em geral, o correspondente aos centros de saúde tradicionais).

Cerca de 775 mil não têm, contudo, acesso a médico de família. Em termos territoriais, refere João Rodrigues, atualmente, a região de Lisboa e Vale do Tejo tem 580 mil pessoas inscritas sem médico de família, o Norte, 65 mil, o Algarve, 78 mil, o Alentejo, 19 mil, e o Centro, 14 mil. “Nós temos concentrados em Lisboa 75% dos problemas. E quem não tem médico de família tem contactos pontuais [com os serviços de saúde], não tem seguimento”, sublinha.

Na semana que antecedeu este Dia Mundial da Saúde, a associação a que preside deu início a uma campanha, com outdoors espalhados pelo país, para que todos os cidadãos residentes em Portugal possam ter condições para recorrer a uma Unidade de Saúde Familiar.

“Queremos que toda a gente tenha acesso ao primeiro mundo. Não podemos viver nesta dicotomia, do centro de saúde tradicional, onde ainda há filas de espera, não há profissionais para dar resposta a todas as valências necessárias”

A cruzada por converter o máximo de unidades ou centros em Unidades de Saúde Familiar encontra justificações não apenas na qualidade do acompanhamento médico prestado neste tipo de unidades de cuidados primários, que é defendida por João Rodrigues, mas numa eficiência de gastos para o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

As USF “já demonstraram que são, em termos de custo-eficiência, melhores e que reproduzem em termos qualitativos resultados completamente diferentes e melhores”, afirma, acrescentando que essa qualidade “evita internamentos, idas desnecessárias ao serviço de urgência de um hospital, controla melhor a grávida, numa gravidez normal, um recém-nascido, um diabético, um hipertenso ou um asmático”.

Dados de estudos do Ministério da Saúde também reconhecem a eficiência económica dessas unidades. A reforma da rede de cuidados primários em Unidades de Saúde Familiar permitiriam poupar, anualmente, ao SNS 103 milhões de euros.

Mas a cobertura territorial não é uniforme e revela discrepâncias.

“Temos várias velocidades em termos regionais. Temos o norte quase todo coberto praticamente a cem por cento por USF, Lisboa e Vale do Tejo (LVT) está a 30%. A diferença é abismal! O país tem uma cobertura de 70% de USF, mas isso é o país. O Algarve tem uma percentagem baixíssima, de 20%, LVT com 30%, o Norte com 80% a 90%.”

Uma heterogeneidade que, diz, tem a ver com as políticas de captação de recursos humanos. “O norte há mais de duas décadas que privilegia a formação de orientadores de formação de medicina geral e familiar, por isso há mais capacidade formativa. É na Grande Lisboa que há carência de médicos de família. Então temos uma aposta predominantemente na doença e não na saúde. Os cuidados de saúde primários servem para prevenir a doença.”

Proporcionar condições de trabalho e acompanhamento técnico aos profissionais, principalmente aos recém-formados, é um dos passos que a associação considera fundamental para aumentar a cobertura nas áreas do território mais desprovidas de USF.

Por outro lado, e como medida complementar, é preciso acrescentar outras valências, ainda sub-representadas nestas unidades, como a medicina dentária ou de reabilitação, entre outras.

Na fotogaleria, em cima, veja quais os serviços prestados, com uma cobertura total ou quase total, e quais os que ainda carecem de reforço, nas USF.