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Diário de Ljubomir Stanisic: a greve, a fome, o hospital e a câmara

[Fotografia:Pedro Rocha / Global Imagens]

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O ‘chef’ esteve desde a manhã de quarta-feira, 2 de dezembro, de regresso à rua, à porta do Parlamento. Um regresso ao protesto depois de ter sido hospitalizado e ser tratado na sequência de se ter sentido mal devido à greve de fome que está a cumprir ao abrigo da manifestação do movimento ‘Sobreviver a Pão e Água’ à porta da Assembleia da República, em Lisboa.

Mas o longo dia não acabou sem que o polémico ‘chef’ de 42 anos, agora na SIC, tivesse sido recebido por Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, como mediador entre o movimento ‘Sobreviver a Pão e Água’ e o ministro Pedro Siza Vieira para encontrar soluções com o setor.

Ljubomir Stanisic e JosÈ Gouveia, em greve de fome, foram recebidos esta noite nos Passos do Concelho, pelo presidente da C‚mara de Lisboa, Fernando Medina.
Fernando Medina; Ljubomir Stanisic; JosÈ Gouveia
( Pedro Rocha / Global Imagens )

Em declarações aos jornalistas à saída da reunião com o presidente da Câmara de Lisboa, Ljubomir Stanisic adiantou que está prevista uma nova reunião com Fernando Medina para a próxima semana. Ficou em cima da mesa a possibilidade de interromper a greve de fome que dura há dias.

 

“Discutimos várias ideias, várias possibilidades, e ficou acordado que dentro de sete dias, oito dias, na próxima semana, teremos um novo encontro, porque em muitas medidas que foram discutidas em conjunto o próprio Fernando Medina estava de acordo com uma parte delas. A outra parte sabemos os três que, praticamente, é impossível chegar a soluções para todos, por isso, aguardamos a próxima reunião”, explicitou Ljubomir Stanisic.

Fernando Medina, à saída do encontro, frisou que “não há nenhuma guerra de quem vence e quem perde”. Aliás, Ljubomir Stanisic, que ladeava o presidente da Câmara de Lisboa enquanto o autarca falava os jornalistas, também rejeitou essa ideia.

Questionado sobre se concorda com a decisão do Governo de não aceder às reivindicações de reuniões destes manifestantes, o edil de Lisboa, disse que compreende “as razões do Governo”, que tem um “diálogo institucional com os representantes institucionais do setor”.

Da greve ao internamento

Stanisic, de 42 anos, teve de assinar um termo de responsabilidade para deixar a unidade de saúde onde tinha sido acudido na quarta-feira, 2 de dezembro.

Assim que regressou à rua e aos protestos, o novo rosto da SIC – que será protagonista de um documentário a ser emitido na plataforma de streaming da estação de Paço d’Arcos, a OPTO – voltou para junto dos colegas empresários de restauração, que se juntaram naquele local desde 27 de novembro, para protestar contra as restrições tomadas pelo Governo devido à pandemia.

 

Nas redes sociais, o ‘chef’ já agradeceu às pessoas o carinho que recebeu, frisando que continua à porta da Assembleia. “Neste momento em que entramos no nosso sétimo dia de greve de fome, é o vosso apoio, a solidariedade, a união, que nos alimenta a alma e nos dá forças para avançar”, afirmou.

O também empresário admitiu que, devido à greve de fome, o corpo está “cada vez mais abalado”, mas a convicção fica cada vez mais forte. “O mundo está a ver. E não vai esquecer. A luta continua!” prometeu.

Na terça-feira, o grupo de manifestantes foi visitado pelo líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos. Durante a conversa, Ljubomir Stanisic pediu ao presidente dos centristas para não falar de política. “Se voltares a falar do partido, e falo pelo grupo, vou ter que pedir para saíres”, avisou.

O ‘chef’, que se tornou num dos rostos do movimento, tem tido um papel fundamental no seio da manifestação. A 29 de novembro, segundo a imprensa, o empresário foi visto a abraçar um colega protestante que chorava.

Esta não é a primeira longa luta que Ljubomir Stanisic enfrenta na vida. Aos 14 anos, o ‘chef’ viu deflagrar, na sua cidade natal, em Sarajevo, a guerra da Bósnia, obrigando-o, como já referiu, a perder a infância subitamente para lutar e sobreviver a este período sangrento, iniciado em 1992.

“A minha infância morreu aos 14 anos. Morreu a bicicleta, a bola, foi-se tudo à vida. E com 14 anos não sabes nada, és um estúpido. Não há sentimentos”, contou o ‘chef’ numa entrevista ao programa Alta Definição (SIC), adiantando que naquela altura não tinha noção de que era um guerreiro porque só se preocupava em sobreviver.