
Mesmo retidos em casa, não tem sido raro sentir, de vez em quando, um ou outro aroma de flores a entrar pela janela, sobretudo se se vive perto de jardins ou mesmo no campo. A primavera começaa chegar e, com ela, chegaram também os poléns e as reações alérgicas.
A tosse seca, o pingo no nariz, a garganta e os olhos com comichão juntam-se, agora, ao medo que tudo isto seja sintoma de algo maior do que uma reação alérgica: Coronavírus.
Neste momento, não é possível aceder aos índices polínicos em Portugal em tempo real porque a Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) “não está” a monitorizar os grãos de pólen nem a fazer previsões “por motivo da contingência COVID-19”, lê-se no site da Rede Portuguesa de Aerobiologia.
Ainda que essa informação não esteja disponível, a verdade é que a tosse seca é, por estes dias, ainda mais comum. Importa, porém, fazer as devidas distinções. Ao Delas.pt, o presidente da Sociedade Portuguesa de Penumologia, António Morais, traça uma linha clara de diferenças. É preciso não entrar em pânico e, sobretudo, não avolumar os serviços. No entanto, é importante não desvalorizar.
“Se for apenas a tosse seca como sintoma, não me parece que possa ser associável”, começa por explicar o especialista. “A infeção pelo SARS-CoV-2 (Covid-19) acompanha-se de tosse, mialgias (dores) e febre, o quadro clínico é um pouco diferente”, distingue António Morais.
Na verdade, a tosse é, de longe, o sintoma mais comum da infeção por Coronavírus, tendo sido reportada, segundo dados do Boletim Epidemiológico de 23 de março, por 72% dos 2060 infetados, seguida da febre (60%), das dores musculares (42%) e das dores de cabeça (42%).
Ainda que admita que haja “um caso ou outro em que haja alguma dificuldade na diferenciação”, o especialista lembra que há diferenças que são identificáveis por quem já teve reações alérgicas. “Não será a primeira vez que a pessoa teve por exemplo tosse seca e outros sintomas e conseguirá associar a uma coisa a outra”.
“Dado o contexto em que vivemos, é natural que exista preocupação, que se sinta algum receio de que seja algo que não pareça natural”, reconhece António Morais. Mas é verdade também que “qualquer sintoma respiratório vai desencadear sempre algum alerta quer por parte do médico, quer às pessoas em geral”.
Uma vez identificada a tosse como reação alérgica, é tempo de – vinca António Morais – a pessoa “fazer o tratamento habitual com os anti-histamínicos”. “Agora, se tiver uma situação de tosse, com febres e mialgias e num quadro clínico com o que se parece com uma gripe, aí a probabilidade de ser uma infeção por Coronavírus é muito alta”, distingue.
Fumadores em risco
Sem mistérios, o tabaco em nada contribuiu no quadro atual em que se vive. “Existe um estudo de observação em que, aparentemente, os doentes fumadores apresentam um pior prognóstico no quadro de SARS-CoV-2”, lembra António Morais.
“Os fumadores” – prossegue – “têm maior risco de terem qualquer infeção porque, ao fumarem, estão a deprimir a sua reação imunológica”.
Até ao momento, os dados relativos ao número de fumadores infetados por Coronavírus ainda não são conhecidos.