A célebre marca de botas pretas com ilhós e pespontos amarelos e celebrizadas no movimento punk têm estado discretamente de regresso às tendências, mas agora estarão com os dois pés na Bolsa de Londres.
A imprensa económica avança que esta será uma das primeiras grandes Ofertas Públicas de Aquisição (OPA) de 2021 levada a cabo pela empresa de investimento detentora da marca, Permira, e que deverá ter lugar ainda esta semana. Um negócio que pode chegar aos dois biliões de libras (2,2 mil milhões de euros), segundo fontes da empresa aos media económicos britânicos.
Com mais de 11 milhões de pares de sapatos vendidos todos os anos, com presença física em 130 lojas da marca em mais de 60 países, a pandemia e o recolhimento em casa não parecem ter travado a procura.
A companhia revela, segundo citado pela agência noticiosa Reuters, que tinham sido realizadas vendas no valor de 672 mil libras (perto de 700 mil euros) até março de 2020. Indicou ainda que a Dr. Martens vendeu 700 mil pares de botas a mais nos últimos seis meses do ano (representando um aumento de 14% face a período homólogo).
Números obtidos numa altura que ficou marcada pelo encerramento de lojas físicas e por um crescimento da procura online, que disparou 74%. É, aliás, por aqui que a Permira e todos os indicadores económicos dizem ser o caminho: a loja online espera ser “o principal motor do crescimento nos próximos anos”, tendo sido responsável por 1/5 das vendas totais em 2020. “A operação digital da marca ajudou durante a pandemia, apesar da maioria de suas lojas ter sido fechada por meses a fio durante os sucessivos bloqueios”, afirmou o diretor executivo da fabricante de botas, Kenny Wilson.
Recorde-se que a empresa foi comprada em 2013 pelo grupo de private equity Permira, num negócio a rondar os 300 milhões de libras (332 milhões de euros). Perto de oito anos depois, a companhia de investimento está a vender a sua participação como parte da OPA.
Do punk ao Papa
Nascida imediatamente após a Segunda Guerra Mundial, pela mão do médico alemão Klaus Märtens, a bota pretendia ajudar a aliviar as dores nas costas, tendo na estrutura da sola uma almofada de ar.
Os primeiros modelos postos à venda em Munique, usavam pele reciclada e borracha não usada que saiu das estruturas desmanteladas força aérea alemã nazi, a Luftwaffe, logo no pós-segunda guerra.
O modelo chegou ao Reino Unido nos anos 60 do século passado, trazido pela família Griggs, que adquiriu a licença para as agora incontornáveis botas 1460, de oito ilhós. Foi a pensar no design robusto como calçado ideal para o trabalho que as peças começaram a pisar solo britânico. Mas rapidamente ganhariam renovado significado.
Menos de uma década depois, as Dr Martens entravam pela cultura rebelde juvenil e por via da música, importando as referências da classe trabalhadora em protesto para as mensagens de revolução. The Who, The Clash, The Specials e The Stranglers inspiraram os fãs a usá-las.
Na moda feminina, credita-se a Viv Albertine, a guitarrista da banda punk britânica Slits, o uso deste calçado com um vestido, pela primeira vez. Estava-se, então, no fim da década de 70, inícios de 80. Mais tarde, Elton John também não resistiu e acabou por importar o símbolo para a cultura pop.
Entre as personalidades que têm escolhido este calçado estão Madonna, Dalai Lama, os cantores Sid Vicious, Pete Townsend, Morrissey, Sinead O’Connor, Kurt Cobain e também o Papa. Diz-se que João Paulo II terá encomendado cem pares no tom branco.