Sabe porque é que ‘sus niños must learn línguas, uber alles‘? Não, não estamos a falar chinês consigo! Aprender idiomas é a garantia de melhor sobrevivência no mundo moderno e o povo também sabe – diz o ditado – que “burro velho não aprende línguas”.
Por isso, apostar na formação idiomática dos seus filhos, desde tenra idade, pode ser uma das opções mais certeiras que pode vir a fazer no que diz respeito ao futuro profissional deles. Especialistas dizem que quanto mais cedo as crianças tomam contacto com a aprendizagem de línguas, mas facilmente as apreendem.
Agora que a escola recomeçou, e com ela as atividades extracurriculares, é tempo de ajudar o seu filho a eleger um curso de língua estrangeira, consoante a idade e interesses.
Aprender línguas e superar dificuldades
Ana Calapez, Diretora Pedagógica da United School – Instituto de Línguas, afirma que, ao longo dos anos, a língua mais procurada pelos alunos da sua escola foi mesmo o inglês. “É um pouco consoante as modas ou a necessidade económica de cada país; tivemos o espanhol a dado momento com muita procura, entretanto nos últimos anos tem-se notado mais procura pelo alemão. Depois, o francês é uma língua que também lecionamos, mas com menos frequência. No presente, o inglês e alemão são, sem dúvida, as mais populares.”
“Quando falamos de crianças, a parte oral é mesmo a mais fácil. Adoram falar e mostrar o que sabem. Para os mais pequenos, o mais difícil será a parte escrita e a parte teórica da língua, porque se aborrecem, não querem fazer os TPC’s, nem estudar… Tudo o que é mais lúdico e prático é o mais divertido para eles, e há que saber adaptar as aulas consoante a idade dos alunos”, explica Ana.
Mariana Torres, a responsável nacional da Helen Doron Portugal, cujo ensino de inglês aos mais pequenos assenta num método lúdico, nos princípios da repetição passiva e do reforço positivo, acrescenta que “a principal dificuldade de aprendizagem de uma segunda língua reside, normalmente, na idade tardia com que se inicia o processo. Está cientificamente provado que até aos quatro anos o cérebro humano desenvolve capacidades únicas de absorção, pelo que quanto mais cedo se iniciar a exposição a uma segunda língua, maior a facilidade e naturalidade na sua aquisição.”
O apoio que se traduz em motivação
Os pais podem e devem acompanhar o estudo dos filhos em casa, motivando o interesse e a aprendizagem. “Para além das aulas presenciais nos nossos centros de ensino ou parceiros, as crianças ouvem e visualizam as nossas canções e episódios em casa, garantindo a participação familiar no método de aprendizagem e a constante exposição à língua inglesa”, explica Mariana Torres.
Ana Calapez corrobora, afirmando que “As crianças devem ter um contacto com a língua em casa. Por vezes os pais não sabem falar o que os filhos estão a aprender, ou sabem pouco, então têm medo de questionar a matéria. E, aí, o importante é sentirem que os pais estão interessados e conseguirem transmitir-lhes o que aprenderam em aula – mesmo que os pais não saibam, eles até gostam, porque se sentem os professores dos pais!”
O que pode ser feito em casa…
“Os pais devem, com os filhos, ver programas na língua que eles estão a aprender, filmes animados que não sejam dobrados, para que vejam a ligação entre a aprendizagem da língua no instituto e a aplicação da língua na vida real, e perceberem a necessidade e a importância que ela tem.” Ana Calapez considera que a aprendizagem de um idioma deve começar o mais cedo possível. “Há 20 anos que sou professora e acho que desde que nascem podem começar a aprender uma língua nova. Os pais podem introduzir logo palavras, dizer a mesma coisa numa língua e na outra. Quanto mais cedo for feito o contacto com outra língua, mais fácil e mais natural será a progressão”, refere. É preciso anular o receio de que podem estar a comprometer a aprendizagem e consolidação da língua materna e, sem medo, desafiar os mais pequenos.
Ana Calapez conta que, no instituto que dirige, tem aulas a partir dos 3 meses, com os pais presentes. “É importante que até aos 3 anos os pais estejam muito envolvidos na aquisição da língua. A partir daí, as crianças são mais autónomas, já não precisam tanto da segurança da presença dos pais”, explica. A responsável acrescenta: “Estudos apontam que crianças que aprendem mais do que uma língua estrangeira são cognitivamente mais avançadas em diversas áreas – matemática, ciências – porque o cérebro está mais desenvolvido.”
Mariana Torres confirma que “os pais podem estimular o gosto pelas línguas em casa, falando com as crianças de forma bilingue, visualizando ou ouvindo canções na língua estrangeira e até adquirindo brinquedos com sons e palavras em inglês. A oferta é enorme e está disponível a preços acessíveis.” Realça que a aprendizagem deve iniciar-se o mais cedo possível. “Entre os três meses e os dois anos de idade. É sem dúvida a fase em que as ligações cerebrais estão mais ativas e recetivas, pelo que existe uma enorme facilidade de absorção e aquisição de linguagem, sons, fonética e pronúncia. As crianças tornam-se bilingues com facilidade, o que abre portas e oportunidades futuras inquestionáveis, tratando-se o inglês da língua universal por excelência.”
E as línguas do futuro são…
Mariana Torres crê que, no futuro, o mandarim será uma grande ferramenta de trabalho, logo a seguir ao inglês. Ana Calapez concorda. “O inglês, a meu ver, será sempre a língua essencial, quase equivalente à língua materna de qualquer criança. É importante para a mobilidade – quase tudo é em inglês – e até mesmo em Portugal já muitas expressões são adotadas do inglês. No futuro acredito que o mandarim ganhe muito protagonismo. Depois, talvez o alemão e o francês, que têm algum destaque.”
Mas – muito importante -, há que valorizar o interesse das crianças em primeiro lugar. “Os pais devem deixar que contactem com as línguas que pensam ser mais importantes e, aí, deixá-los decidir qual gostam mais. A motivação é fulcral. Impor a aprendizagem de uma língua que a criança não quer, nem acha interessante é contraproducente”, explica Ana Calapez.
Ser bilingue é inevitável
Ana Calapez acredita que o bi (ou tri) linguismo é inevitável. “Por razões económicas e pela globalização. Vai acabar por haver uma língua única que a maioria da população fala, para poder comunicar e conectar-se com o resto do mundo. Muito provavelmente será o inglês, mas nunca se sabe. Presentemente os pais estão bem informados sobre a importância que uma segunda língua tem na vida dos filhos, tanto a nível pessoal como profissional.”
Mariana Torres considera que “no caso português, somos um país pequeno, cuja língua, apesar de muito rica, é falada e compreendida por um universo pequeno de pessoas. Assim sendo, a aposta precoce no bilinguismo é fundamental para o sucesso e oportunidades das novas gerações.”
Carmen Saraiva
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