Nesta nossa lista encontrará os ‘vestidinhos pretos’ da decoração, as peças que ganharam permanência num mundo comercial cada vez mais volátil e rápido, com presenças que por vezes se revezam ao mês. Estes ficaram, parece que para sempre.
A maior parte dos nossos ‘vestidinhos pretos’ nasceram no século XX, durante o último grande período do Moderno, mas existem outros mais antigos e que se vendem hoje como no ano em que pela primeira vez foram debutados ao público.
E vivem sempre bem uns com os outros, apesar dos séculos que os podem separar. A razão para tal afigura-se-nos ser uma espécie de as coisas boas não se aborrecem umas às outras. Se a decoração não lhe diz nada, mas quer apesar isso ter uma casa sem erros, use estes, não tem por onde se espalhar ao comprido.
Algumas das peças da nossa seleção são velhas de séculos, uma delas de milénios mesmo; o banco dobrável de pernas em X já anda por cá desde o Reino Médio do Antigo Egito, de entre 2.000 a 1630 A.C., e nunca abandonou as casas das pessoas. A razão deste sucesso é uma das cimeiras que estrutura um clássico: a funcionalidade. O banco em X é básico na sua construção, cumpre perfeitamente a sua função e por ser dobrável guarda-se atrás de uma porta ou encostado à parede. Praticamente todas as civilizações ‘inventaram’ um, moldando-o ao gosto da nação, da época e da necessidade.
A outra antiguidade de sucesso entra na nossa lista pelo segundo motivo que faz de uma peça um clássico: a beleza. Os lustres, em estrangeiro chandeliers, estão documentados desde o século XIV, mas nesta altura eram apenas braços de madeira mais ou menos trabalhados para colocar velas suspensas ao teto. As coisas começaram a ter realmente graça a partir do início do século XVIII, quando a região de Veneza e a Boémia começaram a disputar o pódio de melhor produtor de vidro e de cristal artístico. Desde essa altura os lustres, mais que para iluminar, serviram, e servem, para providenciar um pequeno espetáculo suspenso onde a luz se vê refletida, colorida e multiplicada. É uma peça de fausto, que declara automaticamente o estatuto social do dono, e aqui entra a terceira condição para se ser objeto clássico: se para além de um lustre, o dono tiver uma galeria em talha dourada com uma longa fila deles, talvez se chame Luís e seja Rei de França: faz parte de se ser humano esfregar na cara dos outros que se é mais. E a decoração desde sempre serviu esse propósito também.
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O génio de um artista, passado para o prosaico caráter utilitário, é outro fator para o sucesso de uma peça decorativa ou de mobiliário. Papéis de parede e tecidos são assim usados como grandes telas, onde especialmente a partir do movimento Arts and Crafts nomes como William Morris começaram a incluir nas suas obras o caráter repetitivo, o rapport, para que o desenho artístico se torne contínuo e assim, mais comercial.
O sucesso dos restantes items da nossa lista são uma suma, com predominância de uma ou de outra, das parcelas anteriores. São peças nascidas nos meados do século XX, na crista furiosa do design, quando os desenhadores descobriam novos materiais e meios de produção para concretizar o que há muito desejavam. Os designers de 40, 50 e 60 foram uma espécie de Júlio Vernes a quem fossem oferecidos submarinos ou foguetões.
Ao mesmo tempo há uma espécie de situação instituída de que são estas, as do meio do século, e não outras, as melhores peças de design. Filmes e séries de tv têm aqui muita responsabilidade, e funcionam como uma espécie de escola inata para as cabeças dos espetadores/consumidores de decoração. Mas não só; existe uma espécie de mística que rodeia as peças de entre 1920 – 1960, e os seus designers, fazendo daquela uma época áurea, a última que viu nascer neste campo alguma coisa verdadeiramente nova. De lá para cá, tudo que se faz ou é inspirado no passado, e talvez seja bom, ou é apenas medíocre ou mau.
Os preços podem parecer altos, pode sempre comprar a cópia; nós, por respeito para com o autor e com a história, procurámos as marcas que mais fielmente produzem os desenhos originais. É como tudo, já sabe que com menos um dígito no preço em poucos anos a cadeira gingará e o candeeiro provocará curto-circuitos. O produtor que detém a patente, caríssima porque a melhor, tem que a pagar.