Falta de mulheres “é uma realidade que reconhecemos”, mas não é preconceito, diz diretor internacional Guia Michelin

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[Fotgografia: Pexels/Eric Mufasa]

Rita Magro destacou-se entre as estrelas masculinas e foi eleita jovem chef. Com ela, houve outras mulheres eleitas nas categorias restaurantes recomendados (seis em 21) e relação qualidade/preço (duas em oito), mas longe da grande constelação estelar do Guia Michelin, que pela primeira vez criou um manual exclusivo para o país. Uma noite em que, nesta matéria, volta a marcar pela ausência de mulheres premiadas, com destaque para a chef Marlene Vieira.

O diretor internacional do Guia Michelin defendeu hoje que a presença de mulheres na gastronomia deve ser incentivada, sem que seja encarada como “um preconceito”, e destacou que há cada vez mais protagonistas femininas no setor. “[A falta de mulheres] é definitivamente uma realidade que reconhecemos plenamente, mas nem pensar que o guia vai distorcer as classificações para distinguir mulheres”, disse à Lusa Gwendal Poullennec, em Albufeira, onde decorreu na terça-feira à noite a gala de apresentação do Guia Michelin 2024 para Portugal.

O responsável mundial da publicação salientou que “há muitas mulheres, mesmo de nível três estrelas, a serem galardoadas com o prémio Michelin, o que não se deve ao facto de serem mulheres, mas sim ao seu talento”. “Claro que precisamos de incentivar, mas não façamos disso um preconceito, porque o importante é pôr em evidência o talento e a capacidade de o conseguir”, considerou.

Durante a cerimónia, e quando ainda não se conheciam os resultados, o ministro da Economia, António Costa Silva, disse que gostaria muito de ver uma mulher a ser distinguida com uma estrela Michelin, o que não aconteceu.

Na edição de 2024, há uma nova distinção de duas estrelas, no restaurante Antiqvvm (chef Vítor Matos, Porto) e quatro novas primeiras estrelas para os restaurantes 2Monkeys (Vítor Matos e Francisco Quintas, Lisboa); Desarma (Octávio Freitas, Funchal); Ó Balcão (Rodrigo Castelo, Santarém) e Sála (João Sá, Lisboa).

“Há cada vez mais mulheres a entrar no setor, nem sempre ainda na posição de chef ou de proprietária, mas está a acontecer e vai mudar”, comentou Poullennec. O diretor internacional referiu-se também à falta de pessoal para trabalhar nos restaurantes, um problema que, disse, afeta o setor em toda a Europa.

“Somos apenas uma parte do processo, mas o que fazemos é aumentar a sensibilização sobre a indústria – não é só sobre os chefes de cozinha, mas toda a equipa”, disse, recordando que o guia atribui prémios aos chefes de sala e escanções. O guia, salientou, coloca “o foco no talento das pessoas”.

A ideia é que os jovens se sintam inspirados. “Os jovens estão dispostos a ser reconhecidos. Mas, mais do que isso, querem sentir-se realizados. Não é uma questão de dinheiro. Há muitos restaurantes que estão a abrir e são projetos de vida”, comentou.

LUSA