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Giorgia Meloni: quem é e o que quer para as mulheres, LGBT e migrantes

[Fotografia: Alberto PIZZOLI / AFP]

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O programa de Giorgia Meloni, a candidata da extrema-direita que reivindica o cargo de primeira-ministra de Itália no domingo, 25 de setembro, começa pela família.

Embora tenha já afirmado que não prevê reverter o direito ao aborto, a líder dos Fratelli d’Italia – agora primeira-ministra e numa coligação com Matteo Salvini, do La Liga, e Sílvio Berlusconi, pelo Forza Italia – quer a plena aplicação de 1978. Sem se apresentar contra a IVG, quer que os médicos se possam recusar e quer dar às mulheres outras “soluções” que não o aborto. “Sobre a interrupção voluntária da gravidez, deve-se começar pela prevenção”, lê-se no programa, onde também consta a “proteção da vida humana desde o seu início”. “Estabelecimento de um fundo para ajudar mulheres sozinhas e em dificuldades financeiras a levar a gravidez até o fim. Promoção de espaços dedicados ao recém-nascido com fraldários e zonas de amamentação em todos os edifícios acessíveis ao público. Obrigação de treinar pessoal docente e não docente nas manobras de primeiros socorros e na manobra desobstrutiva de Heimlich. Apoio a pais separados ou divorciados em dificuldades financeiras”, acrescenta o documento.

De entre as medidas de apoio à natalidade, Giorgia Meloni quer “campanhas de comunicação e informação de natureza médica sobre o tema da fertilidade”, baixar os impostos para os produtos de primeira infância como “fraldas, biberões, fórmulas infantis e outros”. Quer unidades camarárias para “assegurar a abertura gratuita de creches até à hora de fecho das lojas e escritórios”, “aumento de vagas em tempo integral na escola primária” e “promoção de creches empresariais, condominiais e familiares”.

No que diz respeito às mulheres, Meloni diz querer, sem detalhar como, “assegurar a todos os cidadãos igualdade de oportunidades para emergir e estabelecer-se no ambiente social e de trabalho, superar o ‘telhado de vidro‘, barreira invisível que impede a afirmação da mulher no mundo do trabalho”. Diz ainda querer por termo ao “odioso imposto rosa, prática de aplicação preços altos de produtos destinados a mulheres”.

Num documento onde “violência doméstica e de género (código vermelho)” surgem mencionados uma vez, Meloni fala em atualização da legislação, na “aplicação autónoma de pulseira eletrónica, independentemente de quaisquer medidas cautelares”. Defende a luta “contra todas as formas de discriminação, promoção e apoio à caminhos de emancipação dos estereótipos culturais que veem as mulheres em condição de subordinação” e quer “aumentar penas para casamentos forçados e mutilação genital feminina”. No capítulo da imigração aborda a “prevenção e combate à violência contra mulheres e menores”.

“Proteção da propriedade privada e despejo imediato de ocupações sem título”, refere o documento, que promete “alocar mais recursos ao Fundo de Garantia para a compra da primeira casa para jovens casais trabalhadores precários. Não a novos impostos na primeira casa e zero impostos nos primeiros 100 mil euros para a compra da primeira casa”.

Ainda este mês, a poucas semanas das eleições, Meloni manifestou-se contra a adoção por casais do mesmo sexo. “Não estou de acordo com os direitos de adoção homossexual. As crianças devem ter o máximo do ponto de vista humano um pai, uma mãe, estabilidade”, afirmou num debate. No programa eleitoral, a candidata fala em “lutar contra qualquer discriminação baseada em escolhas sexuais e relacionamentos sentimentais de pessoas, manutenção da lei sobre uniões civis, reafirmando ao mesmo tempo a proibição das adoções homogenitorais e o combate à qualquer forma de sub-rogação, no supremo interesse do menor”.

Já em várias ocasiões, Meloni falou daquilo que considera serem os “lobbies LGBT”. Em 2019, apresentou-se em Roma, declarando: “Sou Giorgia, sou uma mulher, sou uma mãe, sou cristã.”

A nova primeira-ministra de Itália nasceu em Roma, a 15 de janeiro de 1977, e cresceu no bairro operário de Garbatella com a mãe, e depois de a família ter sido deixada pelo pai. É mãe de uma menina de seis anos.

Ativista política já em adolescente, o seu percurso começou na juventude do Movimento Social Italiano (MSI), formado por apoiantes do ditador fascista Benito Mussolini. Aos 19 anos, na campanha pela Aliança Nacional de extrema-direita, disse à televisão francesa que “Mussolini era um bom político, pois tudo o que fazia, fazia pela Itália”. Recuou ligeiramente tempos depois falando em “erros”, nomeadamente ao nível das leis raciais, autoritarismo e a entrada na Segunda Guerra Mundial ao lado da Alemanha nazi de Adolf Hitler.

Aos 45 aos, é a primeira mulher no cargo, tendo sido antes a mais nova ministra mais nova do pós-guerra, com apenas 31 anos. Em 2008 integrou um executivo de Berlusconi e em 2012 fundou o partido que agora chega à chefia de governo, Fratelli d’Italia.

A perspetiva face à Europa tem vindo a ficar moderada ao longo dos anos, não defendendo a saída de Itália da moeda única. Porém, Roma tem de defender os interesses nacionais. Meloni apoiou fortemente as sanções contra a Rússia devidas à guerra na Ucrânia e esteve ao lado do primeiro-ministro húngaro Viktor Orban nas lutas com Bruxelas.

Sobre os fluxos migratórios, a posição de Meloni é dura, com uma das 25 propostas do seu programa a intitular-se “fecho da imigração ilegal e a restituição da segurança aos cidadãos”. “Luta contra a imigração ilegal e gestão ordenada dos fluxos legais. Promover a inclusão social e laboral dos imigrantes legais. Defesa das fronteiras nacionais e europeias conforme exigido pelo Tratado de Schengen e exigido pela UE, com controlo fronteiriço e bloqueio de desembarques para travar, em acordo com as autoridades norte-africanas, o tráfico de seres humanos. Criação de hot spots em territórios não europeus, geridos pela UE, para avaliação dos pedidos de asilo e distribuição justa apenas dos titulares nos 27 países membros (o chamado bloqueio naval)”, lê-se no programa de Meloni.