Guionista americana acusa Nuno Lopes de a “drogar e violar”

AM Lukas Phillip Faraone Getty Images North America AFP
Atriz, guionista e realizadora A M Lukas [Fotografia: Phillip Faraone/ Getty Images North America/ AFP]

A guionista e realizadora Anna Martemucci, conhecida como A.M Lukas, processou o ator português Nuno Lopes, de 45 anos, esta segunda-feira, 20 de novembro, acusando-o de a “drogar e violar” a 28 de abril de 2006, após um evento que terá tido lugar no quadro do festival de cinema norte-americano Tribeca.

Uma ação judicial interposta no tribunal de Nova Iorque e na qual Martemucci, ao longo de 14 páginas, alega que, recém saída da faculdade, estava a participar da festa de estreia de uma amiga quando conheceu Nuno Lopes, ator que atualmente integra a série da Netflix White Lines, e que este lhe terá posteriormente alterado a bebida, que o corpo foi ficando estranhamente pesado, apesar do que bebeu, e que ficou inconsciente, tendo sido levada para o apartamento dele. Na acusação, A.M Lukas refere que se recorda de acordar, de ter sido violada, num ato sexual detalhado em diversos momentos, de ter sido chamado um táxi, tendo-lhe sido alegadamente “dados 30 dólares e o número de telefone”, refere a acusação.

[Fotografia A M Lukas/Imdb]
Confrontada pela Delas.pt com a informação, a assessoria do ator português, Artist Global Management, emitiu um comunicado em que o ator diz ser “moral e eticamente incapaz de cometer os atos” e diz-se de “consciência absolutamente tranquila”.

A.M Lukas, atriz, guionista e realizadora premiada tendo assinado películas como Hollidaysburg, One Cambodian Family Please for My Pleasure, detalha na acusação esse alegado abuso e refere que o momento terá sido confirmado mais tarde em conversa.

Reportando-se às “poucas e horríveis recordações fragmentadas dessa noite e das primeiras horas da manhã”, A.M. Lukas relatou lembrar-se de Nuno Lopes lhe “segurar as pernas moles” e de a violar, detalhando as várias formas como o fez, enquanto ela entrava e saía de estados de consciência.

No processo, a guionista e realizadora assevera que não consentiu a relação sexual com Nuno Lopes e que, no dia seguinte, foi ao hospital para fazer perícias para alegada violação e que apresentou queixa na polícia. A. M. Lukas revela que teve de tomar medicação anti-HIV e que lhe foi posteriormente diagnosticado stress pós-traumático e episódios de pensamentos suicidas, “tudo decorrente da violação de Mr. Lopes”, lê-se na acusação.

A.M. Lukas afirma ter contactado Nuno Lopes a 1 de maio de 2006 e ter pedido para se encontrarem pessoalmente para que a ajudasse a lembrar-se do que se passou e para que ela se sentisse melhor e que ele se pudesse explicar.

Encontraram-se num café no centro da cidade, no qual ela alegadamente lhe disse que acreditava ter sido drogada. “As pessoas fazem isso aqui na América? Eu nunca ouvi falar disso”, terá respondido, segundo a acusação, Nuno Lopes. O ator português ter-lhe-á descrito toda a noite e diz que ela lhe terá pedido para ter relações sexuais.

A realizadora e guionista, que alega que a presença de Nuno Lopes na série da Netflix funcionou como gatilho para recordar este evento traumático, vem agora requerer ao tribunal que aplique uma indemnização por danos patrimoniais e morais, incluindo a “compensação por danos físicos e psicológicos causados”, “juros antecipados e pós-julgamento sobre todos os valores devidos” e outras custas que o tribunal considere adequadas.

A queixa, apresentada 17 anos depois, dá entrada no tribunal a quatro dias do fim do enquadramento legislativo especial de um ano de duração, intitulado The Adult Survivors Act [Lei dos Sobreviventes Adultos, em tradução literal] e que permite às vítimas de alegados crimes sexuais, cujo prazo de apresentação de queixa já expirou, submeterem queixa em tribunal. Este quadro jurídico especial entrou em vigor a 24 de novembro de 2022 e termina a 24 de novembro deste ano.

Segundo os advogados de A.M. Lukas, a guionista sofreu “graves traumas psicológicos e emocionais”, que “tem de suportar até hoje”.

Um dos advogados, Michael Willemin, afirmou, em nome da sociedade que representa (Wigdor LLP), sentir-se “inspirado pela coragem” de A.M. Lukas em responsabilizar Nuno Lopes, assinalando que “a indústria cinematográfica tem repetidamente dado licença a homens como o Sr. Lopes para se envolverem em agressões sexuais sem consequências”.

A.M. Lukas afirmou, por sua vez, que foi dada ao ator português “a oportunidade de assumir a responsabilidade pelos seus atos: de reconhecer o que fez, de responder por isso e de pedir desculpa”.

“Recusou-se imediatamente a fazê-lo e comunicou de forma inequívoca que nunca reconheceria qualquer ato ilícito. Não podemos aceitar um mundo em que os autores de comportamentos hediondos e desumanos possam viver as suas vidas às claras, com impunidade e sem consequências sociais, enquanto as suas vítimas sofrem em silêncio”, acrescentou, sublinhando que não obstante quaisquer tentativas de humilhação e desacreditação que possam ser levadas a cabo pela defesa de Nuno Lopes, não se deixará “dissuadir de fazer justiça”.

[Atualizado às 12 .15 com resposta do ator Nuno Lopes]