Inês Faria: “Não é tão fácil como nos dizem conviver com as outras pessoas”

Inês Faria tem 21 anos e trabalha especialmente no meio digital, com o seu canal no Youtube. É também atriz, tendo-se estreado no mundo televisivo em 2012 e, agora, lança também o seu primeiro livro: ‘Coisas que os teus pais não te disseram’, editado pela Nuvem de Tinta.

Em pouco mais de 100 páginas, a jovem fala sobre temas como o amor, dinheiro, amizades ou menstruação. Sempre com uma linguagem jovem, muitos desenhos e algumas páginas que imitam o próprio instagram, Inês Faria pretende que o seu livro tenha “um impacto positivo” no seu público e que o “ajude a lidar com estes problemas do dia-a-dia e, principalmente, a gerir expectativas“.

Coisas que os teus pais nunca te disseram [DR]
“No meio de todas as coisas que os nossos pais nos dizem, ninguém diria que o que realmente nos tira do sério é o que eles não nos disseram“, podemos ler na contracapa do livro de Inês.

Em entrevista ao Delas.pt, que pode ler abaixo, youtuber admite que nunca teve propriamente o sonho de escrever um livro e que todo este processo foi algo que aconteceu “de forma muito natural”. Se tivesse que escolher três coisas super importantes que os pais não nos dizem, escolheria que “o amor não é um conto de fadas da Disney” e diz que “nunca esperaria que fosse tão difícil crescer”.

Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?

A ideia surgiu a partir de um vídeo meu que eu fiz para o Youtube, o ‘Coisas que os teus pais não te disseram’, e eu, tal como faço nos vídeos que têm muita informação, escrevo [o guião dos] vídeos. Fiz o vídeo, e na altura achei logo que era uma coisa muito gira e fora do que se vê e a verdade é que teve uma grande aceitação por parte do público e eu achei: “Bem, então já que isto teve uma grande aceitação, posso fazer mais vídeos. Sim, mas também era giro fazer mais do que um vídeo”, pensei eu na altura. Até que surgiu a oportunidade de escrever um livro com isto. Ou seja, uma coisa que estava só no digital, consegui passar para uma coisa escrita, que é algo que vai ficar no tempo, é algo que se calhar daqui a uns tempos eu posso mostrar aos meus filhos e dizer-lhes: “Olhem, a mãe escreveu um livro”. A verdade é que no digital nós nunca sabemos até quando é que vai durar ou até quando é que vai ficar disponível. Agora tenho uma coisa escrita que posso mostrar sempre que quiser, em qualquer altura, para sempre. E foi daí que nasceu a ideia de escrever este livro.

Mas sempre teve o sonho de escrever um livro ou foi algo que surgiu naturalmente?

Não vou mentir, claro que todos nós temos aquela ideia de “Bem, se eu um dia escrevesse um livro…” Mas não, isto foi algo que surgiu de forma completamente natural e que acabou por acontecer. Eu até brinco a dizer que me parece um bocado irreal com 21 anos lançar um livro. Nunca escreveria, por exemplo, uma biografia. Porque acho que não sei nada da vida para escrever algo sobre mim, acho que ainda não fiz nada que seja bom para ficar marcado num livro, portanto, foi uma coisa completamente natural.

“Os nossos pais sempre nos venderam aquela coisa de ‘vais ter uma casa, vais ter um carro, vais viajar’, mas não nos disseram que era muito difícil isso tudo acontecer se não houver dinheiro”

Qual é o impacto que esperas que o teu livro tenha na vida do público?

Claro que eu quero que tenha um impacto positivo, acima de tudo, e que o ajude o público a lidar com estes problemas do dia-a-dia e, principalmente, que o ajude a gerir expectativas, que acho que é uma coisa que hoje em dia não é muito bem conseguida. Através do ‘Coisas que os teus pais não te disseram”, sou eu, uma miúda que está muito perto da idade deles, ou às vezes um pouco mais nova ou mais velha, que lhes diz muitas coisas que se calhar eles até já pensaram e que faz com que eles digam: “ok, isto faz sentido, isto é verdade, isto tem graça, isto vai-me ajudar”. E é esse o impacto que eu espero que tenha.

Se tivesses que destacar três coisas realmente importantes e que os nossos pais não nos dizem, qual seriam?

A principal é que o amor não é um conto de fadas da Disney. Que ser mulher não é ser uma princesa, que a mulher tem altos e baixos e que a mulher é um ser super complexo. E a terceira, que é difícil, ou não é tão fácil como nos dizem, conviver com as outras pessoas. Que é um gerir de expectativas constante, que temos de aceitar as ideias dos outros e temos de ouvir, acima de tudo, os outros, para conseguirmos viver de uma forma saudável em sociedade e em grupo.

O que é que as pessoas podem esperar ao abrir o teu livro?

Nós tentámos fazer, na paginação, quase que uma espécie de instastories do Instagram. E para ser uma leitura que seja uma coisa leve e não uma coisa chata, maçuda. Principalmente tendo em conta o público ao qual me destino. Portanto, eu espero que as pessoas abram o livro e que sintam uma enorme vontade de o ler e de sorrir com ele e de, acima de tudo, se identificarem com o que está escrito. Aqui falo exatamente de coisas que acho que todos nós sentimos em alguma parte da nossa vida, por isso, acima de tudo espero que as pessoas se riam e se identifiquem e que pensem sobre o que está escrito e, se calhar, no futuro, escolham ou não dizer aos seus filhos estas coisas.

Qual é o momento mais dramático na vida de uma mulher? Este também é um tópico abordado no livro.

Sem dúvida tudo aquilo que nos põem em cima. A questão da mulher ter de andar de saltos, ter de se maquilhar, ter de tirar os pêlos. Todas essas coisas que, no dia-a-dia, nos põe em cima e porquê? Por que é que um homem só precisa de se levantar, tomar banho e ir para o trabalho? E por que é que nós, para sermos bem aceites, temos que ter estas preocupações todas com o nosso corpo e com o nosso físico?

Quando era adolescente, quais eram as coisas que queria mesmo que os seus pais lhe contassem, mas que acabaram por nunca ser ditas?

Isto pode soar mal, mas foi não terem dito que é preciso dinheiro para fazer as coisas. Os nossos pais sempre nos venderam aquela coisa de “vais ter uma casa, vais ter um carro, vais viajar”, mas não nos disseram que era muito difícil isso tudo acontecer se não houver dinheiro. E o dinheiro, nos dias de hoje, é algo que, por mais que sejamos muito bons naquilo que fazemos ou por mais que nos esforcemos, às vezes não chega. E para tudo o que nos diziam que era bom, que deveríamos fazer, as expectativas que nos puseram em relação ao futuro, principalmente na adolescência ou em jovens adultos, é mesmo preciso dinheiro, muito dinheiro, para que essas coisas aconteçam. Se calhar era giro terem dito isso. Acho que os jovens de hoje sofrem de ataques de ansiedade, ataques de pânico, depressões, porque realmente venderam-nos coisas que como nós vimos agora não são possíveis de concretizar devido ao panorama atual e económico que se vive, quase que vivemos um bocado frustrados.

Na galeria de imagens há mais respostas da Inês Faria, desta vez ao nosso desafio do ‘eu nunca’.

Jogámos ao “eu nunca” com as gémeas da banda Lookalike