Jenni Hermoso: “A minha seleção mudou a forma de olhar para o futebol feminino”

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[Fotografia: Jaime LOPEZ / AFP]

Jenni Hermoso reiterou em tribunal que não só não consentiu que o beijo na boca que recebeu do então presidente da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luís Rubiales, como ainda ouviu algo que ficamos todos agora a conhecer. “Ele diz-me: ‘ganhámos este Mundial graças a mim’. A seguir, só me lembro das mãos dele na minha cabeça e não me lembro de ouvir mais nada”, declarou à procuradora a atleta espanhola que joga no México.

Um dia depois desta revelação, Jenni Hermoso falou pela primeira vez publicamente sobre o caso. Mesmo sem abordar diretamente a polémica do beijo não consentido, são claras as alusões nas entrelinhas. “Tenho a certeza que milhões de meninas no mundo se sentiram identificadas e protegidas por este grupo de valentes e honradas jogadoras que, em cada passo que deram, pensaram sempre no futuro de todas elas. Passaram muitas coisas desde então, sacrificámos algumas alegrias e celebrações e sem o merecer, sofremos além da conta num momento histórico para nós”, afirmou a internacional no momento de homenagem feita no México. E acrescentou: “Tenho claro que temos uma responsabilidade enorme para com as novas gerações. A todas as pessoas que não tem voz para se fazerem ouvir, quero dizer-lhes que esta é uma luta de todos. Ganhámos em campo e fora dele para garantirmos um desporto e uma sociedade inclusiva capaz de nos proteger a todos. E a todo o mundo quero dizer que acabou! Sou a Jenni Hermoso, sou jogadora de futebol e sou essa menina que conseguiu ser campeã do mundo.”

Para Jenni, a vitória não deve apenas trazer “um troféu que fica nas vitrinas, receber uma compensação e aparecer nas primeiras páginas que ficam depois esquecidas com o tempo”, deve ir mais além. “Fomos campeãs do mundo porque era a única forma que tínhamos de ser ouvidas, respeitadas e valorizadas. A minha seleção mudou a forma de muita gente olhar para o futebol feminino”, considerou a jogadora do Pachuca.

Olhando para trás e recordando a noite da conquista do Mundial Feminino de Futebol, a 20 de agosto de 2023, na Austrália, Jenni fala do momento em que levantou a Taça do Mundo ao lado das companheiras. “Senti as mãos do meu pai quando me levava aos treinos, o sorriso da minha mãe ao ver-me jogar e a alegria de toda a minha família que partilhou o sonho de uma pequena futebolista que queria ser campeã mundial. Joguei futebol toda a minha vida. Tenho 33 anos, mas em Sidney, voltei a ser uma criança outra vez. Ainda que tenha passado pouco tempo, continuo a perguntar-me o que foi que fizemos nessa noite. Ganhámos um título, demos a volta ao mundo e tornámo-nos numa das melhores equipas da história. Mas no fundo, conseguimos algo mais”, declarou.