
Os mais recentes números do Observatório de Mulheres Assassinadas revelam um flagelo crescente: 21 mulheres mortas em contextos de violência doméstica ou relações de intimidade, desde o início de 2018, e um aumento da violência e do sofrimento com que são mortas.
Até quarta-feira, dia 12 de setembro, a União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), através do seu Observatório de Mulheres Assassinadas, tinha contabilizado já 21 mulheres assassinadas por ex, atuais companheiros ou familiares muito próximos – o mesmo número de vítimas do mesmo tipo crimes, no ano inteiro de 2017.
Em declarações à agência Lusa, Elisabete Brasil, da UMAR, apontou que, ao contrário do que se tem verificado com o homicídio, em que tem havido uma tendência decrescente, os números de femicídio têm-se mantido constantes.
“Este ano está novamente a contrariar, segue as tendências da última década e voltamos a um contraciclo. Ainda é cedo para falarmos do número total, mas já temos confirmadas 21 mulheres e isso é brutal tendo em conta que estamos em setembro e já temos o mesmo nível de mortes do ano passado”, revelou a responsável.
No seu relatório intercalar, a UMAR tinha já contado 16 mulheres mortas entre 01 de janeiro e 30 de junho, número que aumentou já para 21, havendo ainda sete casos por confirmar se são ou não femicídios.
“Pela primeira vez nestes 15 anos, surge o tiro esporádico e as outras formas, que são muito brutais, que agride, espanca, tortura, é de uma agressividade e brutalidade”, refere Elisabete Brasil
No entanto, a análise dos casos que já são conhecidos permite à UMAR perceber que está a aumentar o nível de violência e o sofrimento que é infligido às vítimas nos momentos antes da morte.
Ao contrário do que se tem verificado com o homicídio, em que tem havido uma tendência decrescente, os números de femicídio têm-se mantido constantes.
Segundo Elisabete Brasil, os detalhes dos crimes veiculados nos media, permitem concluir que este ano os autores dos crimes têm preterido a arma de fogo, utilizando métodos mais cruéis.
“Este ano foi o primeiro ano que em só houve arma de fogo numa situação e as outras são todas por esfaqueamento, asfixia. Pela primeira vez nestes 15 anos, surge o tiro esporádico e as outras formas, que são muito brutais, que agride, espanca, tortura, é de uma agressividade e brutalidade”, referiu.
Para responsável da UMAR estes dados levam-na a afirmar que se tratam, sem “dúvida nenhuma”, de crimes de ódio, em que os agressores “queriam aquela morte e queriam que até na morte a pessoa percebesse e sofresse o máximo”. “É uma coisa completamente destruidora”, concluiu.
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