Jornalista que investigava ‘Panama Papers’ assassinada

Daphne Caruana Galizia
[Fotografia: Reuters]

A jornalista de nacionalidade maltesa Daphne Caruana Galizia, que liderava a investigação dos Panama Papers em Malta e que esteve na origem de acusações de corrupção que provocaram eleições antecipadas em junho, foi morta esta segunda-feira, num atentado à bomba que foi colocada debaixo do seu carro, segundo indicaram as autoridades policiais e políticas.

Em conferência de imprensa, Joseph Muscat, primeiro-ministro maltês, classificou o assassinato como uma ato de “barbárie” e ordenou às forças da ordem que concentrassem todos os esforços na investigação do caso. “O que se passou hoje é inaceitável a vários níveis. Hoje é um dia negro para a nossa democracia e a nossa liberdade de expressão“, declarou Muscat. “Não pararei enquanto a justiça não for feita”, prometeu, apelando à união dos malteses.

Daphne Galizia tinha acabado de sair de casa, na cidade de Mosta, Malta, e começado a conduzir o seu carro, quando ocorreu uma explosão que projetou a viatura por cima de um muro para um campo vizinho.

Primeiro-ministro era um dos visados da investigação

Daphne Galizia, de 53 anos, trabalhou como cronista em diversos meios de comunicação malteses, porém foram as denúncias de vários líderes políticos, que expunha no seu blogue, que a tornaram conhecida. Uma das suas mais recentes investigações visava Muscat e dois dos seus assessores, acusando-os de corrupção.

No início do passado mês de junho, o primeiro-ministro de Malta obteve uma vitória nas eleições legislativas antecipadas, convocadas após a divulgação dos escândalos que implicavam os seus colaboradores. Galizia teve um papel central na investigação e divulgação desses factos. Também Michelle Muscat, a esposa do político, foi acusada de ter aberto uma conta no Panamá, para aí colocar, entre outras, subornos pagos pelo governo do Azerbaijão, em troca da autorização dada a um banco azeri para operar em Malta.

Na altura, Joseph Muscat reagiu às acusações afirmando ser “a maior mentira da história política maltesa”, prometendo demitir-se se os factos fossem provados por um inquérito que ele próprio exigiu. Contudo, não aplicou este princípio a Konrad Mizz, o seu ministro da Energia, e a Keith Schembri, o seu chefe de gabinete, que continuam nos cargos, apesar de se ter tornado público que eram titulares de contas no Panamá.

Antigo jornalista, Muscat, de 43 anos, chegou ao poder em 2013 com um programa de centro-esquerda, colocando um fim a um domínio de 15 anos do Partido Conservador.

Durante a legislatura que se iniciou em 2013, manteve a economia em ascensão, o que lhe permitiu a reeleição. A legalização do casamento entre homossexuais, em julho, neste país muito católico, com 430 mil habitantes, onde o divórcio só foi autorizado em 2011, é um dos marcos do seu Governo.

Daphne Caruana Galizia
Daphne Caruana Galizia. [Fotografia: Reuters]

Ativista até ao fim

O último texto do blogue, publicado uma hora antes do seu assassinato, Daphne Caruana Galizia reforçou as acusações contra Keith Schembri, qualificando-o de “escroque” que utiliza a sua influência no governo para enriquecer. “Há escroques para onde quer que se olhe. A situação é desesperada”, concluiu a jornalista.

É de recordar que, recentemente, a revista Politico incluiu Caruana Galizia entre as “28 personalidades que fazem mexer a Europa”, descrevendo-a como “um WikiLeaks inteiro numa só mulher, em cruzada contra a falta de transparência e a corrupção em Malta”.

 

A jornalista com um sorriso nos lábios que o Estado Islâmico executou